Rússia vai às urnas em eleição com resultado já definido

Votação deve garantir quinto mandato para Vladimir Putin. Com eleição de fachada, chefe do Kremlin quer manter verniz de democracia e mostrar à elite do país que continua tendo apoio da maioria da população.

Por Deutsche Welle

Os críticos não se cansam de repetir que a Rússia é uma ditadura, mas mesmo assim o país realiza uma eleição presidencial desta sexta-feira (15/03) até domingo. No entanto, o resultado já foi previsto muito antes: Vladmir Putin, que comanda o país há 25 anos, ganhará um quinto mandato. Dessa forma, ele ficará no Kremlin até pelo menos 2030.

A única figura claramente oposicionista, o político liberal Boris Nadezhdin, foi impedido de concorrer pelos tribunais russos, incluindo a Suprema Corte, após recurso.

Outros candidatos incluem Nikolai Kharitonov, 75 anos, que representa o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR). O candidato dessa legenda geralmente fica atrás de Putin, embora em um segundo lugar distante. Kharitonov criticou algumas das políticas internas de Putin, mas apoia a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Vladislav Davankov também está concorrendo. Aos 40 anos, ele é um dos candidatos mais jovens e se apresentou como mais liberal quando se trata da restrição das liberdades individuais na Rússia. Entretanto, ele também disse que não criticará seus oponentes políticos.

De acordo com a agência de notícias Reuters, Kharitonov e Davankov podem receber, cada um, entre 4% e 5% do total de votos.

Frente unificada

Mas, embora todos os observadores da Rússia digam que Putin deve vencer, a eleição presidencial russa de fato tem um propósito. "Seu objetivo é abordar os desafios internos e externos enfrentados pelo regime de Putin", disse Konstantin Kalachev, analista político e ex-conselheiro do Kremlin.

"Dentro do país, a eleição serve como meio de legitimação do poder do presidente e demonstra que o povo russo está unido em torno de seu líder", disse. "E, externamente, serve para mostrar que Putin está implementando a política [externa] com base nas demandas do povo", ressalta. "Isso demonstra que o presidente e a maioria russa estão unidos e dissipa quaisquer ilusões do Ocidente."

Em um país onde todos presumem que o resultado já está definido, pode ser difícil persuadir os eleitores saírem para votar. Mas, como escreveu no início deste mês o Meduza, site de notícias independente sediado na Letônia, as autoridades russas estão tomando medidas para garantir que as eleições presidenciais pareçam tão legítimas quanto possível.

A meta é um comparecimento de 80% dos eleitores. Segundo o Meduza, isso é feito "mobilizando o eleitorado dependente do governo: funcionários do setor público, funcionários de corporações estatais e grandes empresas leais ao governo, assim como seus parentes e amigos".

Os membros do partido do próprio Putin, o Rússia Unida, são incentivados a levar pelo menos dez pessoas com eles para as seções eleitorais, afirma o portal, citando fontes ligadas ao partido. As autoridades do governo e dos partidos podem ver exatamente quem comparece às urnas devido à votação eletrônica e aos códigos digitais que identificam os eleitores.

Em seu discurso sobre o estado da nação para a Assembleia Federal da Rússia no final de fevereiro, Putin também ofereceu aos russos comuns uma série de incentivos antes das eleições. Ele reiterou sua decisão de continuar o que chama de "operação militar especial" na Ucrânia.

Divisão visível

Embora o único candidato genuinamente anti-Putin, Nadezhdin, tenha sido impedido de participar, ainda pode haver alguma forma de voto de protesto. A maioria das forças de oposição russas fugiu do país, mas convocou seus partidários a agirem durante as eleições.

A viúva do líder da oposição russa Alexei Navalny, morto recentemente, convocou seus partidários a comparecerem em massa às cabines de votação ao meio-dia de domingo, 17 de março, em homenagem a seu marido.

"Você pode estragar a cédula, pode escrever nela 'Navalny' em letras bem grandes", disse Yulia Navalnaya em um vídeo no YouTube. "E mesmo que você não veja sentido em votar, você pode simplesmente ir e ficar na seção eleitoral e depois dar meia-volta e ir para casa", sugeriu ela, acrescentando que as pessoas deveriam votar em "qualquer um, menos em Putin".

"O fato de grandes multidões comparecerem às cabines de votação de uma só vez não mudará o resultado final, mas certamente poderá perturbar a impressão de que os russos apoiam Putin de forma esmagadora", disse Nikolay Petrov, pesquisador visitante especialista em Leste Europeu do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). "É bem provável que isso irrite Putin", ressaltou.

"É um erro pensar que é mais fácil para os regimes autoritários realizar eleições do que para as democracias", argumenta Petrov. "É muito importante para Putin demonstrar à sua elite política que ele é apoiado pela grande maioria dos russos. É por isso que o Kremlin quer demonstrar resultados muito bons e também evitar quaisquer escândalos."

Autor: Sergey Satanovskiy

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