Rússia condena dois à prisão por declamar poesia anti-guerra

Artyom Kamardin, 33, e Yegor Shtovba, 23, tiveram penas de sete e cinco anos e meio. Para a Justiça, dupla 'incitou o ódio' e 'ameaçou segurança do Estado'. Quase 20 mil já foram detidos por criticar invasão da Ucrânia

Por Deutsche Welle

Bandeira da Rússia
Pixabay

Em mais uma ofensiva autoritária da Rússia contra opositores da guerra na Ucrânia, um tribunal de Moscou condenou nesta quinta-feira (28) dois homens à prisão por recitarem versos críticos ao conflito durante um protesto no ano passado.

Artyom Kamardin, de 33 anos, recebeu uma sentença de sete anos por recitar um poema; já Yegor Shtovba, de 23 anos, teve pena de cinco anos e meio por participar da declamação. A ação foi realizada dias após o presidente Vladimir Putin convocar 300 mil reservistas para a guerra.

Para a Justiça, os dois "incitaram o ódio" e "instigaram atividades que ameaçam a segurança do Estado".

O julgamento transcorreu em uma sala de audiências fortemente vigiada, diante da presença de apoiadores da dupla.

Antes de ser sentenciado, um sorridente Kamardin recitou outro poema em que classificava a poesia como algo "dilacerante" e frequentemente malquisto por "pessoas acostumadas à ordem".

Antes, em um canal no Telegram, o ativista escreveu que não era um herói. "Ir para a prisão por causa das minhas convicções nunca esteve nos meus planos."

Ativista denunciou abuso policial

Preso em setembro de 2022 após recitar um poema autoral e criticar o imperialismo russo em uma praça de Moscou onde dissidentes se reúnem desde a era soviética, Kamardin diz ter sido estuprado por policiais e obrigado a filmar um pedido de desculpas enquanto sua mulher, Alexandra Popova, era ameaçada pelos agentes.

Aos juízes, ele afirmou que não sabia da ilegalidade de suas ações e pediu misericórdia.

Shtovba também insistiu na sua inocência: "O que eu fiz de ilegal? Ler poesia?" O rapaz também se dirigiu à mãe: "Mãe, sei que você, mais que ninguém, acredita na minha inocência. [...] Sinto muito por como as coisas aconteceram, [por] deixar você e papai sozinhos."

Após a leitura da sentença, parte da plateia reagiu aos gritos de "vergonha!"; alguns foram posteriormente detidos pela polícia fora do prédio do tribunal, segundo a agência de notícias AFP.

Em uma entrevista no ano passado ao mesmo veículo, Popova afirmou ter sido ameaçada de estupro pelos policiais ao ser presa com o companheiro, além de ter apanhado e tido cola aplicada nas bochechas e nos lábios.

Manifestações contrárias à guerra levaram à prisão de quase 20 mil

Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock condenou a decisão do Judiciário russo, acusando o Kremlein de "permitir a asfixia da liberdade de expressão".

A prisão de opositores da guerra é algo comum na Rússia, onde o dissenso tem sido duramente combatido. Entre fevereiro de 2022, quando teve início a invasão em larga escala do território ucraniano, e o início de dezembro deste ano, quase 20 mil pessoas foram detidas no país por se manifestarem contra o conflito – destas, 784 estão sendo processadas criminalmente. Os números são da OVD-Info, um grupo de direitos humanos que combate a perseguição política no país.

Um desses casos é o da artista Alexandra Skochilenko, condenada em novembro a sete anos de prisão por trocar etiquetas de preço em um supermercado em São Petersburgo por slogans críticos à campanha militar russa na Ucrânia.

A repressão é amparada por uma lei introduzida dias após a Rússia enviar tropas para a Ucrânia, e que efetivamente criminalizou qualquer expressão pública sobre a guerra que se desvie da narrativa oficial.

A maioria dos opositores de destaque na Rússia ou fugiu do país ou foi presa, como aconteceu com Alexei Navalny.

ra (AFP, AP)

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