No dia seguinte a uma operação militar do Azerbaijão no território disputado de Nagorno-Karabakh, habitado majoritariamente por membros da etnia armênia, as duas partes acertaram nesta quarta-feira (20/09) um cessar fogo, após relatos de mais de 30 mortes na região em menos de 24 horas.
As autoridades da autodeclarada República de Artsakh, o governo não reconhecido do enclave, diseram ter aceitado uma proposta de paz feita por mediadores russos para encerrar a investida das forças azerbaijanas no território.
"Com a mediação do comando do contingente da missão de paz russa em Nagorno-Karabakh, foi atingido um acordo para o fim completo das hostilidades", informou a autoproclamada presidência da região, em nota divulgada nas redes sociais.
De acordo com o Ministério da Defesa do Azerbaijão, o cessar-fogo estabelece que as unidades do Exército armênio que estariam presentes no enclave devem deixar a região, e que os combatentes separatistas entregarão suas armas, sob a supervisão das forças de paz russas. Não está claro, porém, se essas condições serão atendidas.
O colapso da resistência separatista representa um vitória significativa para o presidente azerbaijano Ilham Aliyev em sua tentativa de colocar Nagorno-Karabakh sob o controle de seu governo.
O presidente da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que seu governo não participou da elaboração do acordo e insistiu que o pais não possui presença militar no enclave. Ele já acusou anteriormente o Azerbaijão de promover uma "limpeza étnica" dos cidadãos armênios no território disputado.
Manifestantes na capital armênia Yerevan entraram em confronto com policiais ao exigirem a renúncia de Pashinyan. O Conselho de Segurança do país ameaçou adotar "medidas efetivas" para restabelecer a ordem constitucional.
Mais de 30 mortes em 24 horas
Nesta terça-feira, o Azerbaijão iniciou uma ofensiva terrestre na região de Nagorno-Karabakh para tentar assumir o controle de todas as cidades do território separatista. O governo da ex-República soviética classificou a ação como uma "operação antiterrorista" e declarou que não pretendia parar até a rendição dos separatistas e das forças da Armênia no território.
Os separatistas indicaram que várias cidades do enclave, incluindo a capital regional, Stepanakert, foram alvo de "disparos intensos" contra infraestruturas civis. Autoridades da Armênia relataram que 32 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas em menos de 24 horas de ataques azerbaijanos. Entre os mortos estavam sete civis, incluindo duas crianças.
O governo do Azerbaijão justificou suas ações como uma resposta à morte de quatro policiais e dois civis azerbaijanos na explosão de minas onde estava sendo construído um túnel, entre Shusha e Fizuli, duas cidades de Nagorno-Karabakh sob seu controle.
Os separatistas informaram que a questão da reintegração do enclave ao território azerbaijano, com garantias aos direitos e à segurança da minoria armênia, será discutida por representantes das duas partes na cidade de Yevlakh, em 21 de setembro.
Situação humanitária grave
Um cessar-fogo havia sido estabelecido após a última das duas guerras ocorridas no território, em 2020, após o Azerbaijão tomar dois terços do enclave. O pacto, no entanto, foi violado diversas vezes.
A Rússia é considerada uma força de proteção dos armênios no enclave, mas Moscou atualmente prioriza o envio de seus contingentes para a guerra da Ucrânia. Analistas já previam que o Azerbaijão pudesse tentar tirar proveito dessa instabilidade para realizar operações militares contra os separatistas.
Antes mesmo da mais recente ofensiva azerbaijana, a situação humanitária no enclave já era grave, com o Azerbaijão – país rico em petróleo e gás natural e com grande poderio militar – impedindo o único acesso da Armênia à região, através do chamado corredor Lachin.
rc/bl (AFP, DPA)