Reverendo que negociou vacinas chora e pede "desculpas ao Brasil" na CPI

Amilton Gomes de Paula foi apontado como intermediador do governo para negociar compra de 400 milhões de doses de imunizantes

Da Redação, com Jornal da Band, BandNews TV e BandNews FM

Durante sessão da CPI da Pandemia, o reverendo Amilton Gomes de Paula, apontado pela Davati como intermediador do governo federal para negociar a aquisição de 400 milhões de doses de vacina contra a covid-19, se emocionou e disse que errou ao tentar negociar as vacinas. O reverendo ainda pediu "desculpas" e disse que “queria vacinas para o Brasil”.

"Eu tenho culpa sim. Hoje de madrugada, antes de vir pra cá, eu dobrei os meus joelhos, orei, e aí peço desculpa ao Brasil. E o que eu cometi não agradou, primeiramente, aos olhos de Deus", disse, chorando, o presidente da ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah). Veja o momento abaixo:

Em meio à fala do reverendo, o presidente da comissão, senador Omaz Aziz (PSD-AM), disse “perjúrio, pastor”. Depois, ele perguntou do que Amilton se arrependia. “De ter estado nessa operação das vacinas”, respondeu o depoente.

Durante o depoimento, o reverendo entrou em várias contradições. 

Amilton disse não ter relações com membros do governo federal, do Ministério da Saúde e que não é próximo do presidente Jair Bolsonaro. Confrontado com imagens de fotos ao lado do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e com outros membros da base governista, ele voltou atrás na declaração.

Ele negou relação com Laurício Cruz, diretor de Imunização do Ministério, apesar de e-mails mostrarem o aval dado à ONG para negociar a compra das vacinas - negociando, inclusive, com algumas prefeituras. E não explicou como conseguiu uma reunião na Saúde apenas com um pedido feito por e-mail horas antes, em 22 de fevereiro. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) argumentou contra a rapidez que o religioso foi recebido pelo Ministério da Saúde.

"O senhor está afirmando que não tinha relação com ninguém. Manda o e-mail 12h30, o e-mail é recebido, o senhor aponta o horário para ser recebido, e 16h30 o senhor é recebido. O que nos espanta aqui nessa Comissão Parlamentar de Inquérito é que farmacêuticas do mundo todo que estavam vendendo vacinas diretamente, não tiveram esse tratamento”, argumentou o vice-presidente da CPI.

Mais cedo, ele havia negado a intermediação do negócio pelos imunizantes, se dizendo “embaixador mundial da paz”. O reverendo havia dito que as doses chegaram para ele através de um policial e que se sentiu usado com a situação.

“Hoje, com a série de eventos divulgados, entendemos que fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios e que desconhecemos. Vimos um trabalho de mais de 22 anos de uma ONG, entidade séria, voltada para ações humanitárias e educacionais, jogado na lama. Nós havíamos discutido isso no primeiro momento com Dominguetti, e esse preço seria o preço menos disponível para o mundo”, justificou Amilton.

Ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), o reverendo Amilton disse desconhecer a denúncia do pedido de propina de US$ 1 por dose da vacina AstraZeneca, como afirmou à CPI o policial Luiz Paulo Dominguetti, que seria o representante da Davati.

Amilton de Paula teve de fazer outro mea-culpa. Em documento, ele apresentava a Senah em Brasília como reconhecida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Organização das Nacões Unidas (ONU), mas reconheceu que a ONG não era reconhecida por essas entidades.

Quebras de sigilo e convocações aprovadas

Na reabertura dos trabalhos da comissão,  senadores aprovaram um pedido de afastamento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, por defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19 - a hidroxicloroquina.

Outro requerimento aprovado foi a reconvocação do ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco, que atualmente trabalha como assessor na Casa Civil. Além disso, também foram quebrados os sigilos do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e do deputado Luis Miranda (DEM-DF) - que contou ao presidente Jair Bolsonaro sobre as supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin junto à Precisa Medicamentos.

Ao todo, foram aprovados 129 requerimentos, entre pedidos de informações, convocações e quebras de sigilo.

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