Resistência a antibióticos pode matar 39 milhões até 2050, indica estudo

Cientistas alertam que mortes anuais por resistência antimicrobiana podem subir cerca de 70% nos próximos 25 anos

Por Deutsche Welle

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Marcello Casal/Jr

Mais de 39 milhões de pessoas podem morrer nos próximos 25 anos em todo o mundo devido a infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos, um terço delas no sul da Ásia, incluindo Índia, Paquistão e Bangladesh, estimou um estudo divulgado nesta segunda-feira (16/09) pela revista médica britânica The Lancet.

Uma estimativa mais abrangente, que faz apenas a associação entre a resistência a antibióticos e os óbitos, mas não uma relação direta causa-efeito, sugere que a resistência bacteriana a antibióticos contribuirá indiretamente para mais 169 milhões de mortes no mesmo período.

Trata-se de um estudo aprofundado dos impactos da resistência antimicrobiana (RAM) na saúde global ao longo do tempo, revelando tendências entre 1990 e 2021 e estimando o impacto potencial entre 2025 e 2050 para 204 países e territórios.

A análise revela que, a cada ano, mais de 1 milhão de pessoas morreram por causa da resistência antimicrobiana em todo o mundo entre 1990 e 2021 e que, durante esse período, as mortes por resistência antimicrobiana entre crianças com menos de 5 anos diminuíram em 50%, enquanto as mortes entre pessoas com mais de 70 anos aumentaram em mais de 80%.

Até 2050, o número de mortes anuais atribuídas diretamente à resistência a antibióticos chegará a 1,91 milhão, e o de mortes associadas a ela, a 8,22 milhões, se não forem adotadas medidas para reverter essa tendência, afirmou a equipe internacional responsável pela pesquisa.

Esses números anuais representam aumentos de 67,5% e 74,5% por ano, respectivamente, em relação ao número de mortes atribuídas direta e indiretamente à resistência a antibióticos em 2021, escreveram os pesquisadores do Projeto de Pesquisa Global sobre Resistência Antimicrobiana.

Emergência antibiótica

Segundo o estudo, um melhor atendimento para infecções graves, novas vacinas para prevenir infecções e procedimentos médicos mais criteriosos, que limitem o uso de antibióticos aos casos apropriados, poderiam salvar um total de 92 milhões de vidas entre 2025 e 2050.

O estudo foi divulgado antes de uma reunião de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o assunto, em 26 de setembro.

"Esse estudo histórico confirma que o mundo está enfrentando uma emergência antibiótica, com custos humanos devastadores para famílias e comunidades em todo o mundo", afirmou a encarregada especial do Reino Unido para a resistência antimicrobiana e membro do Grupo de Coordenação Interagencial da ONU sobre Resistência Antimicrobiana, Dame Sally Davies, que não esteve envolvida na pesquisa.

Mutações levam à resistência

Os antibióticos são medicamentos usados no tratamento de infeções provocadas por bactérias. Algumas bactérias passam por mutações genéticas que as tornam resistentes aos antibióticos, e quanto mais um antibiótico é usado, maior é a possibilidade de vir a existir resistência à sua ação.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a resistência aos antibióticos como uma das dez maiores ameaças à saúde pública em escala global. Naquele ano morreram em todo o mundo mais pessoas devido à resistência a antibióticos do que à aids ou à malária.

As estimativas do novo estudo foram feitas para 22 tipos de organismos causadores de doenças, 84 combinações de medicamentos versus bactérias e 11 síndromes infecciosas, como meningite e sepse.

As estimativas foram baseadas em registros de 520 milhões de pessoas de todas as idades em 204 países, de uma ampla gama de fontes, incluindo dados hospitalares, registros de óbitos e dados sobre o uso de antibióticos.

as/cn (Reuters, Efe, Lusa)

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