A manchete do jornal israelense Haaretz parece irreal: “Biden e Khamenei estão preparando um acordo. Israel não percebeu os primeiros sinais”. O editorial levanta uma suspeita: os Estados Unidos e o Irã teriam um canal de comunicação direto?
Nesta quinta-feira vão se encontrar os negociadores dos EUA, Catar, Egito e Israel – “a cúpula da última oportunidade”, em Doha. O Irã manifestou o desejo de enviar uma delegação. E o Hamas, que informou que não participaria, “estará representado”, segundo fontes catarianas.
A vingança prometida pelo Irã pelo assassinato de líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, seria trocada e compensada pelo acordo de cessar-fogo e libertação de reféns e prisioneiros palestinos, após 11 meses de guerra. Os EUA estão mobilizando suas forças em todo o Oriente Médio, aprovaram uma nova venda de armas de 20 bilhões de dólares para Israel e querem afastar a fúria pró-palestina contra a vice e candidata Kamala Harris, que será referendada na segunda-feira na Convenção Democrata.
O enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, Amos Hochstein, saiu de uma reunião com o presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, nesta quarta-feira, declarando: “Continuamos a acreditar que ninguém realmente quer uma guerra em grande escala entre o Líbano e Israel”. Os embaixadores norte-americano, britânico e alemão em Tel Aviv e Jerusalém divulgaram um apelo público para um acordo imediato para Gaza.
O resumo, para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu: ele vai ter que escolher entre acabar com a guerra ou aceitar um “acordo de reféns”, como é conhecido entre os israelenses. Ele está sem espaço para ganhar tempo. Duas forças o pressionam: as famílias dos reféns, que se manifestam semanalmente, e seus ministros de extrema-direita do partido Otzma Yehudit, Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças), que, contra o acordo e a favor da anexação da Cisjordânia, prometem deixar o governo em minoria no Parlamento, provocando novas eleições.
Embora tenha enviado os negociadores titulares para Doha, os chefes do Mossad e do Shin Bet, o primeiro-ministro Netanyahu não lhes deu liberdade de manobra. A questão-chave é a retirada de Israel do Corredor Netzarim, ou Filadélfia, e a volta dos habitantes de Gaza às suas casas no Norte. Cerca de 1,9 milhão de palestinos estão numa área designada humanitária, em Muwasi, sob condições precárias. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, abriu uma discussão pública com Netanyahu, nesta semana, ao contradizê-lo quanto a perseguir “uma vitória total sobre o Hamas”, uma das justificativas para prosseguir com a guerra.
Segundo o jornal Haaretz, “Biden está dizendo a Netanyahu para salvar Haifa e Tel Aviv da destruição, recuperar alguns dos reféns e um pacote de ajuda para reabilitar as Forças de Defesa de Israel e, em troca, retirar-se de Gaza, libertar os prisioneiros palestinos seniores e deixar o líder do Hamas, Yahya Sinwar, a declarar que ganhou a guerra.”