Seja em Délhi, na Cidade do Cabo ou no México, cada vez mais cidades em todo o mundo estão tendo problemas para abastecer seu número crescente de habitantes com água. Mais de 4 bilhões de pessoas vivem em cidades – e até 2050, estima-se que serão cerca de 6,5 bilhões. De acordo com cálculos das Nações Unidas, até lá mais da metade dos habitantes das cidades poderá sofrer com a escassez de água. A mudança climática só exacerba o problema.
Em casos de escassez crítica, a única solução, geralmente, é racionar a água potável. No longo prazo, muitas cidades já começaram a repensar sua gestão hídrica, com o objetivo de economizar água, adaptar sua infraestrutura e fazer melhor uso das fontes naturais do recurso. Quais soluções funcionam?
Promover a conservação da água em residências particulares
Além da indústria e do comércio, outro setor que também consome muita água é o residencial. No Brasil, o consumo diário per capita médio é de 148,2 litros; nos EUA, chega a 300 litros. Chuveiros (40%), descargas de banheiro (30%) e máquinas de lavar (13%) têm o maior peso no consumo. Apenas 4% da água é utilizada para cozinhar e beber.
Campanhas de conscientização podem levar as pessoas a economizarem água. E caixas de descarga, chuveiros e máquinas de lavar mais eficientes podem reduzir pela metade o que consumo de água desses dispositivos.
A Cidade do Cabo, que há anos enfrenta problemas de água, resolveu focar na conscientização e na modernização. A cidade lançou reparos de encanamento gratuitos em residências de baixa renda e aumentou os preços da água ao consumidor para incentivar as pessoas a economizarem. Em 2018, um ano de seca, a cidade conseguiu reduzir o consumo para uma média de apenas 50 litros por pessoa.
A cidade canadense de Vancouver também tem se preparado para o cenário de aumento do estresse hídrico. Para reduzir o consumo, a água fornecida pelo município custa 25% a mais no verão, que é seco, do que no inverno, que é chuvoso.
Manutenção das redes de tubulação e modernização da infraestrutura
Canos com vazamentos e uma rede de tubulação antiquada levam a grandes perdas de água. Em toda a Europa, mais de um quarto da água potável é perdida dessa forma, e, em algumas cidades do mundo, até 60% da água sequer chega à torneira. Muitas dessas perdas poderiam ser evitadas com o simples reparo das tubulações.
Um exemplo disso é Tóquio, uma das cidades mais densamente povoadas do mundo. Até algumas décadas atrás, a metrópole japonesa tinha de 15% a 20% de perdas devido a vazamentos de canos – atualmente esse percentual é inferior a 3%. A rede de tubulação de mais de 27 mil km é constantemente monitorada para localizar vazamentos e, se necessário, substituída. É uma evidência de quão importante se torna o gerenciamento eficiente da água urbana para atender à crescente demanda em todo o mundo.
Em novas construções, tubulações também podem ser melhor planejadas para evitar perdas de água.
Em muitas cidades, no entanto, ainda falta uma infraestrutura hídrica adequada, especialmente em favelas que crescem rapidamente. Bairros mais ricos, por outro lado, geralmente têm um melhor abastecimento.
Utilizar a água da chuva e reutilizar a água residual tratada
Em vez de gastar a preciosa água potável para tudo, vale considerar também a utilização da água da chuva coletada ou da água residual purificada, chamada de água cinza, para dar descarga em banheiros, usar máquinas de lavar ou na indústria.
Nos bairros novos de Melbourne (Austrália) e de Aarhus (Dinamarca), por exemplo, a água da chuva é drenada das ruas e calçadas, filtrada e usada nos edifícios vizinhos. Em muitas cidades dos EUA, Índia, Taiwan, Espanha e Turquia, o aproveitamento da água da chuva agora é requisito obrigatório na construção de novos edifícios.
Em vez de despejar as águas residuais nos rios após o tratamento, muitas cidades estão agora promovendo sua reutilização. Um terço da água em Pequim, por exemplo, é água residual reciclada. Ela é usada principalmente para vegetação, limpeza de ruas, lavagem de carros e descarga de banheiros.
Já em Madri, águas residuais tratadas são usadas para irrigar os parques da cidade, enquanto que, em Singapura, elas são até mesmo transformadas em água potável por meio de um estágio adicional de purificação.
Economizar água com o modelo de cidade-esponja
Embora falte água nos períodos de seca, o número de chuvas fortes seguidos de inundações está aumentando. Nas cidades, o problema é agravado por sistemas de esgoto sobrecarregados e pelo excesso de superfícies impermeáveis, que não permitem que a água da chuva escoe de forma suficientemente rápida. Aqui destacam-se Wuhan, na China, e Singapura, pioneiras no conceito de cidade-esponja.
Em ambas as cidades, foram criados locais onde o excesso de água da chuva pode ser armazenado – desde bacias de captação subterrâneas até faixas e telhados verdes onde a água da chuva pode escoar. O calçamento permeável de ruas também ajuda na infiltração da água.
A água coletada pode ser reutilizada, e a vegetação urbana adicional ajuda no resfriamento.
Só na China existem mais de 60 cidades-esponja, e o conceito vem sendo usado em todo o mundo para o redesenvolvimento urbano. Na Europa, a capital dinamarquesa, Copenhague, está sendo remodelada dessa forma.
Regeneração de reservatórios naturais e proteção de fontes de água
O mais importante para as cidades é proteger e regenerar as suas fontes naturais de água.
A capital colombiana, Bogotá, por exemplo, recebe 80% de sua água da paisagem montanhosa vizinha, um ecossistema único, com pântanos e lagos. No entanto, o uso excessivo da terra para agricultura está comprometendo esse abastecimento natural. Para combater o problema e regenerar essas fontes hídricas, o órgão fornecedor de água na Colômbia aposta na compra de terras e no aumento da conscientização.
Outra solução é a remoção de plantas de elevado consumo de água na área de captação de água. Na Cidade do Cabo, por exemplo, muitos pinheiros e eucaliptos de uma região foram substituídos pelo plantio do arbusto nativo fynbus, que necessita de menos água.
Autor: Gero Rueter