Rebeldes sírios invadem Aleppo pela primeira vez desde 2016

Grupo jihadista HTS lançou maior ofensiva no país desde 2020 e retomou posições na segunda maior cidade Síria após oito anos.

Por Deutsche Welle

Rebeldes sírios da organização radical islâmica Hayat Tahrir al-Sham (HTS) invadiram a cidade síria de Aleppo, a segunda maior do país, nesta sexta-feira (29/11). Com a ofensiva relâmpago do grupo jihadista, as forças do regime de Bashar al-Assad perderam o controle de posições que mantinham no município desde 2016.

Os combates deixaram 277 pessoas mortas, incluindo 28 civis, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que tem base no Reino Unido. Esse é um dos ataques mais letais no país desde 2020, quando militares sírios tomaram posições dos rebeldes no norte da Síria.

O ataque desencadeou uma nova onda violência no país, que além de viver uma guerra civil há 13 anos, também é afetado pelos conflitos entre Israel e os grupos Hamas e o Hezbollah, organizações consideradas terroristas por países como os Estados Unidos e a União Europeia.

Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, "mais de 14 mil pessoas foram deslocadas" em decorrência do novo avanço dos rebeldes.

Rebeldes romperam cessar-fogo

Atualmente, as forças jihadistas controlam a região do município de Idlib, no noroeste do país, e mantinham um acordo de cessar-fogo costurado entre a Turquia e a Rússia que, apesar de constantes violações de menor grau, se mantinha desde 2020. Nesta semana, porém, os insurgentes avançaram sobre o interior do país e tomaram 50 cidades no norte da Síria, antes controladas por militares de Assad.

Em seguida, os rebeldes entraram nos bairros ocidentais de Aleppo, uma cidade com cerca de dois milhões de habitantes que funcionava como um centro econômico da Síria antes do início da guerra civil.

Os combatentes "avançaram sem nenhuma resistência significativa das forças do regime", disse o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman, acrescentando que eles assumiram o controle de cinco bairros.

O HTS, formado por ex-combatentes do antigo braço sírio da Al Qaeda, lidera a oposição síria e recebeu apoio de rebeldes turcos na ofensiva.

Em resposta, forças sírias e russas lançaram 23 ataques aéreos na região de Idlib. "A força aérea russa está realizando ataques com bombas contra pontos de controle, armazéns e posições de artilharia dos terroristas", disse um porta-voz do Ministério da Defesa às agências de notícias russas.

Já a Turquia exigiu a interrupção do bombardeio. "Os recentes confrontos resultaram em uma escalada indesejável das tensões na região", disse um comunicado do Ministério das Relações Exteriores. Além de apoiar as forças de oposição, a Turquia também estabeleceu uma presença militar no norte da Síria.

Ataque coincide com cessar-fogo entre Hezbollah e Israel

Além da Rússia, o presidente sírio Bashar al-Assad tem sido apoiado pelo Irã e por grupos militantes aliados, incluindo o Hezbollah, que possui forte presença na região de Aleppo.

O início do avanço jihadista aconteceu no mesmo dia em que o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah foi anunciado, na última terça-feira.

Dareen Khalifa, consultora sênior do International Crisis Group e especialista em grupos sírios, disse que os insurgentes já sinalizaram há algum tempo que estavam prontos para uma ofensiva. Mas ninguém esperava o rápido avanço em direção a Aleppo.

"Não é apenas o fato de os russos estarem distraídos e envolvidos na Ucrânia, mas também os iranianos estão distraídos em outros lugares. O Hezbollah está distraído e envolvido em outros lugares, e o regime [de Assad] está absolutamente encurralado", disse ela. "Mas o elemento surpresa vem com a rapidez com que o regime desmoronou."

Para se ter uma ideia, Aleppo não era atacada pelas forças de oposição desde que elas foram expulsas dos bairros do leste em 2016, após uma exaustiva campanha militar do governo sírio que durou semanas.

A batalha de 2016 por Aleppo foi um ponto de virada na guerra civil que se instaurou após os protestos que tomaram o país em 2011.

gq (AFP, AP, DW)

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