O presidente da Coreia do Sul proclamou a Lei de Emergência Nacional, proibindo “todas as atividades políticas”, mas logo em seguida a Assembleia Nacional a anulou, aprovando uma resolução que, pela Constituição, deve ser respeitada, “sem demora”.
“O presidente Yoon Seok Yeol traiu o povo” -- disse Lee Jae-myung, o líder da oposição sul-coreana.
“A declaração ilegal de lei marcial de emergência do presidente Yoon é nula e sem efeito. A partir deste momento, o Sr. Yoon não é mais o presidente da Coreia do Sul. ”
Foi tudo de repente, e muito rápido. A declaração inédita desde o fim da ditadura militar, na década de 80, foi lida pelo presidente Yoon, pela televisão. Uma multidão de sul-coreanos foi à Assembleia Nacional protestar. Forças policiais e do Exército a impediram de invadir o plenário, onde os deputados votavam a resolução que anulou a lei marcial. Os manifestantes gritavam: “Prenda Yoon Suk Yeol!”
O canal de TV que transmitiu a declaração da lei marcial instantes antes exibia agora o caos instaurado dentro e fora da Assembleia. O presidente Yoon, um conservador impopular, venceu apertado a eleição em 2022. Ao tomar posse, ele prometeu defender a liberdade e a democracia liberal. Mas começou a recorrer a ações judiciais e a investigações criminais para reprimir o que, para ele, seria “desinformação”. Redações de jornais e casas de jornalistas foram invadidas sob acusação de divulgar “notícias falsas”.
Em abril, o Partido do Poder Popular do presidente sofreu uma grande derrota em eleições parlamentares. E ele ficou diante de um parlamento controlado pela oposição. Em seu discurso na noite de terça-feira (horário coreano, início da tarde no Brasil), Yoon acusou: “A Assembleia Nacional, que deveria ser a base da democracia livre, tornou-se um monstro que a destroi”. Os deputados, ele acrescentou, aprovaram 22 moções para destituir membros de seu gabinete, e estão pressionando para a demissão de mais 10, e ainda bloquearam o orçamento de seu governo.
“Esta é uma situação que não só é inédita no mundo, como nunca foi vista desde a fundação do nosso país. Está a paralisar o poder judiciário ao intimidar juízes e a destituir vários procuradores, e está a paralisar o poder executivo ao tentar destituir o Ministro do Interior, o Presidente da Comissão de Comunicações, o Presidente do Conselho de Auditoria e o Ministro da Defesa.”
O presidente Yoon prosseguiu: “Este atropelamento da ordem constitucional da República Livre da Coreia e a ruptura das instituições estatais legítimas estabelecidas pela Constituição e pelas leis é um óbvio ato anti-estatal que sugere uma insurreição. A vida do povo não preocupa e o governo está paralisado. A nossa Assembleia Nacional virou um covil de criminosos e está tentando paralisar o sistema de administração judicial através da ditadura legislativa, com o fim de derrubar o sistema de democracia liberal.” O presidente ainda sugeriu que estava defendendo a República Livre da Coreia “das ameaças das forças comunistas da Coreia do Norte.”
O general do Exército Park An-soo, nomeado comandante da lei marcial, proibiu, imediatamente, “todas as atividades políticas”, incluindo as de partidos políticos. E decretou que “todos os meios de comunicação e publicações estão sob o controle do comando da lei marcial”, alertando que aqueles que espalharem “notícias falsas” podem ser presos sem mandado judicial”.
Às três da madrugada, no horário local, a multidão continuava diante da Assembleia, cantando bordões contra a Lei Marcial, mas as forças policiais e do Exército foram embora. O presidente Biden foi informado do que acontecia, mas não se manifestou. Os EUA têm 30 mil soldados na Coreia do Sul. O que está faltando agora para encerrar a crise inesperada é uma resposta do presidente Yoon sobre a anulação da Lei Marcial pela maioria dos deputados.