TPI investiga crimes de guerra na Ucrânia: Putin pode ser indiciado? Entenda

Tribunal Penal Internacional começou a investigar a responsabilidade de Putin a pedido de quase 40 países

*Catherine Gegout, professora associada em Relações Internacionais da Universidade de Nottingham

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Rússia x Ucrânia: Veja imagens da guerra
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Conjunto de prédios danificados em Mariupol, em 3 de abrilPavel Klimov/Reuters
Membros do Serviço de Emergência coletam munição russa na cidade de Bucha State Emergency Service in Kyiv Oblast via Reuters
Resgatistas retiram corpo de um civil após ataque russo a Irpin, em 1º de abrilGleb Garanich/Reuters
A Rússia acusou a Ucrânia de atacar um depósito de combustíveis em território russo na cidade de BelgorodReuters
Míssil russo deixa mortos e "buraco" em prédio do governo de Mykolaiv, perto de OdessaState Emergency Service of Ukraine via Reuters
Buraco atingiu vários andares no meio do prédio da sede do governo da cidade ucranianaNacho Doce/Reuters
Carro esportivo armado perto de prédio alvejado na administração estadual regional de MykolaivNacho Doce/Reuters
Membro do resgate observa destruição em parte do prédio da administração estadual regional de MykolaivState Emergency Service of Ukraine via Reuters
O governador regional, Vitaly Kim, afirmou que as equipes de resgate procuravam mais vítimas nos escombrosNacho Doce/Reuters
Sophia, 16, que foi separada da mãe, viúva, durante a guerra, abraça o seu irmão Mykhaylo, 8, em abrigo de Lviv, na Ucrânia Zohra Bensemra/Reuters
Voluntários cobrem estátua de Santo André em Kiev com sacos de areia para proteger o monumento de ataques russoVladyslav Musiienko/Reuters
Voluntário distribui comida doada para a população em Mykolaiv, no sul da UcrâniaNacho Doce/Reuters
Um mulher de Kharkiv reencontra amigas de Chernihiv após fuga para a RomêniaClodagh Kilcoyne/Reuters
Shopping na região de Kiev destruído após ataque russoMarko Djuricá/Reuters
Homem carrega cachorro pouco tempo após ataque russo que atingiu shopping center em KievSerhii Nuzhnenko/Reuters
A tenente Tetiana Chornovol, ex-deputada e que opera o sistema antitanque manuseia lançador que transportou seu carro em KievGleb Garanich/Reuters
Homem anda por área residencial de Kiev destruída em bombardeio russoMarko Djurica/Reuters
Membro das forças ucranianas checa a artilharia em sua base em KievGleb Garanich/Reuters
Mãe de Ivan Skrypnyk, major morto no ataque russo à base militar de Yavoriv, durante funeral em 17 de marçoPavlo Palamarchuk/Reuters
Pedaço de concreto sobre cama de apartamento residencial destruído em Kiev, em 17 de marçoThomas Peter/REUTERS
Escola é destruída durante bombardeio em Kharkiv, na UcrâniaOleksandr Lapshyn/Reuters
Voluntários brincam com crianças refugiadas da Ucrânia na PolôniaFabrizio Bensch/Reuters
Soldado ferido no ataque à base militar de Yavoriv em hospital local, em 13 de marçoKai Pfaffenbach/REUTERS
Região da base militar de Yavoriv após ataque aéreo russo, que deixou mais de 30 mortos em 13 de março@BackAndAlive/via Reuters
Bombeiros atuam em escombros de prédio atingido por mísseis em Kharkiv, em 14 de marçoVitalii Hnidyi/Reuters
Bombeiros de Kiev atuam para apagar incêndio em prédio residencial atingido por ataque russo, em 15 de marçoMarko Djurica/Reuters
Jornalista americano ferido em ataque em Irpin sendo atentido. Nessa ação, morreu o videodocumentarista Brent Renaud, em 12 de marçoReuters
Capelão militar abençoa soldado antes de ir para frente de batalha na região de Kiev, em 13 de marçoThomas Peter/Reuters
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky faz selfie com um soldado ferido em um hospital de Kiev, em 13 de marçoUkrainian Presidential Press Service via Reuters
