Líderes de empresas dos mais diversos segmentos se reuniram na noite desta segunda-feira, em São Paulo, para o segundo summit de spin-offs. Organizado pela Vibra Digital, empresa spin-off de tecnologia e estrategista digital do Grupo Bandeirantes de Comunicação, em parceria com a B2B Match, com o apoio do Learning Village e patrocínio da GoTo, o evento discutiu os benefícios e desafios de lançar produtos ou novos modelos de negócios que surgiram de gigantes do mercado.
Os convidados da vez foram Alexandre Frankel, founder na Vitacon e CEO da Housi, Helena Caldeira, CFO do Banco Inter, e João Vítor Assunção, CEO da Simples Reserva. A conversa foi apresentada por Bruno Padredi, CEO da B2B Match, mediada pelo jornalista Rodolfo Schneider, diretor-geral de conteúdo do Grupo Bandeirantes, e teve ainda a participação de André Luiz Costa, CEO da Vibra Digital. O encontro foi transmitido ao vivo pelo Bandplay e no Band.com.br.
Alexandre Frankel é um ativista pela mobilidade que começou a empreender aos 17 anos. Fundou em 2009 a desenvolvedora imobiliária Vitacon, que revolucionou o mercado residencial com a proposta de imóveis compactos e espaços compartilhados perto de áreas comerciais. Em 2019, partiu para a empreitada de criar a spin-off Housi, a primeira plataforma digital de moradia por assinatura do mundo.
Helena Caldeira é CFO do Banco Inter, onde ingressou em 2016, liderando o time de desenvolvimento de novos negócios passando também pela área de relações com investidores. A spin-off, que está no guarda-chuva da construtora MRV, é um dos primeiros bancos digitais do Brasil e 100% gratuito. Já João Vítor Assunção, em quatro anos saiu de estagiário de projetos financeiros da Reserva para o cargo de CEO da Simples, uma spin-off da marca lançada no ano passado. A Simples Reserva é a marca de entrada e nativa digital do Grupo AR&CO.
Inovação e digitalização: desafie o status-quo
Sair do lugar comum é uma necessidade de todas as empresas, seja qual for o ramo, para se manter competitiva. Assim nasceu a Housi, como conta Alexandre Frankel. "Exista uma dúvida se continuávamos no modelo tradicional ou se poderíamos migrar para um modelo mais digital. Comecei a ver que passava cinco horas por dia dentro de um carro, são 45 dias por ano. Queria morar resolver o problema do trânsito e decidi morar perto do trabalho, fazer as coisas a pé, de bicicleta. Ganhei cinco horas do meu dia", disse.
"Nosso objetivo é mudar o mundo através da moradia. O conceito foi simples: diminuir o tamanho dos apartamentos, torná-los mais compactos, bem localizados e mais acessíveis, para caber no bolso das pessoas. Fomos diminuindo o tamanho para 40 m2, 20 m2 e chegamos até a 10 m2. Serviu para muita gente", afirmou o CEO da Housi. Foi uma necessidade de acompanhar uma mudança de comportamento de nossos clientes. É um público que, cada vez mais, quer trocar a compra pelo uso. Estudos apontam que 82% desse novo público privilegiam mais os serviços do que a posse. Comecei a questionar o status-quo da casa própria. Nunca concorde com o status-quo", completou Alexandre.
Já Helena falou sobre os desafios do Banco Inter, a necessidade de facilitar a vida dos clientes e integrar outros prestadores de serviços no mesmo aplicativo. "Temos um super app que combina toda a vida financeira e do dia-a-dia de forma mais simples. Foi uma revolução bancária que permitiu empoderar as pessoas para administrar as suas finanças e sua rotina sem sair de casa", afirmou a CFO, destacando mudanças como a expansão global para compras e viagens internacionais.
