O que significa se tornar réu e quais são os próximos passos no caso sobre a tentativa de golpe

Jair Bolsonaro e mais sete se tornaram réus em cinco crimes cujas penas somadas podem passar de 30 anos

Por Da redação

O que significa se tornar réu e quais são os próximos passos no caso sobre a tentativa de golpe
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
REUTERS/Amanda Perobelli

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acatou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornou, por unanimidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais oito réus por tentativa de golpe de Estado. A votação foi concluída nesta quarta-feira (26).

Os agora réus foram denunciados por cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração do patrimônio histórico e cultural, com penas que, somadas, podem passar dos 30 anos de prisão.

Quem são e o que faziam os réus

Além do ex-chefe do Executivo, foram denunciados pela PGR:

  • Augusto Heleno: general da reserva, e ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Braga Netto: general da reserva, ministro-chefe da Casa Civil;
  • Paulo Sérgio Nogueira: general da reserva, ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa;
  • Anderson Torres: ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal durante os ataques de 8 de janeiro;
  • Almir Garnier: ex-comandante da Marinha, o único dos comandantes de Força a dar apoio aos ideais golpistas do ex-presidente;
  • Alexandre Ramagem: delegado da Polícia Federal e atual deputado federal pelo Rio de Janeiro, no mesmo partido de Bolsonaro
  • Mauro Cid: tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

O que é PGR?

É a Procuradoria-Geral da República, órgão máximo do Ministério Público Federal. Ela responsável por atuar em processos no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O Procurador-Geral da República é Paulo Gonet. Seu trabalho é liderar o MP da União e apresentar denúncias contra autoridades com foro privilegiado, como o presidente da República, ministros e parlamentares. 

Assim como os ministros do STF, é indicado pela presidência da República e também passa por uma sabatina no Senado. Tem mandato de dois anos, podendo chegar até seis se reconduzidos 

O que é o STF?

O Supremo Tribunal Federal (STF) é a última instância da Justiça do Brasil. É composto por onze ministros que precisam ser brasileiros natos, ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade e ter notório saber jurídico. São indicados pelo Presidente da República, devem ser aprovados em uma sabatina do Senado.

As mudanças na Corte acontecem, a rigor, quando um magistrado se aposenta – seja aos 75 anos ou antecipadamente. Dos atuais onze ministros, sete foram indicados durante os governos do PT. Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Cristiano Zanin e Flávio Dino foram indicados por Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto Luiz Fux, Luiz Roberto Barroso (atual presidente) e Edson Fachin foram indicados por Dilma Rousseff.

Os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça chegaram à Suprema Corte por Bolsonaro, enquanto Alexandre de Moraes chegou ao STF indicado por Michel Temer. O ministro a mais tempo na Casa – chamado de decano – é Gilmar Mendes, que foi indicado em 2002 por Fernando Henrique Cardoso.

Lula, com dez indicações ao longo de seus três governos, é o terceiro presidente da República a mais indicar ministros para a Casa, atrás apenas de Floriano Peixoto e Marechal Deodoro da Fonseca, com 15 indicações cada, e Getúlio Vargas, com 21. Caso se reeleja em 2026, o petista indicará mais três novos nomes até o fim de seu mandato, em 2030.

Qual o salário de um ministro do STF?

Um ministro recebe, como salário-base, R$ 46.366,19 desde fevereiro de 2025. É tido como o teto do funcionalismo público e serve de referência para o vencimento de outros integrantes do alto funcionalismo público, como outros magistrados no geral e o próprio presidente da República.

O que significa se tornar réu?

Réu é a pessoa contra quem uma denúncia foi aceita e é chamada a responder pelo crime em um julgamento formal.

O processo penal segue etapas e um envolvido pode ter classificações: suspeito, investigado, indiciado, denunciado e réu. 

Uma pessoa é considerada suspeita quando a polícia acredita que ela possa estar envolvida em um crime, mas ainda não possui provas suficientes para confirmar essa participação. Se surgirem indícios razoáveis ou evidências contra o suspeito, as autoridades iniciam uma investigação formal, e ele passa a ser considerado investigado.

Durante as diligências, caso a polícia encontre provas que liguem o investigado ao crime, o delegado de polícia pode indiciá-lo. A partir desse momento, ele passa a responder formalmente pelo caso.

Ao término das investigações, a polícia encaminha um relatório final ao Ministério Público – que, no caso envolvendo o ex-presidente, é a Procuradoria-Geral da República (PGR). Um promotor (ou o procurador-geral) analisa o documento e, se considerar que há provas suficientes, apresenta a denúncia à Justiça que, se aceita, faz o investigado se tornar réu no processo.

E agora?

O processo deve se arrastar pelos próximos meses, quando o tribunal ouvirá testemunhas e acusados, analisará provas e fará as demais diligências. Há o risco de que a conclusão do julgamento fique para 2026, o que pode levar a corrida eleitoral a atropelar o rito judicial.

O ordenamento jurídico não prevê a possibilidade de um recurso pelo recebimento da denúncia, de acordo com o advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Penal. A defesa, porém, pode lançar mão de um dispositivo conhecido como "embargos de declaração", em que são pedidos esclarecimentos sobre aspectos específicos da decisão.

Bolsonaro pode ser preso?

A composição da Primeira Turma do STF torna o cenário "desfavorável" ao ex-presidente, avalia o advogado criminalista Marcelo Crespo. No passado, os ministros do colegiado já tomaram decisões que contrariaram Bolsonaro. Moraes, em particular, é alvo frequente de ataques bolsonaristas.

Crespo considera improvável que uma eventual condenação produza uma pena que não leve Bolsonaro à prisão, sobretudo por conta da profundidade das denúncias da PGR ."Mas tudo vai depender do julgamento, de como será a interpretação da turma", pondera.

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