Reviravolta: Israel aceita acordo de cessar-fogo que Hamas rejeitou

Outro ponto de discórdia não resolvido é a volta para o norte de Gaza dos palestinos deslocados para o sul

Por Moises Rabinovici

Forças israelenses anunciam o controle sobre o corredor que separa Gaza e Egito
REUTERS/Ronen Zvulun

Do pessimismo sobre o acordo de cessar-fogo e libertação de reféns, no domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apresentou-se otimista ao final do encontro de três horas com o secretário de Estado americano Antony Blinken, nesta segunda-feira. Não se revelou o motivo para a reviravolta.

O Hamas já rejeitou a proposta fechada em Doha, no Catar, na sexta-feira, e que está sendo agora detalhada por técnicos no Cairo para ser aprovada numa de cúpula no fim desta semana, para a qual Netanyahu prometeu a Blinken que enviará seus mais altos representantes, os chefes dos espiões do Mossad e do Shin Beth.

No domingo, numa reunião com seu gabinete, Netanyahu foi taxativo quanto à presença militar no corredor Filadélfia, que marca a fronteira de Gaza com o Egito. O Hamas a rejeita e quer qualquer presença militar retirada para Israel. 

Outro ponto de discórdia não resolvido é a volta para o norte de Gaza dos palestinos deslocados para o sul. Netanyahu quer que todos sejam revistados para que não carreguem armas.

No domingo à noite, o Hamas divulgou um comunicado oficial rejeitando a última proposta de Doha e culpando o primeiro-ministro Netanyahu por colocar “novos obstáculos nas negociações”. 

Será que, por ter sido já rejeitado pelo Hamas, o governo israelense agora está a favor do acordo? Sem o Hamas, não haverá acordo, e o fracasso não pesará sobre Israel.

O que está em jogo, para Netanyahu, é uma guerra com o Irã e o Hezbollah, se não houver cessar-fogo em Gaza; a debandada dos ministros da extrema-direita que o derrubariam no Parlamento, por se tornar minoritário entre os 120 deputados, se ele aceitar o acordo; a fúria dos familiares dos reféns, manifestando-se há onze meses para que sejam libertados, se deixar passar o que é chamado de “última chance” nas negociações; e as relações com os EUA, porque o presidente Joe Biden quer o acordo para eleger Kamala Harris e está defendendo Israel com uma poderosa armada transferida para o Oriente Médio.

O contraste é entre o presidente que abandonou a reeleição, por patriotismo, e o primeiro-ministro que abandonou a nação, para manter-se no poder. 

Biden passa à História. Netanyahu pode ir para a cadeia por três processos de corrupção e suborno, e ainda se tornar “procurado” pelo Tribunal de Haia.

“O primeiro-ministro reiterou o compromisso de Israel com a atual proposta americana sobre a libertação de nossos reféns, que leva em conta as necessidades de segurança de Israel, nas quais ele insiste veementemente” — diz o comunicado do governo Netanyahu. Não houve declaração de Antony Blinken, pela décima vez no Oriente Médio desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro.

O ministro da Defesa Yoav Gallant, no domingo pessimista de Netanyahu, tentou convencê-lo de que a presença militar no corredor Filadelfia, em Gaza, seria desnecessário, mostrando que há várias opções tecnológicas que obtém até melhor resultado do que soldados de plantão. 

Ademais, pelos acordos de paz de Camp David, assinados com o Egito, Israel não pode manter tropas nessa fronteira, que teria sido a porta de entrada do contrabando de armas para o Hamas, hoje com seus túneis destruídos, entupidos de destroços.

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