Manifestantes tomaram as ruas de Israel, atearam fogos, bloquearam a estrada Tel Aviv-Jerusalém e levantaram barricadas diante da casa do primeiro-ministro e do Ministério da Defesa, depois de anunciada a demissão do ministro da Defesa Yoav Gallant, saudada pela extrema-direita. A crise política pega Israel em guerra no Líbano e em Gaza e com o Irã ameaçando um novo ataque com mísseis balísticos. No sábado à noite, a polícia invadiu o gabinete de Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, em busca de provas para duas investigações associadas a vazamento e edição de documentos secretos.
O primeiro-ministro alegou “quebra de confiança” para demitir o membro mais moderado de sua coligação, o ministro Yoav Gallant, que também é o interlocutor preferido do governo americano — e daí a escolha da data para a demissão, o dia da eleição nos Estados Unidos, a Casa Branca desprevenida. A imprensa israelense publicou esta noite que Netanyahu quer demitir também o chefe do Estado Maior das Forças de Defesa de Israel (FDI), Herzi Halevi, e o chefe do Shin Bet (o serviço secreto interno), Ronen Bar.
Da última vez que Netanyahu demitiu Gallant, no ano passado, os protestos foram tantos que ele foi de novo empossado. Agora, as manifestações estão apenas começando, engrossadas pelos familiares de reféns que ainda estão em Gaza. O novo ministro da Defesa é o até há pouco chanceler Israel Katz, considerado um cumpridor de ordens do primeiro-ministro.
O bordão nas ruas é que, se se pode demitir um ministro da Defesa durante uma guerra, mais possível será a demissão do primeiro-ministro. Netanyahu está muito enrolado: os familiares dos reféns o acusam de ter sido um obstáculo nas negociações para trocá-los por cessar-fogo e prisioneiros palestinos, o presidente Biden o critica por dizer em inglês o que nega em hebraico, ele é réu em dois processos por corrupção marcado para começar em 4 de dezembro, e, agora, tornou-se suspeito de um vazamento para dois órgãos de imprensa estrangeiros, a revista alemã Bild e o jornal Jewish Chronicle, de Londres, de papeis secretos que seriam manuscritos de Yahya Sinwar. Outra acusação é a da edição de atas de reuniões do governo sobre a guerra, inútil porque elas estão gravadas.
Um dia antes de receber a carta de demissão, o ministro Gallant ordenou o recrutamento de 7 mil jovens ultraortodoxos, porque os reservistas já enfrentaram duas frentes de combate, em Gaza e no Líbano, e seus tempos de serviço estão muito estendidos. Mas os partidos extremistas que os representam ameaçam deixar o governo minoritário no Parlamento. Os religiosos recebem verbas dos israelenses ativos para só estudarem e rezarem, o que revolta os contribuintes do imposto de renda.
O ministro da Segurança de extrema direita Itamar Ben Gvir saudou a demissão de Gallant afirmando que, com ele, “não é possível alcançar uma vitória absoluta” que, para os religiosos, é a anexação dos territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.