Cratera em centro cultural atingido por explosivo em Byshiv, próxima à Kiev, em 12 de marçoThomas Peter/Reuters
Tanque destruído em área residencial de Volnovakha, na região separatista de Donetsk, em 12 de marçoAlexander Ermochenko/Reuters
Escombros de uma fabrica de sapatos após ataque russo em Dnipro, em 12 de marçoMykola Synelnikov/Reuters
Estádio Iuri Gagarin, em Chernihiv, danificado após ser alvo de explosivosFC Desna/Facebook/Divulgação
Estádio Iuri Gagarin, em Chernihiv, danificado após ser alvo de explosivosFC Desna/Facebook/Divulgação
Refugiados ucranianos atravessam a fronteira com a Romênia por balsaStoyan Nenov/Reuters
Civis que se voluntariaram para entrar para a Força de Defesa Territorial treinam com armas em Odessa, na UcrâniaAlexandros Avramidis/Reuters
Crianças dormem em centro esportivo convertido em centro de refugiados na PolôniaPiotr Skornicki/Agencja Wyborcza.pl via REUTERS
Monumento do Duque de Richelieu, fundador da cidade ucraniana de Odessa, foi quase todo coberto com sacos de areia para proteção contra ataques russosAlexandros Avramidis/Reuters
Homem carrega cachorro na fuga de Irpin, próxima a Kiev, em 9 de marçoMaksim Levin/REUTERS
Destruição em Sumy, uma das cidades mais atingidas pelos ataques e que tem corredor humanitário para fugaAndrey Mozgovoy/Reuters
Em Odessa, Esyea (6 anos) se despede da mãe em ônibus com refugiados. Ela está no colo da irmãAlexandros Avramidis/REUTERS
Em Irpin, policial se despede do filho, que fugiu com o resto da família por conta dos ataques russosThomas Peter/Reuters
Moradores de Irpin atravessam ponte danificada por bombardeio, em 7 de março. A cidade perto de Kiev é alvo de intensos ataquesCarlos Barria/Reuters
Antonov An-225 Mriya destruído no hangar do aeroporto de Hostomel em ataque no fim de fevereiroTV estatal russa/Reprodução
Parte de um míssil perto de um terminal de ônibus em Kiev, em 4 de marçoValentyn Ogirenko/Reuters
Mulher verifica destruição em casa atingida em Horlivka, na região separatista de Donetsk, em 4 de marçoAlexander Ermochenko/Reuters
Pessoas tentam embarcar em trem de Kiev para Lviv, em 4 de marçoGleb Garanich/Reuters
Bombeiro em destroços de escola atingida por bombas em Zhytomyr, em 4 de marçoViacheslav Ratynskyi/Reuters
Prédios residenciais após explosões em Borodyanka, na região de Kiev, em 3 de marçoMaksim Levin/Reuters
Comboio de veículos russos destruídos em Borodyanka, perto de Kiev, em 3 de marçoMaksim Levin/Reuters
Torre de TV atingida por explosivo em Kiev, em 1º de marçoReuters
Tanque destruído na cidade de Bucha, próxima de Kiev, em 2 de marçoSerhii Nuzhnenko/Reuters
Prédio do governo de Kharkiv após ser atingido por míssil russoCarlos Barria/Reuters
Sede do governo em Kharkiv é bombardeada nesta terça, 01 de marçoVyacheslav Madiyevskyy/Reuters
Edíficios residenciais destruídos por explosivos em Irpin, perto de Kiev, em 2 de marçoSerhii Nuzhnenko/Reuters
Gleb Garanich/ReutersPrédio em Kiev atingido e destruído por foguetes russos em 26 de fevereiro
Universidade Nacional de Kharkiv, danificada por ataques em 2 de marçoReuters
Casa destruída por ataque na região separatista de DonetskAlexander Ermochenko/Reuters
Vista da destruição de uma fábrica em Kharkiv, em 28 de fevereiroREUTERS
Criança brinca em parque diante de prédios atingidos por ataque em Kiev REUTERS/Umit Bektas
Área residencial nos arredores de Kiev atingida durante ataque russo REUTERS/Umit Bektas
Ponte destruída por explosivos em Bucha, cidade próxima a Kiev, em 28 de fevereiroMaksim Levin/Reuters
Prédio em Kharkiv danificado por bombardeios russos em 27 de fevereiro, na ação contra a segunda maior cidade da UcrâniaVitaliy Gnidyi/Reuters
A Rússia iniciou ofensiva contra a Ucrânia nesta quinta-feira (24)Ukrainian State Emergency Service/Handout via REUTERS
Interior de veículo russo Tigr-M destruído em Kharkiv, em 28 de fevereiroVitaliy Gnidyi/Reuters

