O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, exigiu neste sábado (30/11) que os países membros do Brics se comprometam a não criar uma nova moeda ou apoiar outra divisa que substitua o dólar, sob o risco de sofrerem tarifas punitivas de importação de 100% sobre seus produtos.
""A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar enquanto nós ficamos parados observando ACABOU. Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e podem esperar dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA", escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social.
"Eles podem procurar outro 'otário'. Não há nenhuma chance do Brics substituírem o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tentar deve dizer adeus aos Estados Unidos", acrescentou Trump na rede.
Em sua campanha, Trump já havia prometido que puniria países que se afastassem do uso do dólar americano e buscassem se envolver em comércio bilateral com moedas diferentes.
Agora, as declarações de Trump ocorrem pouco mais de um mês após a última cúpula de líderes do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que também passou a incluir este ano o Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.
No encontro de outubro, em Kazan, na Rússia, representantes do Brics discutiram meios de desdolarizar transações e fortalecer outras moedas. Na ocasião, em discurso por videoconferência, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a criação de uma alternativa ao dólar para comércio entre os países do bloco precisava avançar e não poderia mais ser adiada.
"Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, disse Lula.
O Brasil também vai assumir a presidência do bloco a partir de 1° de janeiro de 2025, e, além de avançar na discussão sobre alternativas ao dólar, também deseja ampliar a atuação do banco do Brics, atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
O tema da redução da dependência do dólar também é de interesse de outro membro do Brics: a Rússia, que passou a enfrentar sanções internacionais após iniciar sua guerra de agressão contra a Ucrânia em 2022 e viu sua moeda, o rublo, perder valor frente ao dólar. Na cúpula de Kazan, em outubro, Moscou fez pressão por uma declaração conjunta incentivando o "fortalecimento das redes de correspondentes bancários dentro do Brics e a permissão de liquidações em moedas locais, de acordo com a Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços do Brics".
No final da cúpula, o líder da Rússia, Vladimir Putin, também acusou os EUA de "usar o dólar como arma". "Não somos nós que nos recusamos a usar o dólar", disse Putin no evento. "Mas, se não nos deixam trabalhar, o que podemos fazer? Somos forçados a buscar alternativas."
Putin, também se queixou que pouco progresso havia sido feito para o lançamento de um sistema para oferecer uma alternativa à rede global de mensagens bancárias Swift. Isso permitiria ao Kremlin driblar várias das sanções impostas por países ocidentais.
jps (AFP, Reuters, ots)