Zinho, nome pelo qual é conhecido Luiz Antônio da Silva Braga, está no presídio de segurança máxima Bangu 1, na Zona Oeste do Rio, desde domingo (24), quando se entregou à Polícia Federal. Ele tinha 12 mandados de prisão e estava foragido desde 2018.
O chefe da antiga Liga da Justiça - hoje Bonde do Zinho - a maior milícia da capital carioca, está em uma cela isolada, de 6 m². Neste primeiro momento, Zinho não tem acesso a banho de sol, nem ao refeitório. Ao todo, foram mais de 50 homens envolvidos na transferência dele para a penitenciária.
O miliciano assumiu o comando da milícia da família Braga em 2021, após dois meses da morte de seu irmão. Ecko, codinome de Wellington da Silva Braga, chefiava a facção e morreu em confronto com a polícia em 12 de junho daquele ano.
O início
Antes de assumir o controle do grupo, Zinho ficava encarregado da contabilidade e da lavagem do dinheiro oriundo das atividades ilegais. Já nas funções financeiras, foi alvo de vários ações para captura, mas sempre conseguiu fugir.
Luiz Antonio chegou a ser preso em 2015 pela Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco). Porém, acabou liberado em um Plantão Judiciário.
O miliciano já integrava a Liga da Justiça, que surgiu em Campo Grande, na Zona Oeste, no final dos anos 1990. A milícia foi fundada pelos agentes da Polícia Civil Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho - ex-vereador do Rio assassinado em 2022 - e o ex-deputado Natalino José Guimarães.
Após a prisão de todos os líderes em sequência - Jerominho em 2007, Natalino em 2008 e três policiais militares de 2009 a 2014 - a Liga ficou sob comando de um civil pela primeira vez com Carlos Alexandre Braga, irmão de Zinho.
Carlinhos Três Pontes, como era conhecido, iniciou a expansão do grupo antes restrito aos bairros Campo Grande, Santa Cruz e Paciência. A Firma, como passou a ser chamada, se espalhou para a Baixada Fluminense, além de Itaguaí e Seropédica, cidades da Região Metropolitana do RJ.
Ex-traficante, Carlinhos também estreitou os laços com facções do tráfico. O miliciano foi morto em 2017, numa ação policial, e Ecko assumiu o controle do grupo, que passou a se chamar Bonde do Ecko. Quatro anos depois, com sua morte, Zinho assume o comando.
Dados do Fogo Cruzado mostram que, a cada 48 horas, uma pessoa morre baleada na Zona Oeste, região de controle da milícia. Nos primeiros 9 meses de 2023, a plataforma registrou 145 mortes e 401 pessoas feridas, um aumento de 55% em comparação com o mesmo período de 2022.
Por que Zinho se entregou à polícia
O miliciano disse que estava arrependido dos crimes que cometeu e decidiu se entregar para cuidar da família, segundo o secretário de Segurança Pública do Rio, Victor César dos Santos.
O criminoso se apresentou no último domingo (24) à Polícia Federal, horas antes das comemorações do Natal. Zinho se entregou após uma semana de negociações com os órgãos de segurança pública do Rio. Os detalhes das tratativas não foram divulgados.
Há cerca de uma semana, o miliciano foi alvo de duas operações deflagradas pela Polícia Federal do Rio, com o objetivo de desarticular os braços financeiros e políticos da organização criminosa.
Uma delas culminou com o afastamento da deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) das funções parlamentares. Ela é acusada de usar o cargo político para beneficiar a milícia de Zinho. Além disso, as investigações apontaram que a deputada era chamada de "madrinha" pelos criminosos.
O que pode acontecer agora
- A prisão de Zinho pode abrir espaço para uma nova guerra na Zona Oeste, região dominada pela Liga da Justlça.
- Para o perito em Criminalística e Psicanálise Forense José Ricardo Bandeira, grupos criminosos rivais podem tentar tomar o controle de áreas do miliciano preso.
- Agora, dois criminosos passam a ser os mais procurados do Rio: Danilo Dias Lima, o Tandera, e Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o traficante Abelha.
- Zinho deve ser ouvido pela Polícia Federal nos próximos dias. A expectativa é que ele colabore com as autoridades na investigação de diversos crimes.
- Pipito - como é conhecido Rui Paulo Gonçalves Estevão - é o principal nome atualmente na linha de sucessão da Liga. Em outubro, ele deu ordem para queima de 35 ônibus na Zona Oeste, segundo investigações da Polícia Civil do Rio.
- O ataque aconteceu em retaliação à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, sobrinho de Zinho e o segundo nome mais importante do grupo. Faustão morreu em confronto com a polícia em 23 de outubro de 2023.