Os judeus ultraortodoxos servirão o exército, pois perderam a isenção militar de 76 anos, nesta terça-feira, por decisão unânime dos nove juízes da Suprema Corte de Israel.
O líder do partido ultraortodoxo Shas, Aryeh Deri, reagiu: “O povo judeu sobreviveu a perseguições, pogroms e guerras apenas graças à manutenção da sua singularidade, a Torá (o Antigo Testamento) e os mandamentos. Esta é a nossa arma secreta contra todos os inimigos, como prometido pelo criador do mundo”.
Ele acrescentou, num desafio à Suprema Corte:
Não há poder no mundo que possa impedir o povo de Israel de estudar a Torá e qualquer pessoa que tenha tentado isso no passado falhou miseravelmente.
A isenção militar para os jovens seminaristas judeus sobrecarregou os reservistas, obrigados a múltiplas missões e arriscando a vida em nove meses de guerra em Gaza, que já matou centenas de soldados. Os juízes escreveram, justificando a decisão tomada: “Hoje em dia, no meio de uma guerra difícil, o fardo dessa desigualdade é mais agudo do que nunca — e exige o avanço de uma solução sustentável para esta questão”.
Os Haredim (como são chamados em hebraico) defendem que o estudo da Torá é tão essencial quanto o treinamento militar para a defesa de Israel. Manter os seminaristas rezando também é fundamental para a saúde da coligação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que depende de dois partidos ultraortodoxos que lhe asseguram a maioria no Parlamento. Ele não queria mudanças. O seu futuro se tornou incerto.
O ministro da Construção e Habitação Yitzchak Goldknopf, do partido Agudat Yisrael e líder do United Torah Judaism, declarou que “o Estado de Israel foi estabelecido para ser um lar para o povo judeu, para quem a Torá é a base de sua existência. A Sagrada Torá vai prevalecer”.
Mesmo com a isenção, 1.000 jovens ultraortodoxos se alistaram no exército, voluntariamente, o que representa menos de 1% de todos os soldados. Foram motivados pelo ataque do Hamas em 7 de outubro, que matou 1.200 pessoas, levando para Gaza 250 reféns, dos quais restariam menos de 120 atualmente.
Com a decisão da Suprema Corte, o governo está obrigado a agir para cumprir a Lei do Serviço Militar aos seminaristas. Antes, porém, será preciso estabelecer como implementá-la, porque os juízes não entraram nos detalhes administrativos. A imprensa israelense aponta para um aumento gradual no alistamento ultraortodoxo. Mas o governo terá que dar o primeiro passo.