'Carniceiro', chefe de política externa: saiba quem são os líderes do Hamas

Possível mentor dos ataques contra Israel, Yahya Sinwar é o rosto mais conhecido do grupo radical islâmico, mas não é o único

Por Deutsche Welle

'Carniceiro', chefe de política externa: saiba quem são os líderes do Hamas
Cartaz em homenagem ao ex-líder do Hamas Ismail Haniyeh
REUTERS/Mohamed Azakir

Acredita-se que Yahya Sinwar seja o mentor do ataque terrorista de 7 de outubro, quando inúmeros combatentes do grupo radical islâmico Hamas cruzaram a fronteira da Faixa de Gaza com Israel, matando mais de 1.200 pessoas e sequestrando cerca de 240, segundo números do governo israelense.

Considerado o principal comandante do Hamas na Faixa de Gaza, ele é atualmente o homem mais procurado de Israel. O objetivo declarado do exército israelense é eliminá-lo e esmagar o grupo. Mas Yahya Sinwar é apenas um dos vários comandantes do Hamas. Saiba quem são eles.

Yahya Sinwar, "o carniceiro de Khan Yunis"

Visto como carismático e altamente inteligente, mas brutal e implacável, Yahya Sinwar governa o Hamas em Gaza com mão de ferro. Ele nasceu no campo de refugiados de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 1962, e foi um dos membros fundadores do Hamas em 1987. Alguns anos depois, também participou da criação do braço armado do grupo, as Brigadas Al-Qassam, que realizaram vários ataques suicidas em Israel.

Recebeu o apelido de "Carniceiro de Khan Yunis" depois de tomar medidas brutais contra palestinos suspeitos de colaborar com Israel.

Em 1988, foi condenado por um tribunal de Israel a quatro sentenças de prisão perpétua por matar dois soldados israelenses e assassinar vários palestinos. Na prisão, aprendeu hebraico e, segundo consta, estudou a mentalidade do "inimigo" lendo livros de personalidades israelenses famosas. Dizem que médicos israelenses salvaram sua vida ao removerem um abscesso de perto de seu cérebro.

Após 22 anos de prisão, foi solto em 2011 juntamente com mais de 1.000 palestinos, como parte de um acordo de troca de prisioneiros que levou o Hamas a libertar o soldado israelense Gilad Shalit, que estava há cinco anos em cativeiro. Sinwar retornou a Gaza e tornou-se responsável pela ligação entre os braços militar e político do Hamas. Em 2017, se tornou o líder do grupo islâmico na Faixa de Gaza.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o acusou recentemente de sacrificar deliberadamente civis palestinos na luta contra Israel e disse que Sinwar não "se importava com sua nação e estava agindo como um pequeno Hitler em seu bunker".

Acredita-se, porém, que Sinwar tenha deixado seu bunker e esteja agora escondido nos túneis de Gaza.

Khaled Mashal, o líder fora de Gaza

Um dos líderes mais importantes do Hamas não está em Gaza, mas no Catar. Nascido na Cisjordânia em 1956, Khaled Mashal estudou Física na Universidade do Kuwait, onde se radicalizou. Posteriormente, morou na Síria e na Jordânia e foi membro fundador do escritório político do Hamas, do qual mais tarde se tornou presidente, em 1996.

Repetidamente pediu "terror" contra Israel e, em 1997, sobreviveu a uma tentativa de assassinato pela Mossad, a agência de inteligência de Israel.

Em 2012, viajou para Gaza via Egito para comemorar o 25º aniversário de fundação do Hamas. Esta teria sido sua primeira viagem a territórios palestinos em 45 anos. Em 2017, deixou o cargo de chefe do escritório político do Hamas para dar lugar a Haniyeh. Agora, é chefe do escritório de política externa do grupo.

Líderes do Hamas mortos após o 7 de outubro

Ismail Haniyeh, chefe do braço político

No final de julho deste ano, o Hamas e a Guarda Revolucionária Iraniana confirmaram a morte de Ismail Haniyeh, um dos líderes do grupo radical islâmico no exílio, durante visita à capital iraniana, Teerã. Ele se encontrava no país para participar da posse do novo presidente iraniano.

