A defesa de Israel da acusação de que cometeu genocídio em Gaza explorou um dado negligenciado pela África do Sul — o acusador na Corte Internacional de Haia: o massacre do Hamas de 7 de outubro.
Os representantes sul-africanos basearam suas acusações na retaliação de Israel ao Hamas, tirando-as do contexto. Os israelenses expuseram um áudio de um palestino telefonando para o pai, orgulhoso porque tinha matado dez israelenses. Fotos de crianças e mulheres sequestradas e mortas, nos telões do tribunal, e links para vídeos no processo, com o pedido de que os 15 juízes os vejam, marcaram o início da defesa de Israel.
"Dificilmente haverá uma acusação mais falsa e mais malévola do que a alegação de genocídio contra Israel", disse Tal Becker, o conselheiro legal do Ministério de Relações Exteriores de Israel.
Becker também criticou a omissão da África do Sul sobre a prática do Hamas de instalar seus combatentes e sua infraestrutura militar em escolas, hospitais e locais públicos e civis, "uma prática duradoura e bem documentada". A acusação, para ele, ofereceu aos juízes "uma venda nos olhos", em vez de "uma lente".
Um orador após o outro, no time de defesa de Israel, mostrou que a África do Sul banalizou o termo genocídio, usando-o "numa história grosseiramente distorcida", e preservando o Hamas, "uma organização terrorista reconhecida internacionalmente".
Acusar Israel de genocídio, quando o país não queria e nem iniciou a guerra, e onde vivem e trabalham milhares de palestinos, e defender o Hamas, que ataca e se esconde nos túneis construídos com dinheiro enviado para os palestinos, transformados em escudos, "é uma aberração", resumindo o que disseram os advogados de Israel. Quanto mais morrem civis, mais ganha o Hamas em apoio internacional.
Coube à Galit Raguan, diretora interina da Divisão de Justiça Internacional do Ministério da Justiça de Israel, listar o cuidado com a população civil do exército israelense. Antes dos ataques, milhares de palestinos foram avisados para sair de onde estavam, porque poderiam ser atingidos. Panfletos em árabe caíram nas ruas despejados por helicópteros. Postagem nas redes sociais indicaram, com mapas, os locais mais seguros para ficar. Incubadoras israelenses reforçaram as maternidades de Gaza. A ajuda humanitária não foi interrompida. Só a entrada de gasolina acabou limitada, porque o Hamas precisava dela para manter a rede de túneis habitáveis.
"Isso é genocídio?", ela perguntou.
Outro defensor de Israel, Christopher Staker, tratou especificamente das medidas emergenciais pedidas pela África do Sul, a serem implantadas antes do julgamento do mérito das acusações. Uma delas, a interrupção das operações militares, foi concebida, segundo ele, "para proteger o Hamas das atrocidades que cometeu em 7 de outubro e incentiva o grupo terrorista a repetí-las". Ele acrescentou:
"Se concedida, significaria que, quando um grupo terrorista comete ataques terroristas contra um Estado, poderá recorrer a um terceiro para obter medidas provisórias que impeçam a vítima de se defender. As medidas provisórias impediriam Israel de defender seus cidadãos, mais cidadãos poderiam ser atacados, estuprados e torturados [pelo Hamas]".
O professor Malcolm Shaw, especialista em direito internacional da Universidade de Leicester, no Reino Unido, explicou que o ataque do Hamas em 7 de outubro não permite que Israel viole a lei internacional, mas lhe dá o direito à autodefesa de acordo com a lei humanitária". Ele alertou que "o uso indevido da acusação de genocídio corre o risco de diluir seu verdadeiro significado".
Fora do tribunal, palestinos gritavam "Liberdade para a Palestina", agitando bandeiras palestinas, e israelenses pediam a volta de mais de cem reféns ainda em Gaza. A decisão sobre as medidas especiais pedidas pela África do Sul pode ser anunciada talvez na semana que vem. Mas o julgamento sobre se Israel é ou não genocida pode levar anos.