Sobreviventes do deslizamento que deixa pelo menos 30 pessoas desaparecidas na BR-376, entre Curitiba e Santa Catarina, relatam momentos de desespero durante o incidente. Dois corpos foram resgatados até agora. O trabalho de buscas entrou no terceiro dia nesta quinta-feira (1º).
Ocupante do veículo Virtus preto que foi atingido pelo deslizamento, a fisioterapeuta Letícia da Cruz dos Santos, moradora de Paranaguá (PR), estava com os pais, de 71 e 72 anos, respectivamente, e com um filho de 4 anos, quanto teve o carro arrastado na BR-376, no sentido Curitiba. Ela abandonou o veículo perto da área do desmoronamento e conta que todos os ocupantes estão ilesos, apenas com escoriações leves.
“Nosso carro foi um dos últimos a ser pego no deslizamento. Um tronco de árvore que caiu empurrou nosso carro para cima e nós batemos em um caminhão que vinha do outro lado. Só tivemos escoriações. Eu, minha mãe e meu pai, de 71 e 72 anos, e meu filho de quatro anos. A gente conseguiu sair pela porta do motorista, com o carro todo coberto de areia. Um ônibus da Viação Garcia acolheu a gente e o motorista deixou a gente entrar. Estávamos todos molhados, ensopados, mas viemos para Curitiba, para casa de parentes”, contou em entrevista ao Portal da Band.
"Só vi morro de areia que ficou e dois carros soterrados e um caminhão tombado. Na hora que caiu a gente pegou a borda da estrada, a areia entrou e levantou. Nosso carro foi um dos últimos do deslizamento. Além da terra, caiu árvore e isso foi levantando o carro. Eu vim descalça, sem documento, sem roupas. Vou comprar roupas para os meus pais agora. Chegamos às duas da manhã. Meu celular ficou no carro, junto com todas as nossas coisas, só consegui resgatar o celular do pai”, diz.
O carro da família fazia parte do comboio que, minutos antes, estava parado no bloqueio nas imediações do posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal), e havia sido liberado a seguir, depois das 18h de segunda (28).
A rodovia teve um primeiro momento de interdição após uma queda de barreira, às 16 horas, e foi liberada às 18 horas. O deslizamento mais grave aconteceu às 19h15, quando havia acúmulo de veículos na via por causa do congestionamento referente ao primeiro bloqueio.
A PRF afirma que não foi responsável pela liberação do tráfego e que a concessionária Arteris Litoral Sul é quem deve responder por isso (Leia a nota abaixo).
A concessionária enviou nota ao Portal da Band afirmando que “neste momento, qualquer afirmação sobre as causas do deslizamento seria prematura, pois não contaria com o embasamento técnico necessário” (Íntegra da nota abaixo).
“Só segurei no volante”
Ao jornalista Leonardo Gomes, da Rádio BandNews FM Curitiba, o caminhoneiro Ed Carlos contou que trabalha na estrada há 33 anos e que nunca viu um deslizamento dessa proporção em rodovias.
“Estava parado, o caminhãp desligado, fazia dez minutos. De repente, olhei assim e começou a descer barranco, árvore e já me jogou para o outro lado da pista. E chovendo. Nem vi a proporção. Desci correndo, pulei, nem vi. A água pela canela. Voltei no caminhão rapidinho, estralando tudo o barranco. Só peguei minha bolsinha e saí correndo. Peguei uma carona, pois não pega celular ali, e fui até o posto”, disse.
“É muito rápido. Não tem nem como explicar direito. Só olhei estralando tudo e só segurei no volante. E já me jogou do outro lado. Tinham dois carros na minha frente e aqueles eu não sei”, lamenta.
Caminhoneiro gravou vídeo em caminhão soterrado
O caminhoneiro José Altair Biscaia, 43 anos, gravou vídeo de dentro de caminhão soterrado após deslizamento no Paraná. As imagens começaram a circular na internet na quarta-feira (30).
Emocionado ainda dentro do veículo, caminhoneiro descreve momento em que ficou preso. “Estou vivo, mas estou no meio da terra, no cantinho do que sobrou do caminhão”, diz o caminhoneiro.
