A conhecida geração Z, formada por jovens nascidos do meio dos anos 90 até 2010, está causando conflitos, choques e até abalando estruturas no mercado de trabalho – seja pelos questionamentos, problemas comportamentais ou até pela tendência de não levar o trabalho tão a sério quanto outras gerações, como os millennials, nascidos entre 1980 e os primeiros anos da década de 1990.
Na última pesquisa de 2023 de Tendências de RH da Great Place To Work, consultoria que certifica empresas e negócios com 1864 empresas, 68,1% dos entrevistados consideraram a geração Z a mais difícil de trabalhar. Tal choque com a chegada no mercado de trabalho causou até temor de empresas em contratar jovens nesta faixa geracional. Segundo um estudo que ouviu 800 gestores de empresas americanas, 4 em cada 10 têm evitado contratar os conhecidos ‘zillennials’. Entre os motivos, está a falta de habilidade de conversar, roupas inadequadas para o trabalho e pessoas que levam os pais para a entrevista de emprego.
Mas o choque inicial nos gestores pode estar dando lugar à adaptação com a geração Z. É o que aponta Dea Oliveira, Head de Diversidade e Inclusão. “Não tem para onde ir, a geração Z é a que está aqui agora. É difícil a empresa querer escolher a geração, uma hora você não terá mais profissionais para contratar, então isso se tornará um problema”, afirma.
Segundo Dea, o principal ponto que os gestores enfrentam com a chegada da geração Z no mercado de trabalho é a mudança de pensamento, ao comparar com a anterior, formada pelos millennials. “Se pensava antes em ‘eu preciso de um bom salário e isso me satisfaz’. A geração Z é movida por outras coisas, por propósito, qualidade de vida, saúde mental, precisam se conectar com a empresa.”
A geração Z busca uma empresa conectada com o propósito dela, não só o desafio no ambiente de trabalho, é guiada por paixão. Eles pensam: ‘Quero trabalhar, mas quero dividir meu tempo com outras coisas também importantes para mim
- Dea Oliveira.
Para Dea, será difícil fugir das mudanças que a geração está trazendo para o mercado. “Temos que entender que a geração Z está aqui e são os novos profissionais. Por isso que penso que é mais importante a empresa se adaptar, a geração entender como é o mercado, mas será difícil fugir dessa nova geração.”
Falta de engajamento da geração Z é desafiadora para as empresas
Em meio à busca de um bom salário, com bons benefícios e que supre o propósito, a geração Z adquiriu o costume de trocar diversas vezes de emprego. Por isso, a maioria dos gestores entende que manter o jovem na empresa e a produtivamente sejam os maiores desafios.
“A geração Z enxerga o trabalho como complementar a vida dela e, hoje em dia, com o mundo digital, ela acredita que trocar de emprego é muito mais rápido. Há jovens que pensam: ‘Se eu não conseguir por aqui, eu consigo de outras formas’, porque o mundo digital dá essa possibilidade”, diz Dea Oliveira. Demissões em massa e instabilidade também potencializam a falta de engajamento e retenção de jovens em empresas, segundo Dea.
Muitas vezes, essa falta de engajamento com o trabalho pode ser também uma necessidade de que promoções e validações ocorram mais rápido. Para a gestora de carreira Andrea Deis, a cultura de imediatismo também é algo que afeta a geração Z.
“Essa cultura de recompensa, a geração busca uma gratificação, reconhecimento, desalinhada com a empresa, impactando na cultura de produtividade. Muitas vezes isso gera frustração e aí, a evasão de talentos das empresas”, pontua Andrea.
Andrea indica que a necessidade de ser ouvido precisa ser suprida para manter o funcionário mais jovem. “A falta de engajamento ocorre porque a geração não é ouvida, eles querem poder participar da construção estratégica e quando isso não acontece, há a desmotivação”, avalia.
‘Folgados’ ou questionadores e autênticos?
Em diversas discussões pela internet, a geração Z é muitas vezes taxada de ‘folgada’ por valorizar a vida pessoal e o descanso perante ao trabalho e a carreira. Patricia Suzuki, Diretora de Gente e Gestão da Catho, diz que esse comportamento pode ser uma provocação para a evolução do mercado de trabalho.
A geração Z traz forte a busca pela realização pessoal, o desafio é potencializar valores e garantir que a troca impulsione um grupo de trabalho, explica Patricia Suzuki.
Ela indica que a geração é formada por pessoas questionadoras e, muitas vezes, autênticas. “Em geral, eles não reproduzem processos sem questionamentos, querem opinar, compreender sobre os processos. Nesse cenário, é importante investir em comunicação clara e frequente, além de investir no amadurecimento da geração”, pontua.
O comportamento e vestuário da geração Z muitas vezes causam debates nas empresas, mas Patrícia avalia que a geração chega sem ter a obrigação de ‘vestir a persona corporativa’. “Os profissionais naturalizam e não refletem sobre o que usar ou fazer no escritório. Por isso são mais individuais, mostram a personalidade”, pontua.
É importante educar para que o comportamento do indivíduo não ultrapasse o limite do respeito ao outro, ao cliente e à própria marca, o que pode acontecer em casos em que o colaborador envolve a marca e a empresa em suas ações e ideias pessoais, muito comum no uso das redes sociais, por exemplo - Patrícia Suzuki.
Conflito de gerações causa transtornos no ambiente de trabalho
Segundo a mesma pesquisa da Great Place To Work, o conflito geracional é o principal problema dos gestores atualmente, já que em um mesmo ambiente, cinco gerações convivem e trabalham juntas, da geração Z até os veteranos, com mais de 70 anos.
A convivência entre pessoas com idades tão diferentes pode causar conflitos, já que há diferentes demandas, ideias e propósitos em uma mesma empresa. Mas essa mesma convivência também pode ser benéfica. Para Patricia Suzuki o desafio maior é promover o diálogo entre as gerações, de forma franca e respeitosa.
“Quando a Geração Z atua e interage com os Baby Boomers, por exemplo, há grande oportunidade de desenvolvimento para os mais jovens em relação às habilidades interpessoais e de trabalho em equipe e para os mais velhos, de aprendizado e especialização em novas práticas, teorias e tecnologias. É um fator que vem para somar.”
Pandemia afetou comunicação da geração Z
Começando a vida profissional agora, a geração Z também enfrenta os efeitos do confinamento durante os anos de pandemia de Covid-19. Um deles é a falta de convívio social, que pode explicar o comportamento questionador, inseguro e que pede comunicação clara da geração.
“Foi nesse período em que houve a transição da educação para a entrada no mundo corporativo, no início da carreira profissional”, indica Dea Oliveira.
Para a Head de Diversidade e Inclusão, a pandemia também fez com que a geração valorizasse mais o pessoal, do que o profissional. “A pandemia trouxe vários impactos, um deles é esse, da pessoa dedicar tempo para vida, trabalhar quando quer, onde quer, a pandemia acelerou esse pensamento, de querer ser mais flexível.”