O TPI (Tribunal Penal Internacional) lançou agora uma investigação sobre as ações na Ucrânia a pedido de 39 países. Este é um passo importante na condenação global da invasão russa.

Estados individuais, a União Europeia e a União Africana estão alinhados para condenar o presidente russo Vladimir Putin. Líderes, incluindo o primeiro-ministro Boris Johnson, já acusaram Putin de crimes de guerra enquanto apoiavam a investigação do TPI.

Alguns especialistas já destacaram as dificuldades de usar o direito internacional para condenar a Rússia, e a investigação examinará as ações de todas as partes envolvidas no conflito. Mas o TPI tem a capacidade de acusar Putin de crimes de guerra se encontrar evidências de que ele os cometeu.

No entanto, é extremamente difícil provar a intenção de cometer crimes de guerra. Tão difícil que apenas seis pessoas foram condenadas pelo TPI e cumpriram pena.

O Direito Internacional Humanitário é baseado nos princípios de humanidade, necessidade, distinção e proporcionalidade. Um crime de guerra ocorre quando os civis não são diferenciados das tropas militares, quando os danos aos civis não são minimizados e quando há destruição, sofrimento e baixas desnecessárias.

Protesto em Paris. REUTERS/Johanna Geron

Para indiciar alguém, o promotor do TPI deve provar que os supostos crimes são crimes de atrocidade: genocídio, crimes contra a humanidade ou crimes de guerra. O promotor determina a gravidade observando a escala, natureza, forma e impacto dos supostos crimes.

As investigações do TPI podem levar anos, mas os promotores têm várias vantagens neste caso que podem levar a um processo mais rápido. Primeiro, o TPI investiga supostos crimes de guerra na Ucrânia desde 2014, quando a entãa promotora Fatou Bensouda iniciou uma investigação preliminar. Em 2015, ela ampliou o escopo para incluir quaisquer supostos crimes cometidos a partir de 20 de fevereiro de 2014.

Em 2020, Bensouda disse que havia uma base razoável para acreditar que três tipos de crimes foram cometidos: os cometidos no contexto da condução das hostilidades, os cometidos durante as detenções e os cometidos na Crimeia. Agora, o atual promotor do TPI, Karim Khan, está abrindo a investigação proposta por sua antecessora e ampliando-a para incluir a recente invasão da Ucrânia.

Em segundo lugar, as novas tecnologias facilitam a coleta de evidências, como imagens e gravações de eventos, juntamente com depoimentos de vítimas e testemunhas. O TPI receberá as extensas evidências coletadas por organizações como a agência de jornalismo investigativo Bellingcat. Evidências de telefones celulares de cidadãos ucranianos também estarão disponíveis.

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Maior avião do mundo é destruído em ataque russo na Ucrânia
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Imagem da TV russa do Antonov An-225 Mriya destruído no hangar do aeroporto de HostomelTV estatal russa/Reprodução
Maior avião do mundo foi alvo de ataques em aeroporto perto de Kiev, no último fim de semanaTV estatal russa/Reprodução
Projétil de ataque ao aeroporto de Hostomel, na UcrâniaTV estatal russa/Reprodução
Asa do Antonov An-225 Mriya ("sonho", em ucraniano)TV estatal russa/Reprodução
Foto do Antonov An-225 em operaçãoReprodução
Imagem aérea do aeroporto de Gostomel, atingido por ataques russosBLACKSKY/Handout via Reuters

Putin pode ser preso?

