O rosto ensanguentado e o punho erguido de Donald Trump, depois de sobreviver por milímetros a um atentado, já transformaram a corrida eleitoral para a Casa Branca. Entre líderes republicanos, o clima é de “Trump já ganhou”. Mas faltam mais de 100 dias para a eleição.
O presidente Joe Biden mandou pausar sua campanha, na sequência de duas semanas em que se defendeu como candidato apto para a reeleição, e já foi a TV três vezes para demonstrar compaixão e pedir orações para o rival, a quem acusava de ser um extremista e uma ameaça à democracia.
O atentado “beneficia” Trump, ao menos no curto prazo. Ele que se dizia uma “vítima” de perseguição política, agora é um “mártir”.
Da mesma forma como arrecadou 35 milhões de dólares ao se tornar o primeiro ex-presidente condenado por um crime, em maio, espera-se que tenha um aumento colossal de doações, durante a convenção do Partido Republicano, que começa nesta segunda-feira, em Milwaukee.
Com 125 milhões de visualizações em sua plataforma X, Elon Musk declarou apoio a Trump, imediatamente, depois do atentado. Outro influencer, o YouTuber Jake Paul, tuitou: “Se não estiver claro o suficiente quem Deus quer vencer (...) isso apenas os tornará maiores”.
Os eleitores indecisos tendem a decidir diante da avalanche de atenção dos jornais, da TV e das redes sociais a Trump, e não só nos Estados Unidos.
A foto icônica do rosto com sangue e o punho levantado correu o mundo e já é uma camiseta vendida on-line, e os republicanos a estão utilizando como símbolo de força.
O jornal New York Times de domingo pede aos americanos que “tenham clareza sobre o desafio que está enfrentando esta nação.
Os eventos de sábado não podem ser descartados como uma aberração. A violência está infectando e influenciando a vida política americana”.
E lembrou: “Em uma pesquisa realizada no mês passado pelo Chicago Project on Security and Threats, 10% dos entrevistados concordaram que o uso da força era justificado para impedir que Trump se tornasse presidente, e 7% disseram que o uso da força era justificado para reconduzir Trump à presidência”.
Na mesma edição do Times, escreveu Patti Davis, filha do presidente Reagan, que sofreu um atentado a bala em 1981: “Não sei como, ou se, essa experiência mudará o Sr. Trump.
Meu pai acreditava que Deus o poupou por um motivo muito específico, para acabar com a Guerra Fria com a União Soviética, para tentar chegar a algum tipo de acordo sobre armas nucleares. É possível que o que ele e Mikhail Gorbachev conseguiram não tivesse acontecido se ele não tivesse sido baleado”.
Os republicanos desencavaram uma frase de Biden em 8 de julho para culpá-lo pelo atentado: “É hora de colocar Trump no alvo”. Assim, fora do contexto, o atirador da Pensilvânia teria um mandante, ou um cúmplice, na Casa Branca.
Democratas rebatem lembrando que Trump minimizou os ataques ao Capitólio, em 6 de janeiro, e o ataque a martelo a Paul Pelosi, 84 anos, marido da ex-presidente democrata da Câmara.
O ex-estrategista de Obama, David Axelrod, falando à CNN, previu que Trump “será saudado como uma espécie de mártir” na Convenção Republicana.
O presidente do Partido Republicano em New Hampshire, Chris Ager, aposta em quem será o próximo presidente dos EUA: “É prematuro calcular o impacto político de uma tentativa de assassinato, mas não se engane: Donald Trump já estava derrotando Joe Biden com facilidade e os trágicos acontecimentos da Pensilvânia provavelmente apenas acelerarão esse ímpeto”.
E concluiu: “As pessoas já estão preparando a garganta para quinta-feira à noite, para que, quando Trump subir ao palco, possam gritar o mais alto que puderem”.