Ronnie Lessa diz que teve oferta para matar Freixo e narra morte de Marielle: "Fiz os disparos"

Ex-policial militar detalhou como aconteceu o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes

Ronnie Lessa diz que teve oferta para matar Freixo e narra morte de Marielle: "Fiz os disparos"
Ronnie Lessa
Reprodução

Começou, nesta quarta-feira (30), o julgamento do "caso Marielle Franco". Depois que 9 testemunhas depuseram, o reú Ronnie Lessa também falou e deu detalhes do duplo homicídio.  

Ronnie começou falando que, antes de receber a ordem para matar Marielle, teve uma proposta de Edmilson Macalé para matar o também político Marcelo Freixo (Psol).

"Esse assunto começou no finalzinho de 2016 para 2017. Chegou a oferta seguinte: temos uma coisa para ficar milionário. Em janeiro a pessoa me trouxe o nome e eu ri. Disse 'você deve estar brincando, não tem como. Aí a pessoa voltou a me procurar. Era para matar um político e achei inviável, achei loucura, o doutor Marcelo Freixo", contou Lessa.

Depois a proposta mudou: o foco passou a ser Marielle Franco, porque supostamente ela atrapalhava os planos de loteamento de imóveis de milicianos. Então Ronnie Lessa começou a providenciar os equipamentos e as informações que precisava para cometer o crime.

Lessa disse que tinha dificuldade para cometer o crime porque não podia seguir Marielle a partir da Câmara de Vereadores, para que a investigação não envolvesse a Polícia Federal diretamente, e também teve dificuldades para acionar Macalé. Por isso ele chamou outro cúmplice: Élcio Queiroz, que dirigiu o carro no dia do crime e também está sendo julgado.

Depois disso Lessa passou a narrar como foi o dia do crime. Ele contou que foi para o banco de trás do carro, "porque era mais prático", pois assim não precisaria "passar a arma na frente de Élcio".

Na sequência ele contou como foi o ato: "Quando chegou perto do centro de convenção, o sinal estava fechado. Aí o Anderson parou o carro. O Élcio posicionou próximo. E eu fiz os disparados. O Élcio deixou o carro exatamente onde eu queria. Ele é bom no volante. Me deixou no ângulo que eu queria. Tentei concentrar ao máximo no alvo, mas sabendo do risco que aquele munição tinha. Não era a munição apropriada para aquilo. O mais apropriado, por incrível que pareça, era um revólver".

Ronnie disse que, por causa da munição, acabou acertando o motorista de Marielle, Anderson Gomes: "Com revólver evitaria o que aconteceu com o Anderson. Não era a finalidade acertar ele".

Depois disso, Lessa disse que a rota de fuga ficou por conta de Élcio e, só horas depois, eles souberam que Anderson morreu também. "A gente ficou mais tenso um pouco. Não era para ter acontecido, mas a gente tava ciente que existia esse risco".

Em outro momento, Ronnie detalhou que focou os tiros na cabeça de Marielle: “Em um homicídio, você vai escolher peito e cabeça. É isso. Foquei na cabeça”. 

No final do depoimento, Ronnie fez um desabafo: “Quero pedir perdão às famílias do Anderson, da Marielle, à minha própria, à Fernanda, e à toda sociedade, pelos atos que nos trazem aqui. Infelizmente não podemos voltar no tempo, mas hoje tento fazer o possível para amenizar essa angústia de todos, assumindo minha responsabilidade e trazendo à tona todos personagens envolvidos nessa historia, de cabo a rabo. Tento fazer isso para tirar o peso da consciência. Nunca vou trazer de volta ninguém, mas tinha que pedir perdão inclusive à minha família. Ninguém quer um pai preso. Mas fiquei cego mesmo, fiquei louco. Minha parte era R$ 25 milhões. Eu não tenho vergonha de falar isso. Eu tirei o peso das minhas costas confessando o crime e podendo dar continuidade para amenizar a angústia de todos, da sociedade inteira e de todos parentes que choraram hoje. Eu estou fazendo o máximo para amenizar isso e vou cumprir meu papel até o final. Tenho certeza que a Justiça vai ser feita aqui e no STF, da base ao topo dessa pirâmide. Agradeço a oportunidade de falar esse desabafo”.

Outros depoimentos desta quarta:

Além de Ronnie, mais 9 pessoas deram depoimento nesta quarta:  
Fernanda Chaves, assessora de Marielle e sobrevivente do atentado;
Marinete Silva, mãe de Marielle;
Mônica Benício, viúva de Marielle;
Ágatha Arnaus, viúva de Anderson;
Carlos Alberto Paúra Júnior, policial civil;
Luismar Cortelettili, agente da Polícia Civil;
Carolina Rodrigues Linhares, perita criminal;
Guilhermo Catramby, delegado da Polícia Federal;
Marcelo Pasqualetti, policial federal.

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Quanto tempo Ronnie e Élcio vão pegar?

O Ministério Público pediu que Ronnie e Élcio respondam por 3 crimes: duplo homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e receptação. A punição máxima pedida é de 84 anos de prisão para cada um. Eles tentaram fazer um acordo de delação premiada para diminuir essa punição.  

A previsão é que haja pelo menos mais um dia de sessão de julgamento. Depois disso, 7 jurados, todos homens, que foram sorteados, vão decidir o destino dos dois. A juíza Lúcia Glioche calculará a pena deles.

Os suspeitos de serem os mandantes dos crimes, irmãos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, respondem a um processo no STF.

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