O ataque não foi reivindicado por ninguém, mas o Hamas, assim como a televisão estatal iraniana, acusam Israel de perpetrar o ataque, uma vez que o país havia "prometido" matar Haniyeh e outros líderes do Hamas, na sequência do ataque do grupo radical em 7 de outubro.

Geralmente considerado o líder supremo da organização, Haniyeh nasceu em um campo de refugiados em Gaza e entrou para o Hamas em 1987, durante a fundação do grupo e em meio a um cenário de grande revolta contra Israel.

Estudou em uma escola das Nações Unidas e na Universidade Islâmica de Gaza, onde teria entrado em contato com movimentos radicais de independência. Foi nomeado diretor do departamento de Filosofia em 1993 e, em 1997, tornou-se secretário pessoal do líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin.

Em 2006, foi nomeado primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina pelo presidente Mahmoud Abbas depois que o Hamas conquistou a maioria dos assentos nas eleições legislativas. No entanto, foi demitido do cargo apenas um ano depois, quando o Hamas desencadeou uma onda de violência mortal para expulsar o partido Fatah, de Abbas, da Faixa de Gaza.

Haniyeh se recusou a renunciar, e o Hamas continua governando a Faixa de Gaza até hoje, enquanto o Fatah permanece responsável pela Cisjordânia ocupada. Em 2017, Haniyeh foi eleito chefe do escritório político do Hamas, sucedendo Khaled Mashal.

Haniyeh era o rosto da diplomacia internacional do grupo radical. Mantinha uma retórica dura, mas era visto por muitos diplomatas como um moderado em comparação com outros membros do Hamas.

Mohammed Deif, "gato de nove vidas"

Considerado o número 2 do Hamas em Gaza, atrás apenas de Yahya Sinwar, Mohammed Deif foi morto durante um bombardeio israelense na zona humitária de Al-Mawasi no dia 13 de julho deste ano. Segundo o exército de Israel, "Deif iniciou, planejou e executou o massacre de 7 de outubro".

Mohammed Deif era o alvo principal do ataque israelense que deixou mais de 90 mortos, incluindo civis refugiados, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas. Uma bomba de 900 quilos que explodiu perto da casa onde Deif estava escondido abriu uma cratera gigante.

Desde 2002, Deif liderava o braço militar do Hamas, as Brigadas Al-Qassam. Israel o considera responsável por vários ataques suicidas e pela morte de dezenas de soldados e civis israelenses, além de um dos responsáveis pelo extenso sistema de túneis do Hamas em Gaza.

Deif era um dos homens mais procurados de Israel desde 1995. Foi preso temporariamente em Israel em 2000, mas conseguiu escapar durante o tumulto da segunda intifada, um levante armado palestino que durou de 2000 a 2005.

Desde então, praticamente não havia vestígios dele. Acredita-se que tenha sobrevivido a sete tentativas de assassinato, que o deixaram gravemente ferido e mataram vários membros de sua família. Deif teria perdido um olho, um pé e parte de um braço. Ele nunca aparecia em público e sua única foto conhecida era de 2000. Havia rumores de que Deif passava cada noite em um prédio diferente para se proteger de ataques.

Marwan Issa, o braço direito de Deif

Em março deste ano, Israel já havia eliminado num ataque aéreo contra um complexo subterrâneo no centro de Gaza aquele que considerava o "número 3 do Hamas": Marwan Issa. Embora saiba-se que ele também nasceu num campo de refugiados em Gaza, pouco se sabe sobre sua juventude. Especula-se que ele tenha pertencido ao ramo palestino da Irmandade Muçulmana, movimento fundado no Egito nos anos 1920 e que influenciou diversos grupos radicais islâmicos, incluindo a rede terrorista Al-Qaeda e o próprio Hamas.

Ele cumpriu uma sentença de cinco anos de prisão em Israel durante a primeira intifada (1987-1993). Foi preso em 1997 pela Autoridade Nacional Palestina, mas libertado após o início da segunda intifada em 2000. Antes de morrer, era vice-comandante-chefe das Brigadas Al-Qassam e, consequentemente, braço direito de Mohammed Deif.

Issa também sobreviveu a várias tentativas de assassinato por parte de Israel e estava no topo da lista de procurados pelo Estado judeu. Presume-se que ele também tenha desempenhado um papel importante no planejamento e na execução do ataque de 7 de outubro.

Autor: Thomas Latschan

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