A 16ª cúpula do Brics começa nesta terça-feira (22) na cidade russa de Kazan com uma reunião informal de seus líderes e uma série de reuniões bilaterais do presidente Vladimir Putin, o presidente anfitrião, incluindo duas com seu colega chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
O chefe do Kremlin também planeja reuniões bilaterais com os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e com a chefe do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.
"Acho que nosso presidente não terá vida fácil, no entanto, ele mesmo expressou o desejo de se reunir literalmente com todos os chefes de Estado que viajam para Kazan", disse o assessor de Putin para política internacional, Yuri Ushakov.
O evento não terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cancelou a viagem por recomendação médica após sofrer um acidente doméstico. O Brasil será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Lula deve discursar por videoconferência na cerimônia de abertura.
As conversações formais na cúpula do Brics começam na quarta-feira, quando o presidente russo deverá manter encontros bilaterais com seus homólogos do Irã, Masoud Pezeshkian, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse o assessor presidencial.
O primeiro grande evento do gênero sediado pela Rússia desde o início da guerra na Ucrânia tem sido visto como um palco usado por Putin para mostrar que o país não está isolado. "A Rússia não está isolada. No mundo de hoje, é muito difícil isolar um país, especialmente um país como a Federação Russa", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, alguns dias antes da cúpula.
Primeiro encontro com novos membros
A Rússia, que preside os Brics neste ano, informou que 32 países confirmaram presença na cúpula em Kazan, sendo 23 chefes de Estado. Dos dez membros plenos, apenas o Brasil e a Arábia Saudita não vão enviar o representante máximo da nação. Os sauditas também vão enviar o ministro das Relações Exteriores.
Este é o primeiro encontro do Brics com os novos membros que ingressaram no bloco neste ano. Formado até então por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics agora conta também com Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia como membros plenos.
Além disso, existe a expectativa de novos parceiros serem anunciados como membros associados, com menos direitos. "É nisso que é consumido o nosso trabalho neste semestre, quais são os critérios para essa modalidade, e há uma expectativa de que, aprovada essa modalidade, possa ser feito um anúncio dos países que seriam convidados para integrar essa categoria", disse o embaixador Eduardo Paes Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty.
A composição final do grupo deverá ser um dos temas debatidos, em especial o status final da Arábia Saudita, que ainda não está claro. O país é membro pleno do grupo, ao qual foi convidado a se juntar em 2023, algo que Riad sempre deixou no ar.
Paralelamente, mais de três dúzias de países demonstraram interesse em participar das atividades do grupo ou ingressar na aliança como membros plenos. Entre eles estão Cuba, Venezuela e Nicarágua, assim como a Turquia, membro da Otan, seu aliado Azerbaijão e a Malásia.
Há expectativa de que o Brasil eventualmente vete a entrada de Venezuela e Nicarágua, dois países que protagonizaram embates diplomáticos com o governo Lula. Em entrevista à CNN, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou ser contra a entrada da Venezuela no Brics.
"A entrada de novos países tem que ser muito bem estudada. Precisa de países que possam contribuir. Ter uma concepção estratégica das admissões. Lembrar que o mundo vive dias guerras com potencial de escalarem para guerras mundiais. Então, o critério de admissão é mais importante do que o país em si", destacou Amorim.
A cúpula desta semana definirá apenas o conjunto de regras para os novos parceiros, sem tratar do mérito dos candidatos.
Dependência do dólar
Os membros do bloco também devem discutir medidas para reduzir a dependência do dólar no comércio entre os países, além de ações para fortalecer instituições financeiras alternativas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, controlados principalmente por potências ocidentais.
Um dos temas debatidos será, por exemplo, a ideia de Putin de criar um sistema de pagamento liderado pelo Brics para rivalizar com o Swift, um sistema de transferências internacionais da qual os bancos russos foram cortados em 2022, depois de o país ter invadido a Ucrânia.
Para especialistas consultados pela Agência Brasil, os Brics têm o papel de contornar as dificuldades impostas pelos Estados Unidos e seus aliados ao avanço comercial e tecnológico da China.
Países que sofrem bloqueios econômicos de potências ocidentais – como Irã e Rússia – também precisam do bloco para contornar a asfixia financeira das sanções. Enquanto isso, Brasil deve se equilibrar entre os dois principais blocos geopolíticos em disputa para colher benefícios comerciais e tecnológicos.
O Brasil assume a presidência do Brics em janeiro de 2025. "Em 2014, durante a presidência brasileira do Brics, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo Contingente de Reservas, dois dos maiores êxitos do bloco. Então, será uma presidência austera, mais focada em resultados", afirmou o embaixador Eduardo Paes Saboia.
Estima-se que o Brics concentre cerca de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) global, superando o G7, grupo das maiores economias do planeta com Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, que concentra cerca de 30% do PIB mundial. Além disso, o Brics concentra cerca de 42% da população mundial.
md/cn (EFE, Agência Brasil, ots)