Quando o gerente da fábrica da Tesla, Andre Thierig, subiu ao pódio no final de uma agitada reunião de funcionários – relatou na última quarta-feira (10/07) o jornal alemão Handelsblatt –, a primeira coisa que ele mencionou não foi o acirrado conflito entre o conselho de trabalhadores da empresa e o sindicato, debate que havia dominado a discussão até então.
"Vou lhe dar um número", disse Thierig na fábrica da Tesla, que emprega cerca de 12 mil pessoas em um amplo complexo localizado a sudeste de Berlim. "Compramos 65 mil xícaras de café desde que iniciamos a produção aqui. Estatisticamente falando, cada um de vocês já tem cinco xícaras de café em casa", afirmou.
"Estou realmente cansado de aprovar pedidos para comprar mais xícaras de café", continuou ele, sob risos e aplausos, avisando também que não haveria reposição de talheres nas cozinhas da fábrica, já que eles também estavam desaparecendo das gavetas.
Não está claro onde as xícaras foram parar. No entanto, o fenômeno também ocorre em outras empresas. O fabricante de automóveis agora também introduziu copos reutilizáveis.
Preocupações ambientais e de segurança
Mesmo antes das dezenas de milhares de xícaras roubadas e das últimas eleições do conselho de trabalhadores, a Gigafactory da Tesla em Grünheide, município no estado de Brandemburgo e nos arredores de Berlim, tem sido um centro de controvérsia.
Quase imediatamente após a Alemanha ter vencido pelo menos oito outros países da UE para sediar a primeira fábrica europeia da Tesla em 2019, começaram a surgir críticas sobre o custo ambiental da construção da fábrica. Isso incluiu o desmatamento de centenas de hectares de floresta e preocupações com a contaminação das águas subterrâneas.
Logo após o início da produção em 2022, a revista alemã Stern publicou um artigo alegando graves violações dos padrões de segurança e saúde dos trabalhadores, bem como das leis ambientais. A reportagem constatou que a fábrica da Tesla havia registrado três vezes mais emergências do que uma fábrica semelhante da Audi na cidade de Ingolstadt.
Em 2024, a fábrica foi palco de protestos ambientais contra uma expansão planejada da fábrica, que finalmente recebeu luz verde após uma longa batalha política.
Demissões, pressão e assédio
Mais recentemente, uma pressão do CEO da Tesla, Elon Musk, para que as fábricas em todo o mundo reduzam sua força de trabalho em 10% resultou em demissões de muitos funcionários temporários e de meio período, e lançou dúvidas sobre até que ponto a fábrica impulsionará a economia da Alemanha a longo prazo, conforme prometido.
Embora a fábrica de Grünheide só tenha reduzido a equipe em cerca de 2%, o membro do conselho de trabalhadores da empresa Uwe Fischer disse ao Handelsblatt que havia uma "pressão óbvia" sobre os funcionários para que aceitassem o que era visto como uma oferta de demissão voluntária "atraente".
Segundo o secretário do sindicato IG Metall, Jannes Bojert, os trabalhadores da Tesla enfrentam extrema pressão, assédio e frustração com relação ao número de acidentes de trabalho na fábrica.
Isso foi rebatido na reunião de funcionários por Michaela Schmitz, a recém-reeleita líder do conselho de trabalhadores da empresa, que acredita que o sindicato está exercendo influência indevida sobre seus membros para agitar a força de trabalho.
"Ninguém controla ninguém", respondeu o sindicato. Bojert, por sua vez, acusou Musk, a gerência e outros funcionários de estimular um sentimento antissindical que ele descreveu como "inconstitucional". Ele descreveu a greve como um "último recurso", mas não a descartou, dado o clima atual na fábrica.