Temendo guerra, Alemanha estuda expandir rede de bunkers

Autoridades querem avaliar quais estações e garagens subterrâneas podem servir de abrigo. Listagem seria acessada por app. País conta com 579 bunkers em estado precário, capazes de abrigar apenas 0,56% da população.

Por Deutsche Welle

As autoridades da Alemanha estão elaborando um novo levantamento de bunkers que podem servir de abrigo de emergência para civis, informou o Ministério do Interior nesta segunda-feira (25/11), em meio a um aumento de tensões com a Rússia no contexto da guerra na Ucrânia.

Segundo a imprensa alemã, as autoridades querem avaliar quais estações subterrâneas de metrô e trens, assim como estacionamentos e prédios públicos e privados, podem vir a ser usados como abrigos. O plano inclui a elaboração de uma nova listagem geral, que poderá ser acessada por meio de um aplicativo pela população em caso de necessidade e emergência.

Os habitantes do país também serão incentivados a criar abrigos de proteção em suas casas, com a adaptação de porões e garagens, disse um porta-voz do ministério em uma coletiva de imprensa. A pasta, no entanto, se recusou a fornecer um cronograma, apontando que se trata de um "grande projeto" que levará "algum tempo", e que também vai envolver o Departamento Federal de Proteção Civil e Assistência a Desastres (BBK, na sigla em alemão).

O tabloide Bild, o primeiro a anunciar detalhes do chamado "plano bunker" nesta segunda-feira, disse que o conceito estava sendo desenvolvido em resposta ao agravamento da situação internacional. No entanto, o porta-voz do Ministério do Interior evitou mencionar alguma crise na coletiva.

Segundo o porta-voz, os principais pontos do projeto foram acordados em uma conferência em junho, e um grupo especial está agora analisando os planos.

Bunkers insuficientes e em estado precário

As organizações de proteção civil na Alemanha já vinham solicitando uma expansão de abrigos de emergência no país

No primeiro semestre, a Associação Alemã de Cidades e Municípios, que representa os 14 mil conselhos locais do país, pediu ao governo federal que investisse 10 bilhões de euros nos próximos dez anos em proteção civil – e que usasse esse dinheiro para reativar 2 mil bunkers da época da Guerra Fria.

No momento, segundo o BBK, apenas 579 desses bunkers são oficialmente designados como abrigos públicos. Ou seja, ainda estão listados. No entanto, eles oferecem espaço para apenas cerca de 478 mil pessoas (ou 0,56% da população alemã de 83 milhões). Mas, segundo o BBK, até mesmo esses bunkers "não estão funcionando nem prontos para uso" desde que o sistema anterior de abrigos foi abandonado, em 2007.

Para proteger toda a população do país seria necessário construir mais 210,1 mil bunkers, o que pode levar 25 anos, a um custo de 140,2 bilhões de euros (o equivalente a R$ 853 bilhões), considerado proibitivo por analistas de defesa.

Outros questionam a utilidade dos bunkers. Em junho, Hans-Walter Borries, diretor do Instituto de Estudos Econômicos e de Segurança Firmitas, da Universidade de Witten, na Alemanha, foi um dos que mostrou ceticismo, considerando a escala do poder de fogo militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da Rússia.

A Rússia, por exemplo, tem mísseis hipersônicos que podem atingir praticamente qualquer cidade europeia a partir do exclave de Kaliningrado em dois a cinco minutos. "Não é como na Segunda Guerra Mundial, quando os avisos de bombardeiros sobrevoando Hannover em direção a Berlim davam às pessoas 15 ou 20 minutos para encontrar um bunker", disse Borries, também coronel da reserva, à DW. "Com os tempos de reação atuais, não há como avisar a população."

O plano do Ministério do Interior parece reconhecer esse problema, apontando que grandes bunkers centrais seriam muito menos úteis do que espaços protegidos descentralizados dentro de edifícios residenciais.

Tensões

As tensões envolvendo a Guerra da Ucrânia voltaram a subir nas últimas semanas com a chegada de tropas da Coreia do Norte para lutar ao lado da Rússia. Segundo autoridades americanas, o movimento motivou a mudança de postura do presidente dos EUA, Joe Biden, que autorizou Kiev a usar mísseis americanos de longo alcance em ataques ao território russo. Biden aprovou ainda o fornecimento de minas terrestres antipessoais para a Ucrânia.

A Rússia, por sua vez, respondeu disparando A Rússia disparou um novo míssil balístico "experimental" de alcance intermediário contra a cidade de Dnipro, na Ucrânia. Foi a primeira vez que tropas russas utilizaram esse armamento na guerra de agressão contra Kiev. O líder da Rússia, Vladimir Putin, também disse que a guerra está sofrendo uma escalada que pode se tornar um conflito de "caráter global".

Em junho, o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, disse durante uma sessão no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, que era necessário fortalecer as capacidades operacionais das Forças Armadas do país, para que elas estejam preparadas para uma possível guerra até 2029.

"Precisamos estar prontos para a guerra até 2029", disse Pistorius na ocasião. "Devemos agir como um elemento dissuasório, para evitar que o pior aconteça. (...) No caso de uma emergência, precisamos de homens e mulheres jovens que possam defender este país", disse ele. Por esse motivo, ele também afirmou ser necessário reformular o serviço militar, que é voluntário.

jps/ra (AFP, Reuters, DW)

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