O Rio Paraguai, uma importante via de escoamento de grãos, atingiu uma baixa recorde na capital do Paraguai, Assunção, com os níveis de água afetados pela seca extrema rio acima no Brasil, que prejudicou a navegação ao longo das hidrovias na Amazônia.
A profundidade do rio Paraguai, medida em relação a um marco "zero" dos índices de medição ao invés do leito do rio, ficou abaixo de 0,82 metro negativo, quebrando o recorde anterior de outubro de 2021, segundo dados da Diretoria Nacional de Meteorologia e Hidrologia. Sem previsão de chuva, o órgão espera que o nível do rio continue caindo.
O rio Paraná, na Argentina, também está perto do nível mais baixo do ano em torno do centro graneleiro de Rosário.
Os rios Paraguai e Paraná começam no Brasil, se unem e deságuam no mar nas proximidades de Buenos Aires. Eles são rotas importantes para o comércio de soja, milho e outros produtos.
"Na seção norte [da hidrovia do Paraguai], a navegação está praticamente interrompida devido à queda extrema nos níveis de água", afirmou a Câmara Paraguaia de Esmagamento de Sementes Oleaginosas e Grãos (Cappro) à agência de notícias Reuters.
A Cappro, cujos membros comerciantes de grãos lidam com cerca de 60% das exportações de soja do Paraguai, disse que a baixa do rio afeta os embarques, embora o impacto tenha sido limitado, já que não é a época de pico desse comércio.
"Os navios tiveram que transportar volumes abaixo da média de sua capacidade normal de carga", informou a Cappro. "Isso gerou atrasos e tornou os tempos de viagem mais longos." Entre os membros da Câmara estão a ADM, a Bunge e a Cargill.
Risco de seca recorde no Pantanal
O sistema Paraguai-Paraná é uma hidrovia de mais de 3,4 mil quilômetros de extensão que atravessa Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
O Paraguai é o terceiro maior exportador de soja do mundo e cerca de 80% de seus grãos são transportados pelas hidrovias até os portos marítimos rio abaixo. A Argentina é o maior exportador de soja processada, a maior parte da qual desce o rio Paraná a partir da cidade portuária de Rosário.
Dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgados na semana passada indicam que a principal bacia do Pantanal poderá enfrentar a maior seca já registrada. Alguns pontos do curso d'água já atingiram marcas negativas históricas neste ano.
Ao longo de 2.695 quilômetros, dos quais 1.693 quilômetros ficam no território brasileiro, existem 21 réguas para medir o nível do Rio Paraguai; 18 pontos de medição estão com níveis menores do que o esperado para essa época, sendo que três réguas registram patamares negativos.
O rio Paraguai – o principal rio do Pantanal – tem registrado níveis baixíssimos desde o início do ano, sendo que, no mês de julho, registrou o menor nível em quase 60 anos. O rio atravessa 48% do território do estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do Sul, passando pelos biomas cerrado, pantanal e chaco.
Chuvas previstas não serão suficientes
O vice-diretor da Diretoria de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai, Jorge Sánchez, disse que a perspectiva para os níveis dos rios nos próximos meses não é animadora, mesmo com a aproximação da habitual estação chuvosa de outubro e novembro. "Isso deve aliviar o nível do rio, mas não esperamos que seja suficiente", observou.
Espera-se que chova menos do que o normal na segunda metade do ano devido ao fenômeno La Niña, que provoca condições mais secas e frias no Paraguai e na Argentina, embora costume também anunciar um clima mais úmido mais ao norte do Brasil.
Sánchez disse que este ano o La Niña foi adiado e seus efeitos deverão ser percebidos apenas entre outubro e novembro. "Há muita variabilidade devido às mudanças climáticas", acrescentou.
No Brasil, onde ocorrem incêndios florestais recorde, os baixos níveis de água deixam algumas comunidades da Amazônia isoladas, além de afetar os embarques de soja e milho nos estados do Centro-Oeste, como o Mato Grosso, a principal área de cultivo de grãos do Brasil.
rc/ra (Reuters, ots)