João Vítor abordou a importância de se reinventar no segmento competitivo da moda e trazer novos perfis de clientes para a Reserva. "Avistamos um buraco. Vimos que a marca carecia de um produto básico e mais acessível. Mas será que tinha mercado pra isso mesmo? Fizemos um teste com uma linha de camisetas com 12 cores diferentes e em 3 modelagens, para crianças, homens e mulheres, sendo vendidas de forma nativa digital e física nas lojas, para avaliar se existia mesmo essa carência. Vendemos R$ 10 milhões com apenas esses 12 modelos de camisetas", disse o CEO da Simples.
André Luiz Costa, CEO da Vibra Digital, explicou o trabalho que faz à frente do braço digital do Grupo Bandeirantes e a necessidade de digitalição do segmento de comunicação.
A GoTo, patrocinadora do summit de spin-offs, também foi uma empresa que passou por uma transformação digital em fevereiro de 2022, quando houve um reposicionamento de marca e logo. “Foi muito além de um novo nome e logotipo, foi uma evolução estudada globalmente depois de ouvir as necessidades de quase 800 mil clientes. Simplificamos nosso portfólio com soluções integradas que atendem todas as necessidades de comunicação, colaboração e suporte de TI das empresas, sejam elas pequenas, médias ou grandes. Foi um reposicionamento de sucesso que nos permitiu aumentar 20% das nossas vendas no Brasil no ano passado e conquistar mais 3 mil novos clientes no país ao longo de 2022", disse Vanessa D’Angelo, Head de Marketing LATAM da GoTo.
“O mercado digital é muito amplo e tem muitas oportunidades e desafios em suas diferentes esferas, mas com certeza representa o futuro de empresas dos mais variados setores. É no âmbito digital que os negócios já estão acontecendo agora, oferecendo comodidade, praticidade e velocidade a diversos serviços. Com o passo rápido da inovação, o mercado crescerá ainda mais”, completou Vanessa.
Spin-off, a revolução interna e a “segunda curva” da inovação
Mas quando uma empresa deve iniciar o movimento para a criação de uma spin-off? Como identificar qual o momento certo para expandir o seu mercado? Para Alexandre, existe atualmente uma mudança no ciclo das empresas, o que exige um processo de aceleração de novas ideias. "Normalmente um negócio é dividido em quatro fases: aprendizado - em que se tem a queima de caixa -, crescimento, estabilidade e declínio. O ideal é que se comece a fazer curvas diferentes, uma segunda curva de inovação quando se está no auge. Comecei uma empresa nova em 2019, após dez anos como CEO. Decidi iniciar o movimento de spin-off, uma revolução dentro da própria empresa. Com isso decidimos transformar um prédio analógico em um prédio inteligente", disse.
"O ciclo das empresas está muito curto. Uma empresa hoje permanece no topo cerca de 1/10 do tempo que permanecia lá atrás. Hoje cinco anos é um prazo relativamente longo para uma empresa seguir no mesmo movimento. É curva dois o tempo todo, precisamos estar o tempo inteiro se desafiando, colocando produto novo. O spin-off já seria uma etapa adiante, mas entendo que se deve começar uma nova curva de tentativa a cada dois, ou três anos. Tudo pode ser melhorado. Se joguem em sua segunda curva sem medo. Hoje em dia, é mais perigoso ficar parado", aconselha o CEO da Housi
Helena destacou os desafios de inovar no setor financeiro, em meio às amarras da lei. "Inovação e a tranbsformação viraram recorrentes desde 2015. Temos questionar a forma de fazer o tempo inteiro, o que não significa sair da regra. Nós temos controles por todos os lados. Temos que pensar como que dentro das quatro linhas podemos fazer diferente. O setor bancário mudou muito nos últimos anos, naquela ideia de ir pra agência, passar pelo detector de metais, ficar na fila. Isso não faz mais parte do nosso dia a dia. A gente quer fazer parte desse dia a dia do nosso cliente. A gente vive transformando o ponto de atenção que vamos ter com o cliente e como vai ser essa interação", afirmou.