Assim que forem encontradas evidências suficientes para estabelecer motivos razoáveis ??de que crimes de atrocidade foram cometidos, o promotor pode solicitar que uma câmara do TPI emita um mandado de prisão para a pessoa supostamente responsável. Isso pode forçar o indivíduo a comparecer no julgamento, garantir que ele não obstrua a investigação e impedi-lo de continuar cometendo atrocidades.

Se o TPI emitir um mandado de prisão contra Putin, ele não poderá viajar para os 123 estados que fazem parte do TPI para não ser preso –outros estados também podem decidir entregá-lo.

Mas um mandado de prisão não é uma garantia de condenação. E é difícil vincular um chefe de Estado em exercício diretamente a ofensas cometidas pelas forças armadas no terreno.

Em 2011, o TPI emitiu um mandado de prisão para Laurent Gbagbo, ex-presidente da Costa do Marfim, por quatro acusações de crimes contra a humanidade cometidos em 2010 e 2011. Ele foi transferido para Haia no mesmo ano. Seu julgamento começou em 2016 e ele foi absolvido três anos depois.

O TPI considerou que as provas apresentadas no caso de Gbagbo “não eram suficientes para sustentar uma condenação”. A acusação não mostrou que Gbagbo tinha uma “política” para atacar uma população civil, ou um “plano comum” para mantê-lo no poder cometendo crimes contra civis. Não provou que os discursos de Gbagbo contribuíram para os crimes cometidos na violência pós-eleitoral.

Precedentes

Além de Gbagbo, o TPI emitiu mandados de prisão contra apenas dois outros chefes de Estado em exercício ou recentemente depostos, e nenhum deles foi indiciado. O presidente sudanês Omar al-Bashir foi o primeiro chefe de Estado em exercício a receber um mandado de prisão do TPI. Desde 2009, ele é procurado por crimes contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio em Darfur, no Sudão.

Em 2020, o conselho militar governante do Sudão concordou em entregá-lo ao TPI. No entanto, o governo sudanês concordou agora em criar um tribunal especial para crimes de guerra no Sudão, e o escopo da investigação do tribunal incluiria Bashir.

Em 2011, o TPI emitiu um mandado de prisão contra o líder da Líbia, Muammar Gaddafi, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Ele foi assassinado antes que pudesse ser julgado.

Se houver uma mudança de regime na Rússia, Putin ainda poderá ser entregue ao TPI ou, como aconteceu com Bashir no Sudão, a Rússia poderia criar seu próprio tribunal para investigar supostos crimes de guerra na Ucrânia.

Este é um caso legal incomum porque nem a Ucrânia nem a Rússia são signatários do TPI. Mas a Ucrânia fez duas declarações ao TPI dando ao tribunal jurisdição ad hoc para crimes de guerra cometidos na Ucrânia.

Nos estados em que o TPI exerce a jurisdição, isso é feito sobre crimes independentemente da nacionalidade das pessoas que os cometeram, mesmo que sejam cidadãos de estados que não integram o TPI, para que possam investigar Putin.

A Ucrânia também está buscando outra via para responsabilizar a Rússia pelo crime de agressão por meio da Corte Internacional de Justiça, que agendou audiências públicas. Este tribunal da ONU lida com disputas entre países e, portanto, não resultaria em nenhuma acusação criminal contra Putin, o indivíduo.

Dada a escalada da situação na Ucrânia, com muitas mortes de civis e crianças, os líderes estatais em todo o mundo devem garantir que o TPI tenha financiamento e capacidade para prosseguir com suas investigações. A oposição generalizada de 141 estados na Assembleia-Geral da ONU é um sinal claro para Putin de que ele pode enfrentar responsabilidade pessoal por essa invasão.

*Catherine Gegout, bolsista na Hanse-Wissenschaftskolleg, Delmenhorst, 2021. Jean Monnet Research Fellow, EUI, Firenze, 2019-20. Pierre Keller Visiting Professor na Harvard Kennedy School em 2019. Professora associada em Relações Internacionais, Universidade de Nottingham

Este artigo é republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

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