Protestos eclodiram na Venezuela nesta segunda-feira (29/07), depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um órgão fortemente controlado pelo regime, ter declarado o presidente, Nicolás Maduro, vencedor na eleição de domingo. Em todo o país, foram registrados confrontos violentos entre manifestantes e forças de segurança, com relatos de pelo menos uma morte em conexão com as manifestações. Mais protestos foram convocados para esta terça-feira.
A oposição contesta o resultado, afirmando que uma contagem realizada a partir de atas de votação disponibilizadas aos fiscais de seu grupo político (cerca de 40% do total), sinalizaram que o candidato opositor, Edmundo González Urrutia, caminhava para receber 70% dos votos. A desconfiança em relação ao resultado anunciado pelo CNE também foi exacerbada pela ausência de divulgação de todas as atas da eleição.
Nesta terça-feira, a Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou que as eleições na Venezuela sofreram "a mais aberrante manipulação".
"Ao longo de todo este processo eleitoral vimos a aplicação pelo regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição da manipulação mais aberrante", afirma comunicado do gabinete do secretário-geral, Luis Almagro.
De acordo com o Observatório de Conflitos da Venezuela, até as 18h de segunda, haviam sido registrados 187 protestos em 20 estados, com relatos de "inúmeros atos de repressão e violência realizados por coletivos paramilitares e forças de segurança". Imagens de televisão mostraram a polícia usando gás lacrimogêneo e ocasionalmente batendo em pessoas. Tiros também foram disparados contra manifestantes que marchavam para o palácio presidencial na capital Caracas, informou o jornal El Nacional.
Em Caracas, a polícia ergueu barreiras com escudos e cassetetes e usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes. Em Coro, capital do estado de Falcón, manifestantes aplaudiam enquanto era derrubada uma estátua representando o ex-presidente Hugo Chávez, mentor de Maduro e morto em 2013.
Por todo o país, foram organizados panelaços e motociatas. Muitos manifestantes carregavam bandeiras da Venezuela. Alguns cobriam o rosto com lenços como proteção contra gás lacrimogêneo.
"Eu lutarei pela democracia do meu país. Eles roubaram a eleição de nós", disse um manifestante à agência de notícias Reuters. "Precisamos continuar lutando pela juventude".
Segundo a ONG Foro Penal, pelo menos uma pessoa morreu e outras 46 foram presas em conexão com as manifestações. A morte teria sido no estado de Yaracuy, no norte, embora ainda não haja detalhes sobre o ocorrido. A imprensa local fala ainda em mais uma morte na véspera, no estado de Tachira, durante um tiroteio numa seção eleitoral.
Maduro culpa extrema direita por "protestos violentos"
Em uma transmissão ao vivo do palácio presidencial de Miraflores, Maduro disse que suas forças estavam agindo contra o que chamou de "protestos violentas". As forças armadas há muito apoiam Maduro e não há sinais de que os líderes estejam rompendo com o governo.
"Temos acompanhado todos os atos de violência promovidos pela extrema direita. Posso dizer ao povo da Venezuela que iremos agir se eles fizeram mal", disse ele.
"Já conhecemos esse filme, então, mais uma vez, junto com a união civil, militar e policial, estamos agindo. Já sabemos como eles operam."
O Ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, também alertou contra permitir uma repetição das "situações terríveis de 2014, 2017 e 2019", quando centenas de manifestantes foram mortos.
Protestos devem continuar nesta terça
Através da rede X, a líder da oposição Maria Corina Machado, que foi impedida pela Justiça controlada pelo regime de concorrer no pleito, convocou mais protestos para esta terça.
"Meus queridos venezuelanos, amanhã [terça] nos reuniremos como uma família, organizados, demonstrando a determinação que temos de fazer cada voto valer e defender a verdade", escreveu.
Jorge Rodriguez, um parlamentar do partido governista e gerente de campanha de Maduro, pediu aos seguidores do governo que participassem de marchas até o palácio presidencial em sinal de apoio ao governo.
Anúncio de resultado contestado
As autoridades eleitorais controladas pelo regime disseram na segunda-feira que Maduro havia conquistado um terceiro mandato consecutivo como presidente, com 51% dos votos. Nenhum número detalhado foi divulgado e o site da Justiça Eleitoral venezuelana segue fora do ar.
Pesquisadores independentes chamaram a alegação de vitória de Maduro de implausível, e governos de diversos países imediatamente lançaram dúvidas sobre os resultados, clamando por transparência na contagem dos votos.
Em entrevista à CNN, o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Omar Paganini, disse que seu governo "nunca" reconhecerá Maduro como o vencedor, enquanto o governo peruano deu 72 horas para que diplomatas venezuelanos deixassem o Peru, citando "decisões sérias e arbitrárias tomadas hoje pelo regime venezuelano".
A Organização dos Estados Americanos disse que se reunirá na quarta-feira em Washington para discutir a eleição na Venezuela.
ip/le (ots, dpa, lusa, afp, ots)