Rabino: Pesquisa aponta atitudes de Trump para negar resultado das urnas nos EUA

Nos últimos 13 a 38 anos, a fraude, em vários estados-chave, “é inferior a 1%”

Por Moises Rabinovici

Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
REUTERS/Brendan McDermid

Uma pesquisa feita nos principais jornais dos EUA nos últimos três dias leva à conclusão de que o candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, está se preparando para negar o resultado das eleições, se for derrotado. 

Alguns dos indícios: Trump já está alegando fraude eleitoral, antes da contagem dos votos, baseado em incidentes isolados sob investigação. A antecipação de denúncias criou um clima de desconfiança, a ser explorada em caso de derrota. É a estratégia de 2020: as alegações de fraude culminaram na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro.

A pesquisadora de estudos de governança da Brookings Institution, Elaine Kamarck, disse ao Blog Hill, do Capitólio, que a fraude eleitoral americana “é minúscula” e que ela “nunca afetou uma eleição na memória recente”. 

Nos últimos 13 a 38 anos, a fraude, em vários estados-chave, “é inferior a 1%”. A Heritage Foundation pesquisou 30 anos de dados em 32 eleições na Pensilvânia. Encontrou 0,000039 % em mais de 100 milhões de votos, ou 39 casos de fraude. 

Uma pesquisa da Post-Schar School revelou que a maioria dos eleitores em estados-chave tem medo de que eleitores de Trump recorram à violência, caso ele perca. E mais: dois terços dos eleitores acreditam que o próprio Trump não aceitará uma derrota e incitará à violência. 

Muito usado no Brasil, o “nós contra eles”, que desumaniza os adversários, entrou no repertório de Trump. A culpa por todos os problemas do país é “deles”. Essa retórica produz o clima de antagonismo e polarização. 

A desinformação se espalha sem controle pelas redes sociais, muitas sem moderação e algumas sob interferência estrangeira, principalmente russa ou chinesa.

A CNN mostrou como Trump está usando as mesmas táticas de 2020, com as alegações prematuras de fraude no Condado de York, replicadas nas redes sociais. A denúncia é de registros de eleitores inexistentes e até mortos. O secretário de estado da Pensilvânia pediu paciência, enquanto investiga, mas Trump escreveu: 

“O condado de York recebeu MILHARES de formulários de registro de eleitores potencialmente FRAUDULENTOS e pedidos de voto por correio de um grupo de terceiros”. Em menos de uma hora, esse post recebeu mais de 1 milhão de visualizações. O governador democrata da Pensilvânia, Josh Shapiro, comentou que esse tipo de acusação “é mais do mesmo de Trump”, lembrando que ele, como procurador geral do estado, derrotou 43 desafios para a contagem de votos de 2020.

“Eu entendo que Donald Trump queira usar novamente o mesmo manual com o qual tenta criar o caos e alimentar a divisão e o medo sobre nosso sistema. Mas, mais uma vez, teremos uma eleição livre e justa, segura e protegida na Pensilvânia, e a vontade do povo será respeitada e protegida”, acrescentou Shapiro.

Desde a derrota em 2020, uma rede trumpista foi formada para negar o sistema eleitoral americano. É dela que partem as teorias da conspiração que logo se espalham on-line, como a de máquinas de votação manipuladas, coleta ilegal de cédulas, eleitores não cidadãos e até voto de mortos. 

“Todo o processo está trancado, desde o momento em que as cédulas são impressas e entregues aos locais de votação, até o momento em que são colocadas nas máquinas de contagem no local de votação”, disse Elaine Kamarck ao blog Hill. 

A NewsGuard, uma organização que monitora desinformação, já detectou mais de 50 narrativas eleitorais falsas circulando pela internet, a maioria visando os principais estados em que a eleição está empatada, como no Michigan, na Georgia e na Pensilvânia. 

Alguns vídeos com votos para Trump sendo rasgados no Condado de Buck (Pa.) foram “fabricados e amplificados” por hackers russos, segundo conclusão do FBI e da Agência de Segurança Cibernética e Infraestrutura (CISA). 

O clima de retórica “nós contra eles” e denúncias infundadas de fraude eleitoral aumenta a chance de violência política pós-eleições. Deputados republicanos e democratas se preparam para um período tumultuado. 

Apesar do potencial para um motim como o de 6 de janeiro de 2024, é improvável que ele se repita, diz Heidi Beiricha, do Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo. 

Mas ela considera a desinformação e as teorias da conspiração espalhadas como uma das causas das duas tentativas de assassinato sofridas por Donald Trump e o tiroteio no Comitê Nacional Democrata, em Phoenix.

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