Presidente do STM diz que áudios sobre tortura "não estragaram a Páscoa"

Luis Carlos Gomes Mattos fez o comentário na primeira sessão da Corte militar após a divulgação das gravações que comprovam tortura na ditadura militar

Narley Resende

O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Luis Carlos Gomes Mattos, disse nesta terça-feira (19) que a divulgação dos áudios que comprovam tortura durante a ditadura militar (1964-1985) “não estragou a Páscoa de ninguém”. “A minha não estragou”, disse. 

O comentário foi feito durante a primeira sessão da Corte militar após a divulgação dos áudios. Gomes Mattos chamou as gravações de “tendenciosas” e disse que a Justiça não tem “resposta nenhuma para dar”.

“A gente já sabe os motivos do porquê que isso vem acontecendo agora, nesses últimos dias, seguidamente, por várias direções, querendo atingir Forças Armadas, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica. E, sem dúvida, nós somos quem cuida da disciplina, da hierarquia, que são os nossos pilares das nossas Forças Armadas. Nós não temos resposta nenhuma para dar. Simplesmente ignoramos uma notícia tendenciosa daquela que nós sabemos o motivo, né?”, disse.

Durante a sessão desta terça, o presidente do tribunal ainda afirmou que esse “vira e mexe” incomoda e que “só varrem” o passado de “um lado”. “Não varrem o outro [lado]. É sempre assim. Nós estamos acostumados com isso. Então, deixa para lá”, concluiu. 

"Apurar o quê?"

Nessa segunda-feira (18), ao ser questionado por jornalistas sobre o caso, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, ironizou: "Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. [risos]. Vai trazer os caras do túmulo de volta?". 

Os áudios divulgados envolvem gravações de sessões do STM realizadas entre 1975 e 1985. As 10 mil horas de gravações foram obtidas após decisão do Supremo Tribunal Federal em 2015 e comprovam que os integrantes da Corte tinham conhecimento da violação de direitos cometidos pela ditadura. 

O material foi entregue pelo historiador Carlos Fico à jornalista Miriam Leitão, após ela ser alvo de ataques do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Miriam foi uma das pessoas torturadas na ditadura enquanto estava grávida.

Na época da gravação dos áudios, o STM se dividia entre ministros que acreditavam na necessidade de apurar as denúncias de tortura, outros duvidavam da palavra dos denunciantes.

Entre as violências há a tortura de mulheres grávidas, violentadas com choques nos órgãos genitais, agressões contra mulheres, uso de martelos para obter confissões e um entendimento de que as polícias eram violentas com os detidos.

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