Vladimir Putin em busca de apoio militar e financeiro na China

Em Pequim, líder russo e presidente chinês assinam declaração para aprofundar parceira estratégica. Desde invasão da Ucrânia, Rússia perdeu aliados ocidentais

Por Deutsche Welle

Vladimir Putin ao lado de Xi Jinping em Beijing, na China
Sputnik/Alexander Ryumin/Pool via REUTERS

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou à China nesta quinta-feira (16) para a sua primeira viagem oficial após assumir seu quinto mandato à frente do governo russo.

Esta é a segunda viagem do líder russo ao país aliado em menos de seis meses, em meio a um crescente isolamento perante seus antigos parceiros ocidentais, passados mais de dois anos desde a invasão militar russa da Ucrânia.

Putin viajou em busca de apoio militar e financeiro do presidente chinês, Xi Jinping, enquanto seu país sofre as consequências das pesadas sanções impostas pelo Ocidente e de uma guerra cujo fim ainda está fora de qualquer perspectiva.

"As relações entre Rússia e China não são oportunistas e tampouco voltadas contra qualquer parte", disse Putin, após ser recebido com honras militares e uma grandiosa cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo, na Praça da Paz Celestial em Pequim. "Nossa cooperação em questões internacionais é um dos fatores estabilizadores na arena global."

Em coletiva de imprensa ao lado de Xi, Putin disse que iriar atualizar o líder chinês sobre a atual situação da crise na Ucrânia. "Somos gratos a nossos amigos e colegas chineses pelas iniciativas que foram colocadas para resolver esse problema."

Os dois líderes assinaram uma declaração conjunta para aprofundar a parceria estratégica. "Putin e eu concordamos que devemos buscar ativamente pontos de convergência nos interesses das duas nações, de modo a desenvolver vantagens mútuas e aprofundar a integração dos interesses", disse Xi.

Apesar de os dois líderes afirmarem que buscam uma resolução do conflito na Ucrânia, não houve nenhum sinal de qualquer medida concreta em relação ao tema. "A China tem esperanças de um retorno à paz e estabilidade na Europa e continuará a exercer um papel construtivo nesse sentido", afirmou Xi.

Afronta a Washington

Xi e Putin criticaram o que consideram um comportamento cada vez mais agressivo dos Estados Unidos no cenário internacional e prometeram reforçar os laços militares e de defesa.

Em um gesto de afronta a Washington, Xi sinalizou que os governos chinês e russo concordam em uma série de temas relevantes, incluindo a crise na Ucrânia, e deixou claro que não vai sucumbir às pressões ocidentais no que diz respeito às relações com o Kremlin. No mês passado, a Casa Branca enviou a Pequim o secretário de Estado, Antony Blinken, para tentar persuadir o governo chinês a diminuir seu apoio a Moscou.

"O relacionamento sino-russo dos dias atuais foi duramente conquistado, os dois lados devem apreciá-lo e nutri-lo", disse Xi a Putin. "A China deseja realizar em conjunto o desenvolvimento e rejuvenescimento de nossos respectivos países e trabalhar para manter a equidade e a justiça no mundo."

O líder chinês sublinhou que as relações bilaterais "não dizem respeito somente aos interesses fundamentais dos dois países [...], mas também à condução da paz".

Xi e Putin também selaram acordos de cooperação em vários campos durante uma cerimônia em Pequim, onde o presidente russo está hospedado para a visita de Estado que vai até amanhã.

Aliança "sem limites"

Em um encontro bilateral em 2022, enquanto o resto do mundo condenava a decisão russa de invadir a Ucrânia, os dois governos declaravam que suas relações eram "sem limites". A China possui forte influência sobre a Rússia, principalmente após o início da guerra na Ucrânia, razão pela qual os Estados Unidos e a União Europeia (UE) pediram que o líder chinês utilize essa influência para pôr fim ao conflito.

Pequim continua a fornecer os componentes que Moscou necessita para sua produção industrial bélica, ao mesmo tempo em que se beneficia da importação de gás e petróleo russos a baixo custo.

Contudo, a China se vê cada vez mais pressionada pelo Ocidente. Seu sistema bancário está sob constantes ameaças de sanções dos EUA que poderia interromper o acesso chinês aos mercados financeiros internacionais.

Antes da viagem a Pequim, Putin afirmou que discutiria com Xi a definição de "áreas fundamentais de desenvolvimento na cooperação sino-russa, além de perspectivas sobre questões regionais e internacionais". Também estava na agenda a "parceria compreensiva e a cooperação estratégica" entre as duas nações.

rc/cn (AFP, AP)

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