
Ao fim do encontro Trump-Netanyahu, todos os jornais israelenses puseram no ar a notícia de que os Estados Unidos estão conversando com líderes iranianos, diretamente, sobre um acordo nuclear. Com uma advertência: “Se falhar, o Irã estará em grande perigo. ”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu viajou da Hungria para os EUA, de repente, no domingo, convocado pelo presidente Donald Trump. Dizia à imprensa que a inesperada reunião estaria focada no tarifaço que atingiu os exportadores israelenses em 17%. Muito estranho: nenhum outro parceiro dos EUA, mais sobretaxado que Israel, foi convidado...
O mistério da agenda da reunião cresceu quando o primeiro encontro com os repórteres, no Salão Oval da Casa Branca, com os dois líderes, foi suspenso. Ficou só a entrevista coletiva ao final. Da última vez que recebeu Netanyahu, o presidente Trump lançou seu plano para Gaza, batizado de Riviera do Oriente Médio, considerado um estrupício pela unanimidade do mundo árabe.
Agora, ao que tudo indica, Trump pediu a Netanyahu que desse sua importante bênção às negociações diretas com o Irã – ele que repete o mantra de bombardear as usinas atômicas iranianas. A próxima reunião dos EUA e Irã está marcada para o próximo sábado.
“Aconteça o que acontecer, temos de garantir que o Irã não obtenha armas nucleares”, reagiu Netanyahu. “Se isso puder ser feito diplomaticamente, de forma plena, como foi feito com a Líbia, será uma coisa boa. ” E, dirigindo-se a Trump, completou: “Nós dois estamos unidos no mesmo objetivo: o Irã não pode ter armas nucleares”.
Abençoada a tentativa de um acordo que os EUA romperam, em 2015, unilateralmente, na primeira administração Trump, Netanyahu foi recompensado ao ser destacado como “um grande líder” que está trabalhando “muito, muito duro para libertar os reféns” ainda em Gaza. Não é, porém, a opinião dos israelenses, que acham seu primeiro-ministro mais interessado em prosseguir a guerra contra o Hamas, que lhe garante o apoio da extrema-direita israelense, para não ser derrubado, do que acabar com o calvário dos reféns.
Enquanto a reunião na Casa Branca acontecia, o Egito apresentava, no Oriente Médio, uma proposta de libertação de oito reféns por um cessar-fogo de 40 a 70 dias. O Hamas oferecia, antes, libertar cinco reféns, mas Israel exigia 11. A proposta egípcia aposta num meio-termo. Outra dificuldade é que Netanyahu quer o fim do Hamas, mas seus líderes não parecem inclinados ao suicídio. Se se rendem, entregando suas armas, poderão partir para o exílio com um salvo-conduto israelense. Os reféns são, ao todo, 35, dos quais 24 podem ser devolvidos vivos, e o restante, em caixões.
Trump falou que não entendia por que Israel entregou Gaza em 2005, sob a promessa de paz do Hamas. “Gaza é uma armadilha perigosa, mortal”, ele acrescentou. E Netanyahu completou: “os gazenses estão trancados, sem permissão para sair, enquanto é uma zona de conflito. Mas nós não os trancamos. Não os estamos segurando”. Foi então que surgiu o que, para muitos, pareceu uma revelação, mas que já se tornou uma informação conhecida: alguns países se dispõem a receber o habitante de Gaza disposto a partir. Os países sondados por emissários israelenses são africanos.
No final, o presidente Trump se prontificou a resolver os problemas na Síria entre Netanyahu e o sultão turco Erdogan. Nenhum dos dois quer a presença do outro no território sírio. E começaram uma guerra verbal que ameaçou passar para a linguagem das armas.
“Qualquer problema que você tenha com a Turquia”, disse Trump a Netanyahu, diante de repórteres, “acho que podemos resolver, desde que você seja razoável, você tem que ser razoável”.