Satélites da Starlink prejudicam observação do espaço, afirma instituto

Radiação emitida pela rede de satélites da empresa de Elon Musk ofusca radiotelescópios, concluem pesquisadores europeus; nova frota em circulação causa 32 vezes mais interferência que modelo anterior

Por Deutsche Welle

Elon Musk, dono do Starlink
REUTERS/David Swanson/File Photo

A radiação emitida pelos modelos mais modernos de satélites da Starlink têm "ofuscado" radiotelescópios e dificultado o trabalho de astrônomos, é o que conclui um estudo liderado pelo Instituto Holandês de Radioastronomia (Astron).

A Starlink é um braço da SpaceX, companhia de exploração espacial do bilionário Elon Musk. Sua frota é estimada em mais de 6.300 satélites em funcionamento ao redor da Terra – mais da metade dos objetos em órbita –, sendo um terço dela composta por modelos mais recentes, muito mais "brilhantes".

Esse "ruído" é conhecido como radiação eletromagnética não intencional, ou UEMR, e é gerado pelos satélites de propriedade da Starlink e de outras empresas que operam no espaço. Esses equipamentos se movem a 550 km e fornecem internet de banda larga em todo o mundo, geralmente para lugares remotos, como a Amazônia.

Segundo os cientitas envolvidos na pesquisa, a radiação emitida por satélites de segunda geração da Starlinks causa uma interferência 32 vezes maior que a gerada pelos satélites de primeira geração.

Histórico de interferências

Os satélites mais antigos da Starlink, que atualmente compreendem a maior parte da rede, já estiveram na mira da comunidade astronômica quando sua UEMR foi detectada pela primeira vez "poluindo" pesquisas, em 2022.

Benjamin Winkel, cientista do Instituto Max Planck de Radioastronomia que contribuiu para a análise das frotas da Starlink, diz que a interferência está literalmente "cegando" o trabalho da comunidade científica.

"Embora os satélites da geração 1 tenham, de fato, ficado mais escuros no último ano – então a Starlink realmente fez algo com eles [para reduzir os vazamentos de radiação] – a nova geração, infelizmente, parece estar mais brilhante novamente", disse Winkel.

O que acontece com os radiotelescópios?

"Quando dizemos 'cego', significa que seu olho capta muita luz para que você possa ver alguma coisa, está ficando saturado. Isso é exatamente o que acontece com nossos radiotelescópios", explica Winkel.

"Se a potência de entrada de algum sinal artificial for muito maior do que o que queremos observar do céu, não há como detectar ou analisar esse sinal minúsculo em meio a uma enorme quantidade de ruído que é gerado pela [atividade] humana."

A Astron sinalizou preocupação também com o número de satélites em órbita de todas as operadoras, que pode aumentar para 100 mil até o fim da década.

Com os satélites da Starlink já visíveis no céu noturno a olho nu, um aumento de nove vezes no número de satélites em órbita de baixa altitude de todas as operadoras tem o potencial de incapacitar os astrônomos que usam telescópios ópticos e de rádio.

"Meus colegas me disseram que estão realmente assustados com o futuro", disse Winkel.

"Deveria haver algumas melhorias se eles realmente quiserem observar de forma adequada."

Essas últimas descobertas, publicadas na revista Astronomy & Astrophysics, são particularmente devastadoras para as observações de radiotelescópios.

Os altos níveis de poluição de rádio da órbita próxima à Terra se somam à interferência vinda de outras fontes de radiação antropogênica no solo, como telefones celulares e torres de transmissão, e levarão à redução da sensibilidade dos radiotelescópios em determinadas situações.

Isso também não se limita aos operadores de radiotelescópios. Embora os grandes telescópios ópticos operem usando o espectro de luz visível, a presença de dezenas de milhares de satélites em órbita da Terra corre o risco de refletir luz em direção a esses telescópios.

A consequência pode ser o aparecimento de "manchas" de luz nas imagens obtidas por esses instrumentos. Vazamentos de luz nem sempre podem ser removidos, manchando dados valiosos de observação.

Como evitar um apagão astronômico?

Embora as redes de telefonia celular e a poluição de rádio de outras fontes eletrônicas no nível do solo possam interferir nas observações espaciais, essas emissões são controladas por órgãos reguladores como a União Internacional de Telecomunicações.

No lado do espaço, a história é diferente. Com poucas regulamentações sobre as operadoras de satélites, a comunidade de pesquisa depende da criação de interações de boa fé com as empresas que colocam tecnologia no espaço.

Em sua maior parte, as coisas têm sido positivas, a própria Starlink fez modificações em sua primeira frota para reduzir o ruído de rádio.

Em agosto, a SpaceX (proprietária da Starlink) disse em um comunicado que pretende continuar seus esforços para desviar as emissões de rádio da linha de visão do telescópio.

Informou também que "a SpaceX mantém um convite aberto a outras organizações de radioastronomia de todo o mundo para implementar a abordagem para proteger sua importante pesquisa científica".

A DW entrou em contato com a empresa para comentar a última avaliação de sua frota de segunda geração, mas não recebeu uma resposta até a publicação.

A Starlink não é a única a provocar interferências astronômicas. Um participante emergente no jogo da internet espacial é a OneWeb, que tem cerca de 630 satélites em órbita. O projeto Kuiper, da Amazon, tem apenas dois satélites em órbita, mas há grandes investimentos para expansão de oferta de banda larga.

Autor: Matthew Ward Agius

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