Para muitos, pensar no Reino Unido é pensar nos ônibus vermelhos, nos Beatles ou no Palácio de Buckingham. Enquanto outros podem preferir o famoso fish and chips (peixe com batatas fritas) ou o pub.
Mas indiscutivelmente uma das imagens mais icônicas é a tradicional cabine telefônica vermelha, que conseguiu sobreviver apesar de seu raro uso no Reino Unido moderno.
Na verdade, o número de cabines telefônicas em todo o país foi reduzido sensivelmente nos últimos anos, de acordo com a British Telecom (BT), restando apenas 3 mil dos tradicionais quiosques vermelhos.
Ameaça existencial
Enquanto marca seu 100º aniversário, o quiosque clássico está sob ameaça existencial – originalmente devido aos telefones celulares e ainda mais desde que os smartphones se popularizaram. Mas em 2008, a BT lançou seu programa Adopt a Kiosk (adote um quiosque), em que mais de 7.200 cabines telefônicas passaram a ser bancadas por comunidades em todo o Reino Unido por apenas 1 libra (R$ 6,24) cada.
"Os quiosques podem ser adotados por administrações locais e instituições de caridade registradas", diz o site da BT.
"Com a grande maioria das pessoas usando celulares e com melhorias significativas na cobertura móvel em todo o Reino Unido, continuamos a ver uma grande queda no número de chamadas feitas a partir de telefones públicos", afirma Michael Smy, responsável pelo projeto na BT.
"Com o icônico quiosque vermelho completando 100 anos, essa é uma grande oportunidade para lembrar as localidades que ainda gostariam de manter seu quiosque local de comprá-lo por apenas uma libra. Já vimos algumas ótimas conversões de quiosques em todo o Reino Unido que se tornaram ativos comunitários valiosos", acrescenta ele.
Essas "conversões" transformaram as famosas caixas vermelhas em uma série de espaços úteis e culturais, desde unidades de desfibriladores e bibliotecas, até minigalerias de arte e pequenos museus locais.
A BT continuará a fornecer eletricidade, sem nenhum custo, para alimentar a luz das cabines telefônicas adotadas.
História da cabine telefônica vermelha
O nome Sir Giles Gilbert Scott pode não ser familiar para muitos, mas 2024 marca 100 anos desde que o projeto dele foi escolhido para ser a primeira cabine telefônica vermelha no Reino Unido. A cor foi escolhida devido à facilidade de identificação.
Desde então, as cabines se tornaram um ícone cultural, sendo esta talvez a conquista mais memorável e duradoura de Scott – o que já diz algo para um arquiteto cujas obras incluem a biblioteca da Universidade de Cambridge, a Central Elétrica de Battersea e a Catedral de Liverpool.
O design de Scott foi a segunda versão depois que a insatisfação com o modelo original fez com que se buscasse uma alternativa, e finalmente chegou às ruas em 1926. Dez anos depois, Scott refinou seu design para marcar o jubileu de prata do rei George 5°. O status icônico das cabines telefônicas vermelhas foi aprimorado no Reino Unido do pós-guerra, alcançando salas de estar em todo o mundo através de filmes, vídeos musicais e séries cult de televisão.
O número de cabines telefônicas em todo o Reino Unido atingiu o pico na década de 1990, com cerca de 100 mil.
No entanto, apesar do seu estatuto histórico, tem havido um declínio significativo na utilização de telefones públicos em todo o Reino Unido, onde 98% da população adulta atualmente possui um celular.
Ainda visada por turistas
Embora tenha havido um tempo em que as pessoas faziam fila para usar o telefone, algumas caixas ainda atraem multidões.
Por exemplo, uma cabine telefônica específica perto da saída da estação de metrô de Westminster atrai massas de turistas. Devido à sua proximidade com o Big Ben, é possível ter o marco de Londres e a cabine telefônica vermelha em uma única foto.
Um usuário do TikTok afirmou ter esperado 45 minutos na fila para tirar uma foto com ela, o que levou um londrino a comentar: "O mundo enlouqueceu".
As cabines vermelhas podem não ser mais necessárias para telefonemas, mas à medida que são transformadas em pequenas casas para desfibriladores, bibliotecas ou usuários de redes sociais, ainda há uma serventia para o velho caixote.
Autor: John Silk