A primeira e única vez, até segunda-feira (19), que o Brasil chamou de volta seu embaixador em Israel, em 1981, foi por causa do jornal Estadão, que havia publicado a notícia do envio e desaparecimento de uma carga de urânio brasileiro para o Iraque.
Embora eu fosse o correspondente do Estadão em Jerusalém, não tive nada a ver com a notícia, que originalmente aparecera no Guardian, de Londres. Foi uma informação, publicada por outro jornal brasileiro, que agravou e implodiu a crise entre Brasil e Israel: um agente do Mossad tinha lhe oferecido a história do urânio brasileiro para o Iraque, mas recusada por ser “sopa requentada”.
Para o presidente João Figueiredo e o Itamaraty bastou “a intriga” israelense para convocar de volta à Brasília o então embaixador Vasco Mariz, que há quatro dias reocupara seu cargo, voltando de longas férias.
“Mas acabei de chegar”, ele me disse. “Nem tive tempo de me recuperar das férias”. Bem-humorado, ele acrescentou: “Vou aproveitar e rever meus netos e filhos”.
Israel desmentiu qualquer participação de suas fontes autorizadas, ou de seus serviços secretos, “na difusão de material inverídico ou notícias de imprensa sobre as relações nucleares entre o Brasil e o Iraque”. Abriu inquérito e concluiu ser “pura fantasia” a possibilidade de que o Mossad fosse ao encontro de correspondentes estrangeiros”.
A embaixada do Brasil recebeu visitas de políticos e amigos que foram dar ao embaixador Mariz, já falecido, boas-vindas e boa viagem. Ele respondia: “Espero voltar logo”. E voltou.