O acordo de cessar-fogo em Gaza e troca de reféns por prisioneiros palestinos deve ser creditado ao enviado especial de Donald Trump às negociações no Catar, Steve Witkoff. Ele conseguiu vencer as resistências com as quais o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeitou o mesmo acordo, com pequenas alterações, por quatro vezes, para manter-se no poder.
Primeiro, Witkoff tirou Netanyahu do descanso sagrado do shabath, obrigando-o a recebê-lo na tarde de sábado. Ele disse por telefone, do Catar, na sexta-feira à tarde, que não queria saber de shabath, e pegou um avião para Tel-Aviv. A reunião dos dois foi descrita como muito tensa. Mas Witkoff voltou para Doha com o acordo aceito por Israel. O que ele prometeu? O que ameaçou?
Os detalhes da reunião ainda não são conhecidos. Mas a partir dela, o acordo chegou ao final, nesta quarta-feira. No último episódio da novela das negociações, Benjamin Netanyahu surgiu como vilão. E pode começar a cair no cenário político israelense. Ele é réu em três processos de corrupção que foram interrompidos porque se submeteu a uma cirurgia na próstata. Ele é alvo da fúria de famílias de reféns por ter rejeitado o acordo quatro vezes, tempo em que alguns deles morreram. A extrema-direita que lhe assegurava a maioria no Parlamento poderá abandoná-lo. Ele será investigado pela invasão do Hamas, em 7 de outubro, que pegou Israel desprevenido, numa falência até então inimaginável dos serviços de inteligência em geral muito bem informados e competentes.
A primeira fase do acordo terá seis semanas. No 16º dia, os negociadores do Catar, Egito, Estados Unidos, Israel e Hamas devem negociar como ele continuará. Na segunda fase é esperada a libertação de todos os reféns e a retirada das forças israelenses de Gaza, que Netanyahu repete que não aceitará. Então, Donald Trump já estará na presidência dos EUA, com seu secretário de Estado Marco Rubio. Não há mais profetas na Terra Santa para prever o futuro.