Um consenso entre analistas é que a política externa dos Estados Unidos deve mudar drasticamente com Donald Trump na presidência do país. Por exemplo, o presidente eleito já deixou claro que menos recursos devem ser enviados para ajudar a Ucrânia na guerra com a Rússia. Entretanto, a existência de conflitos como esse e o que aflige a Faixa de Gaza também podem ajudar a explicar a derrota de Kamala Harris na eleição.
Segundo Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM-SP, houve uma diferença expressiva na forma como os candidatos abordavam a questão. Enquanto os Democratas falavam em continuidade das guerras, os Republicanos falavam em acabar com elas.
“Se ele vai fazer isso ou não é outra história, mas o fato é que a mensagem que o Trump martelou na orelha no eleitor foi: ‘No dia seguinte ao entrar na Casa Branca, eu acabo com a guerra na Ucrânia’. O que acontece é que isso colou, foi uma mensagem eficaz", destaca o especialista.
Kamala, inclusive, fez inúmeros eventos de campanha com Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney, nome fortemente ligado à guerra do Iraque, considerada um dos maiores fracassos da política externa dos EUA. A própria Liz é uma figura vista como pró-guerra
Em um contexto mundial no qual guerras assolam regiões do mundo e assustam o eleitorado, a análise é que foi um erro se associar a essas figuras, justamente por evocar lembranças ruins de erros passado do país.
Por exemplo, na cidade de Dearborn, no estado de Michigan, há uma grande população árabe. Joe Biden havia ganhado a região com 70% dos votos em 2020. Agora, Trump venceu com com 42%, enquanto 36% votaram em Kamala. 18% votaram na candidata do Partido Verde, Jill Stein. Para analistas, isso pode indicar uma revolta da população com a posição pró-Israel do governo Biden.
Trevisan cita uma tradição que costuma ser citada nos Estados Unidos: que Republicanos seriam eficientes em encerrar crises que os Democratas começam.
“Joe Biden e Kamala repetiam o mesmo discurso, que é um discurso racional: 'vamos continuar a apoiar a Ucrânia, vamos proteger a Europa'. Tudo isso dá isso para o eleitor um sinal de continuidade da guerra. Trump prometeu acabar com a guerra, Kamala prometeu continuar. Isso é o que foi compreendido", destaca o professor..