Quem é a atriz alemã estrela de 2 filmes indicados ao Oscar

Sandra Hüller ganhou destaque internacional por papeis em "Anatomia de uma queda" e "Zona de Interesse". Ela também concorre ao Oscar de melhor atriz.

Por Deutsche Welle

A atriz alemã Sandra Hüller, de 45 anos, ganhou destaque internacional após estrear dois filmes altamente elogiados em 2023 e que concorrem ambos ao Oscar de melhor filme e melhor diretor: Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse. Hüller foi indicada ainda ao Oscar de melhor atriz por sua atuação no primeiro deles.

Em Anatomia de uma Queda, longa francês dirigido por Justine Triet, Hüller interpreta uma escritora alemã de sucesso acusada de assassinar seu marido. Já em Zona de Interesse, drama sobre o Holocausto dirigido por Jonathan Glazer, ela dá vida a esposa de um comandante do campo de extermínio de Auschwitz.

Hüller é a terceira alemã indicada ao Oscar de melhor atriz. As anteriores foram Luise Rainer, que conquistou o prêmio por dois anos consecutivos em 1936 e 1937, e Marlene Dietrich, vencedora em 1930.

Por sua atuação nestes dois filmes, Hüller conseguiu uma indicação dupla inédita ao prêmio de melhor atriz do European Film Awards (EFAs), a versão europeia do Oscar. Em dezembro, ela acabou conquistando o prêmio por seu trabalho em Anatomia de uma Queda, que também levou o troféu de melhor filme na premiação.

Um dia após essa conquista, a Los Angeles Film Critics Association escolheu o drama dirigido por Jonathan Glazer, ambientado em Auschwitz, como o melhor filme do ano, e Hüller também foi premiada com um dos principais prêmios de atuação concedidos pela associação.

Ambos os filmes foram destaque no Festival de Cinema de Cannes do ano passado, com Anatomia de uma Queda recebendo a Palma de Ouro e Zona de Interesse conquistando o Grand Prix, o segundo lugar melhor filme do festival.

Os dois filmes também foram nomeados na categoria de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro. Hüller também foi indicada na categoria melhor atriz de drama por sua atuação em Anatomia de uma Queda, mas acabou não levando o prêmio.

Raízes no teatro e na Alemanha Oriental

Hüller nasceu em 30 de abril de 1978 e cresceu na pequena cidade de Friedrichroda, localizada na região rural do estado da Turíngia, na antiga Alemanha Oriental. Influenciada por um professor e por um curso de teatro na escola, Hüller se mudou para Berlim, onde pouco depois da queda do Muro, ela, com apenas 17 anos, se inscreveu e foi aceita na prestigiada Academia de Artes Dramáticas Ernst Busch.

Sua ascensão no universo do teatro na Alemanha foi meteórica. Em 2003, ano de sua formatura na Ernst Busch, Hüller foi eleita a melhor atriz jovem em uma pesquisa realizada pelos críticos alemães para a revista Theater Heute.

Ela permaneceu fiel às suas raízes teatrais mesmo ao ingressar no cinema, voltando regularmente aos palcos. Ela continuou sendo a favorita da crítica e foi eleita atriz do ano pela Theater Heute em 2010, 2013, 2019 e 2020. Este último reconhecimento foi concedido por sua interpretação de Hamlet, na peça dirigida pelo holandês Johan Simons.

Drama visceral e comédia constrangedora

Hüller estreou no cinema em 2006. Em Requiem, de Hans-Christian Schmid, ela interpreta uma jovem, proveniente de uma família católica devota, que sofre de epilepsia e tem pensamentos rebeldes que acabam sendo erroneamente interpretados como sinais de possessão demoníaca. Por esse papel, ela ganhou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Cinema de Berlim de 2006.

Ela ganhou destaque internacional dez depois por sua atuação na improvável e engraçada comédia constrangedora alemã Toni Erdmann, de Maren Ade. No filme, Hüller interpreta uma consultora corporativa ambiciosa e rígida, cujos planos de carreira são interrompidos pelas intervenções indesejadas de seu amoroso e brincalhão pai, interpretado pelo falecido Peter Simonische

O London Critics Circle, a Toronto Film Critics Association e a National Society of Film Critics dos Estados Unidos consideraram a atuação de Hüller em Toni Erdmann como a melhor performance feminina daquele ano. Ela também recebeu o prêmio de melhor atriz em 2016 da Academia Europeia de Cinema.

De um chalé francês para "Big Brother nazista"

Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse, dois filmes radicalmente diferentes, mostram a tremenda versatilidade de Hüller como atriz.

Anatomia de uma Queda é um complexo drama legal francês. Trata-se de um thriller intelectual que gira em torno de Sandra, uma escritora alemã bem-sucedida, que reside em um chalé isolado nos Alpes franceses e é suspeita de ter assassinado seu marido francês, interpretado por Samuel Theis. A diretora Justine Triet contou ter escrito o papel de Sandra para Hüller.

A performance de Hüller, atuando em inglês e francês, permanece ambígua até o desfecho. Praticamente toda cena, seja durante conflitos com o marido, confortando o filho pequeno ou apresentando sua defesa no tribunal, pode ser interpretada de ambas as formas.

Em Zona de Interesse, há pouca ambiguidade e praticamente nenhuma expressão emocional na atuação de Hüller como Hedwig Höss, a esposa de Rudolf Höss – o comandante que permaneceu por mais tempo no campo de extermínio de Auschwitz e que foi enforcado por crimes de guerra em 1947.

Glazer contou que Hüller estava "muito apreensiva" em interpretar uma nazista na tela, algo que ela havia recusado fazer até então. Mas o diretor britânico a convenceu de que seu filme seria diferente. E certamente é.

Zona de Interesse tem uma atmosfera diferente de qualquer filme já feito sobre o Holocausto. O filme nunca mostra diretamente as atrocidades de Auschwitz. Não há uma única cena de violência. A história se desenrola como um drama familiar perverso, enquanto observamos Rudolf e Hedwig Höss fazendo piquenique à beira do rio, brincando com seus filhos no jardim ou conversando com amigos. Fora da visão, mas ao alcance dos ouvidos, há ecos de tiros, latidos de cães e uivos de dor.

Glazer reconstruiu a casa da família Höss em Auschwitz, a poucos metros do antigo campo de extermínio, que agora é um memorial, e instalou câmeras de vigilância para filmar os atores durante as cenas — uma abordagem que ele chamou de "Big Brother nazista".

Ao encenar seu filme como um reality show, Glazer quebra as convenções fáceis e os clichês dos filmes sobre o Holocausto. Em vez de retratar Hedwig e Rudolf como monstros, ele os apresenta como pessoas comuns, até mesmo entediantes, tornando suas ações mais compreensíveis e, ao mesmo tempo, mais horríveis.

A 96ª edição do Oscar anual acontecerá neste domingo (10/03) em Los Angeles.

Autor: Scott Roxborough

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