'Filhos' querem ser independentes em relação às 'mães'
Ter uma gigante para alavancar os seus resultados e dar credibilidade para uma spin-off desde o seu crescimento tem muitos benefícios. No entanto, trata-se apenas de um empurrão inicial, como explica João Vítor. A intenção é que a empresa comece desde cedo a caminhar com as próprias pernas. "Nosso desafio era ser filho de uma marca que tem 17 anos de mercado. A própria Reserva já tinha feito isso com outras spin-offs, que iniciaram como projetos e ganharam vida própria", conta.
"Decidimos lançar o serviço de assinatura de camisetas, mas sempre com identidade visual com a nossa marca-mãe. Queremos ser o melhor básico democrático do Brasil. Queremos transformar o mercado de produto básico do Brasil. A gente quer que o básico seja valorizado. As camisetas foram o nosso ponto de partida, mas daí saímos para coleções de sarjas, jeans, camisarias, moleton, pólo e look verão. Fazemos roupas mais acessíveis que as outras marcas do grupo e para todos os corpos. E em breve teremos nossa primeira loja física, no Rio de Janeiro", diz o CEO da Simples Reserva.
"Pra gente é muito interessante ter a nossa marca-mãe no nome. Junto com o sobrenome, carregamos as histórias que ela tem no mercado. É uma forma de respaldo, que as pessoas entendem que a gente faz um produto de qualidade. Isso faz com o que cliente tenha mais confiança na hora de consumir aquele produto. Mas a gente consegue ter a nossa independência, trabalhar da forma que a gente acredita", afirma João Vítor.
Liderar com exemplos e conhecer quem é o seu cliente
A importância de conhecer o seu público alvo, saber quais suas preferências, suas reclamações, seus hábitos de consumo, seus sonhos também foi tema do summit. Não há como uma spin-off turbinar seus resultados, gerar novos produtos e serviços relevantes ao mercado se seus líderes estiverem distantes da sua audiência. João Vítor diz usar sua fórmula própria: "sonho bom e grande + mente aberta + compromisso com pessoas e resultado = cuidar, emocionar e surpreender as pessoas todos os dias".
"Inovação pra gente é a capacidade de observar e escutar o que os clientes falam, o que os colaboradores falam, o que os fornecedores falam e o que as comunidades ao nosso redor falam. Assim conseguimos identificar os problemas e desenvolver soluções inovadoras. A palavra convence, mas o exemplo arrasta", afirma o CEO da Simples Reserva.
Para ele, o contato com o público é insubstituível. "Estar em loja é o lugar que a gente consegue a maior quantidade de feedbacks possíveis. A gente ouve sobre o lugar, sobre o som, sobre o produto. A gente ouve a mãe que vai comprar roupa pro filho, o marido que vai comprar roupa pra mulher, o filho que vai comprar roupa pra mãe... Assim a gente consegue descobrir problemas, evoluir e desenvolver novos produtos. Muita gente fala que a roupa fica bem no modelo, mas não cai bem nele. Todo tipo de feedback nos possibilita melhorar o nosso negócio".
Trabalhar com um público diversificado também está nas rotinas do Banco Inter e da Housi. "Nós temos hoje 26 milhões de clientes. Então temos todos os tipos de clientes. Temos que adquirir dados para conhecer esse cliente de diferentes perfis", afirma Helena.
"Conheço CEOs que ficam no ar-condicionado na Faria Lima e que há anos não vão pra linha de frente. Isso é obrigação. Estar com os clientes é fundamental. A partir do momento que você conhece o seu cliente, você consegue diversificar ao gosto de cada um. Estamos hoje em 120 cidades e temos apartamentos de 10 m2 e de 450 m2, de um estúdio até apartamentos com cinco suítes de frente para o mar. Do estudante ao empresário. Dependendo do teu produto, você consegue se adaptar a qualquer tipo de cliente", disse Alexandre, que também destacou a importância da análise de dados para conhecer os diferentes perfis e agradar variados públicos. "Nossa empresa hoje é uma máquina de dados. Quando nosso cliente usa o app, quando compra alguma coisa no prédio, tudo isso vira informação pra que a gente consiga montar um produto para cada tipo de cliente", disse.