No vídeo, o caminhoneiro relata estar ferido, com alguns machucados e dores. Ele foi resgatado ainda na noite de segunda-feira (28) e levado ao Hospital São José de Joinville (SC). José Altais recebeu alta na manhã do dia seguinte.
Buscas
A procura por vítimas da tragédia na BR 376, entre Curitiba e Santa Catarina, entrou no terceiro dia nesta quarta-feira (30). O Corpo de Bombeiros usou uma câmera térmica para localizar possíveis sobreviventes debaixo da lama. Mas nenhum sinal de vida foi encontrado. A estimativa é de que haja até 30 pessoas desaparecidas.
Toda a área foi isolada por medida de segurança, pois existe risco de novos deslizamentos.
Segundo o Corpo de Bombeiros, seis carretas foram atingidas. Duas já foram retiradas do local. O corpo da primeira vítima do desastre já foi identificado. É do caminhoneiro João Pires. Ele dirigia o caminhão que ficou pendurado na ribanceira.
Outros três carros já foram retirados da lama. Mas ainda não é possível dizer com certeza o número de vítimas e nem quantos veículos estão debaixo da lama.
A estrada que liga o Paraná a Santa Catarina permanece interditada sem previsão de liberação. A rota alternativa, pelas BRs 470 e 116 leva até sete horas a mais.
A BR-277, de acesso ao Porto de Paranaguá e Litoral do Estado, foi liberada. E a BR-116 tem interdições parciais tanto para São Paulo quanto para Curitiba. Apesar disso, trânsito liberado.
Nota da PRF
"Nota ao público. A informação trazida em alguns veículos de comunicação de que a “PRF responsabiliza concessiona´ria por na~o ter bloqueado rodovia antes de deslizamento no PR” é iverídica, e que tal fato nunca foi aventado pela instituição. A PRF no Paraná esclarece que a única afirmação realizada é no sentido dos protocolos referentes à questões técnicas de engenharia, que estão fora da esfera de atuação do órgão: nas ações relacionadas a ocorrências envolvendo a estrutura da rodovia como pontes, obras e encostas, o monitoramento, fechamento, desobstrução e liberação da via ocorre após análise que é de competência técnica dos órgãos responsáveis pela infraestrutura viária. O DNIT nas rodovias federais sem concessão e pelas concessionárias nas rodovias pedagiadas. Curitiba, 1º de dezembro de 2022"
Nota da concessionária
"Comunicado à imprensa
São José dos Pinhais, 30 de novembro de 2022 – A Arteris Litoral Sul está consternada e se solidariza com amigos e familiares das vítimas do deslizamento de terra no km 668,7 da BR-376/PR. O atendimento à ocorrência é a prioridade máxima da concessionária neste momento. Por isso, a empresa não está medindo esforços e as equipes estão totalmente mobilizadas para fornecer todo o suporte e logística sob liderança do Corpo de Bombeiros para resgate no trecho.
Após essa etapa tão crucial, da mesma forma, a concessionária empenhará todos os seus esforços para que a via seja liberada e que o tráfego possa ser restabelecido, com total segurança e o mais rápido possível.
A Arteris ressalta que possui um programa permanente de monitoramento de encostas e que o trecho em que aconteceu o deslizamento é acompanhado periodicamente, sendo parte de suas obrigações contratuais.
Neste momento, qualquer afirmação sobre as causas do deslizamento seria prematura, pois não contaria com o embasamento técnico necessário.
O propósito da Arteris é garantir a melhor segurança viária para os usuários. Especificamente sobre a BR-376/PR, a concessionária investiu fortemente na rodovia. Entre os investimentos aplicados especificamente no trecho da Serra do Mar, destacam-se a construção de duas áreas de escape, a conclusão da instalação do sistema de iluminação em 30 kms das pistas Norte e Sul; e a implementação do sistema semafórico para alerta em caso de trânsito interrompido à frente, denominado de Pirilampo.
A Arteris Litoral Sul reforça seu compromisso com a sociedade paranaense e seguirá trabalhando para a melhoria constante das condições de tráfego e segurança do trecho, tão importante para a logística do País".