Racha no PCC pode criar nova facção criminosa em São Paulo? Entenda

Antigos aliados de Marcola, o principal chefe da organização criminosa, viraram inimigos

Da redação

O racha dentro do PCC criou uma disputa de poder e colocou em lados opostos os principais líderes da maior facção criminosa de São Paulo. A situação está gerando tensão em penitenciárias de São Paulo e também deixando autoridades de segurança em alerta.

E com as lideranças do PCC em guerra, cresce o receio da criação de uma nova facção. Antigos aliados de Marcola, o principal chefe da organização criminosa, viraram inimigos. Em conversa com os jornalistas Andrey Mattos e Rodrigo Hidalgo, a desembargadora Ivana David explicou que a possibilidade é remota, mas não impossível, e citou o poder dominante do PCC.

“É possível, e não seria nenhuma novidade uma nova facção, como PCC dissidentes, ou alguma coisa assim” disse.

A desembargadora ainda aponta possíveis dificuldades para a criação de uma nova facção, como o lado geopolítico.

“A única coisa que eu presto atenção é o lado geopolítico de aqui em São Paulo nascer uma outra facção. Todos eles são daqui de São Paulo. São presos do nosso poder judiciário cumprindo Pena em vara execução nossa. A origem dos crimes e das condenações são do Estado de São Paulo. Então seria uma nova facção lutando contra a maior facção do estado. Seria muito mais difícil do que qualquer outro estado ou circunstância”, explica.

Ivana também explica que o domínio territorial do PCC, que possui hegemonia em São Paulo e também em fronteiras com países da América Latina, pode barrar o surgimento de um novo grupo.

“A facção criminosa PCC nasce depois do Comando Vermelho. Mas ela tem 30 anos e tem essa hegemonia no Estado de São Paulo, ela tem o domínio da fronteira. Tanto que ainda que alguém queira, né terceirizado biqueiras é obrigado a comprar droga da facção criminosa PCC. Ela tem o domínio territorial. Então, geograficamente, essa nova facção nascer em São Paulo, eu já volto a dizer que não é impossível, mas é difícil, ela pode ter até o fôlego de se instalar, mas a sobrevivência seria difícil. Até porque também o PCC é a facção criminosa que tem mais integrantes. O Ministério Público tem um estudo de 33 mil hoje, mas já tem um estudo de 40 mil integrantes. Então até numericamente precisa ter fôlego para enfrentar o PCC. É Um Desafio. Eu acho muito difícil conhecendo a estrutura orgânica que é o PCC dentro do Estado de São Paulo e pelo país inteiro”, finalizou.

Entenda a guerra no PCC

A tentativa de chacina em Mauá pode ser o início de uma guerra interna dentro do PCC. O atentado a tiros na Grande São Paulo aconteceu durante a noite e teve três alvos: Donizete Apolinário da Silva, de 55 anos, morreu na hora; a esposa dele, de 29 anos, que está gravida, foi baleada e já recebeu alta; a enteada, de 10 anos, também foi baleada e continua internada sem risco de morte.

Os três tinham acabado de sair de uma festa em família e caminhavam até o veículo quando foram cercados por pistoleiros, que estavam em um carro e passaram a atirar.

Segundo a Polícia Civil, Donizete Apolinário, que deixou a cadeia há um ano, onde cumpriu pena por tráfico e associação criminosa, era uma importante liderança do PCC nas ruas. Ele seria o responsável pela logística do tráfico de drogas em todo o estado de São Paulo. Também era um aliado de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, número um da facção paulista, preso em um presidio federal de segurança máxima. 

A Polícia Civil de Mauá, que investiga o caso, tem dificuldades em ouvir testemunhas. Parentes e amigos têm medo de falar sobre o crime. O carro dos pistoleiros ainda não foi localizado. 

Por causa do silêncio das testemunhas, a investigação ainda não tem informações sobre a motivação do assassinato. Mas uma disputa pelo poder dentro do PCC seria a principal causa. Para a polícia, a execução pode ser um recado a Marcola e os aliados dele.

No início de fevereiro, uma carta escrita dentro do sistema carcerário teria decretado a expulsão e a consequente execução de três importantes lideranças do PCC: Roberto Soriano, o Tiriça; Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka; e o conhecido sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

A exclusão das três lideranças seria uma retaliação a uma suposta declaração do próprio Marcola, que em 2022, durante uma conversa com um policial penal, no pátio da penitenciária, teria chamado Roberto Soriano, o Tiriça, de psicopata. 

O áudio foi usado em um júri, onde Tiriça foi condenado a mais de 30 anos de cadeia pela morte de uma psicóloga funcionária do presídio federal de Catanduva, na Paraná, em 2017. 

Andinho já foi condenado a mais de 700 anos de prisão por homicídios e sequestros. Tiriça está preso desde 2012, envolvido em roubos e homicídios. E Vida Loka é um dos mais radicais e violentos do PCC. A polícia entende que os três se tornaram os novos rivais de Marcola em uma guerra que promete render muitas mortes e trocas de comando dentro da maior facção do pais.

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