Prestes a retornar à Casa Branca, Donald Trump tem feito declarações polêmicas sobre a possibilidade de tomar o poder da Groenlândia à força. Apesar de estar geograficamente associada ao continente americano, a maior ilha do mundo é politicamente uma região autônoma pertencente ao Reino da Dinamarca.
Ou seja, a Groenlândia não é um país independente, e a pequena população de 56 mil habitantes é considerada europeia.
Por que a Groenlândia pertence à Dinamarca?
A Groenlândia não faz fronteira com a Dinamarca, mas, por uma questão histórica, pertence ao país.
A conexão entre a Groenlândia e a Dinamarca começou oficialmente no século XVIII, quando a Dinamarca colonizou a ilha. No entanto, antes disso, a Groenlândia já havia sido habitada por inuítes (indígenas que vivem nas regiões árticas) e, temporariamente, pelos vikings, que chegaram à ilha por volta do ano 982 sob a liderança de Erik, o Vermelho.
Em 1721, o missionário norueguês Hans Egede liderou uma expedição para restabelecer laços entre a Groenlândia e os reinos escandinavos. Isso resultou na colonização formal da ilha, com a Dinamarca assumindo o controle administrativo após a união entre o país e a Noruega.
Em 1814, com o Tratado de Kiel, a Noruega foi separada da Dinamarca, mas esta manteve o controle sobre a Groenlândia. Em 1953, a ilha foi oficialmente incorporada ao Reino da Dinamarca como uma província.
Groenlândia é da Dinamarca, mas é autônoma
Em 1979, a Groenlândia conquistou o status de autogoverno, ganhando maior controle sobre questões internas, como educação, saúde e legislação local. Em 2009, o autogoverno foi ampliado, permitindo que a ilha assumisse maior responsabilidade sobre seus recursos naturais e sua economia.
Apesar dessa autonomia, a Dinamarca ainda é responsável por questões relacionadas à política externa e à defesa da Groenlândia. Além disso, a ilha depende de subsídios financeiros significativos da Dinamarca para sustentar sua economia.
A relação entre a Groenlândia e a Dinamarca também é marcada por laços culturais e políticos. Embora a população da ilha seja majoritariamente composta por inuítes, há uma presença significativa de dinamarqueses que vivem e trabalham na região. A influência dinamarquesa é evidente na educação, na saúde e no uso do dinamarquês como uma das línguas oficiais da Groenlândia.
Por que Trump quer tanto a Groenlândia?
A Groenlândia é estratégica devido à sua localização no Ártico e às riquezas minerais que despertam o interesse de potências globais. Essa importância tem aumentado devido às mudanças climáticas, que facilitam o acesso a recursos como petróleo, gás e minerais raros.
O Ártico é uma área disputada entre grandes potências, incluindo os EUA, Rússia e China. A Groenlândia, sendo um território autônomo sob soberania dinamarquesa, ocupa uma posição central nessa disputa. Adquirir a ilha fortaleceria a presença dos EUA no Ártico, limitando a influência de outras nações na região.
Controlar a ilha daria aos EUA uma posição privilegiada para influenciar o comércio e a segurança. Além disso, a Groenlândia abriga a base aérea de Thule, uma instalação militar estratégica dos EUA usada para vigilância e defesa contra mísseis.
Ela também é rica em recursos minerais, incluindo terras raras, petróleo, gás natural e ouro. Com o avanço tecnológico e o derretimento do gelo, a exploração desses recursos se torna mais viável. Os Estados Unidos, interessados em reduzir sua dependência da China para terras raras, poderiam considerar a Groenlândia uma fonte alternativa.
Trump pode comprar a Groenlândia?
Em um de seus discursos, Trump falou sobre a possibilidade de comprar a Groenlândia, mas isso não é possível.
Por ser uma região autônoma, porém dependente da Dinamarca, qualquer decisão sobre a venda da ilha dependeria não apenas do governo dinamarquês, mas também da população da Groenlândia, que tem autonomia para decidir seu futuro político.
De acordo com o direito internacional, um território não pode ser "vendido" sem o consentimento da população local. Os groenlandeses têm o direito à autodeterminação, o que significa que qualquer decisão envolvendo o status político da ilha precisaria de sua aprovação por meio de um referendo ou outro processo democrático.