Boate Kiss: Julgamento deve acabar nesta sexta-feira

Sentença para os quatro réus pode sair a partir das 17h de hoje

Por Ticiano KesslerRodrigo Leite

O julgamento da tragédia da Boate Kiss deve acabar nesta sexta-feira (10). Os jurados já estão reunidos e vão analisar se os quatro réus são culpados ou inocentes pelas mortes de 242 pessoas. 

Em dez dias de julgamento, foram mais de 30 depoimentos, incluindo os quatro réus. Elissandro Spohr, o Kiko, sócio da boate, Mauro Hoffman, sócio-investidor, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, integrantes da banda Gurizada Fandangueira são os reús acusados pelos 242 homicídios simples consumados e 636 tentativas, com dolo eventual - quando existe o risco à vida.

Nesta quinta-feira (9), no nono dia do julgamento, três réus foram interrogados. Entre eles, o assistente da banda, Luciano Bonilha. “Tenho minha consciência muito tranquila que não foi meu ato que causou essa tragédia. Mesmo sabendo que sou inocente, sou uma vítima, para tirar a dor dos pais, estou pronto me condenem”, disse. 

Foi ele quem comprou os artefatos pirotécnicos que causaram o incêndio na boate. Luciano disse que nunca foi avisado que os itens não poderiam ser usados em ambientes fechados. “Nunca tive essa informação, e essa informação só saiu depois aconteceu o sinistro que o rapaz disse que tinha me passado essa informação e chegou até citar que eu tinha curso. A história dele é o que me bota hoje aqui”, disse. 

O vocalista da banda, Marcelo dos Santos, que manuseou o artefato, disse que tentou apagar o fogo, mas que os extintores não funcionaram. “Eu tive uma chance só de apagar o fogo e a chance que tive não consegui. Não funcionou o extintor”, disse.

Já o empresário Mauro Hoffmann, que era sócio da Boate Kiss, enfatizou que era só um investidor e que não tinha relação com a administração da boate. “Vou dizer mais, eu não tinha a chave da boate”, contou. 

Depois dos interrogatórios dos réus, foi a vez da fase de debates. A acusação falou por duas horas e meia, pedindo aos jurados que condenem os réus por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. “Nós estamos aqui para mostrar ao mundo que as coisas não podem se repetir”, disse a promotora de Justiça, Lucia Helena Callegari. 

Durante a noite, os advogados dos quatro réus se manifestaram, entre os argumentos, disseram que os acusados não tinham intenção de causar a tragédia. “Estão sentados no banco dos réus também prefeitura, bombeiros e o MP também”, disse o advogado de defesa, Jean Severo. 

A tragédia

No palco da Boate Kiss, em janeiro de 2013. se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, quando um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo. São réus Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate; Mauro Londero Hoffmann, também sócio; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Bonilha Leão, produtor musical.

A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria, conhecido polo universitário gaúcho, e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores.

A maior parte acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas, que obrigam a instalação de estruturas produzidas com materiais antichamas.

Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.

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