O presidente destituído da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, foi preso e interrogado nesta quarta-feira (15) em Seul, após horas de negociação entre sua equipe de segurança e a polícia. Ele responde a acusações de insurreição relacionadas a sua polêmica decisão de decretar lei marcial no país, em 3 de dezembro de 2024.
A agência anticorrupção do país asiático confirmou que Yoon havia sido detido horas depois que centenas de investigadores e policiais chegaram ao complexo presidencial para prendê-lo.
Imagens mostram investigadores escalando muros e cortando cercas de arame farpado para deter o presidente deposto.
Yoon, ex-promotor que liderou o conservador Partido do Poder Popular à vitória eleitoral em 2022, disse que estava apenas cooperando com o que chamou de investigação ilegal para evitar novos atos de violência.
"Quando os vi invadirem a área de segurança usando equipamentos de combate a incêndio, decidi responder à investigação do CIO, apesar de ser uma investigação ilegal, para evitar derramamento de sangue", afirmou Yoon em comunicado.
O Escritório de Investigação de Corrupção de Funcionários de Alto Escalão (CIO) é um dos órgãos, juntamente com a polícia e outras agências estatais, que está investigando o presidente sul-coreano por causa de sua polêmica declaração de lei marcial em dezembro, e enviou agentes para a residência de Yoon mais cedo para uma segunda tentativa de prisão – a primeira aconteceu no início deste mês.
Primeiro presidente em exercício preso
A Coreia do Sul entrou em sua pior crise política em décadas após Yoon ter enviado soldados para invadir o Parlamento na tentativa de impedir que os legisladores votassem para derrubar a declaração de lei marcial.
A prisão desta quarta-feira faz de Yoon o primeiro presidente em exercício na história da Coreia do Sul a ser preso. Ele pode ser condenado à prisão perpétua ou até mesmo pena de morte se for considerado culpado de insurreição.
Ele foi destituído do cargo pela Assembleia Nacional em 14 de dezembro, mas seu afastamento definitivo depende de uma decisão da corte constitucional sobre o processo de impeachment.
Desde que os legisladores votaram para destituí-lo do poder após sua declaração lei marcial em, Yoon se entrincheirou em sua residência, guardado por um pequeno Exército da segurança presidencial que impediu uma tentativa anterior de prisão.
Ele finalmente aceitou ser levado para interrogatório depois de mais de 3 mil policiais chegarem até sua residência nas primeiras horas desta quarta-feira.
Um promotor acompanhou Yoon num automóvel que partiu de sua casa, numa área nobre conhecida como a Beverly Hills de Seul, até os escritórios do CIO, onde ele entrou por uma porta dos fundos, evitando a imprensa.
As autoridades têm 48 horas para interrogar Yoon. Esse é o prazo máximo da custódia policial. Após esse prazo, elas terão de emitir um mandado para detê-lo por até 20 dias ou libertá-lo.
Yoon se mantém em silêncio
Um funcionário do CIO relatou a jornalistas que Yoon se recusa a falar e não concordou em ter seu depoimento aos investigadores gravado em vídeo. Yoon está "exercendo seu direito de permanecer em silêncio", disse um responsável do CIO.
Os advogados de Yoon disseram que o mandado de prisão é ilegal por ter sido emitido por um tribunal na jurisdição errada e a equipe criada para investigá-lo não tinha mandato legal para fazê-lo.
Guardas presidenciais estavam posicionados no andar do CIO onde Yoon está sendo interrogado, mas, segundo informações de funcionários, ele provavelmente ficará detido no Centro de Detenção de Seul, onde já estiveram detidas outras personalidades de alto escalão, como a ex-presidente Park Geun-hye e o presidente da Samsung, Jay Y. Lee.
Uma multidão de apoiadores de Yoon se reuniu do lado de fora dos escritórios do CIO, agitando bandeiras sul-coreanas e americanas e segurando cartazes que denunciavam uma suposta fraude eleitoral – um dos argumentos apresentados por Yoon para justificar a declaração de Lei Marcial, embora não houvesse evidências.
O que está em jogo
Em 3 de dezembro, Yoon declarou uma lei marcial que restringia liberdades políticas e concedia poder aos militares, suspensa por ele seis horas depois após a Assembleia Nacional aprovar uma resolução exigindo o fim da medida.
Yoon decretou a lei marcial em um discurso televisionado sem aviso prévio, dizendo que o objetivo era eliminar "elementos antiestatais", mas os legisladores correram para a Assembleia Nacional para votar contra a lei. Ao mesmo tempo, tropas fortemente armadas invadiram o prédio, escalando cercas, quebrando janelas e aterrissando de helicóptero.
Yoon afirma que sua iniciativa foi um ato legítimo de governança e um aviso ao Partido Democrático, principal força da oposição que vinha usando sua maioria legislativa para travar o Orçamento e derrubar medidas de sua gestão.
Ele enfrenta acusações criminais de insurreição, que podem resultar até em prisão perpétua ou pena de morte. O mandado de prisão foi emitido após ele não se apresentar pela terceira vez para ser interrogado.
Os advogados de Yoon contestaram os mandados de detenção e busca, baseando-se numa lei que protege locais que possam ter segredos militares contra buscas sem o consentimento da pessoa responsável – nesse caso, Yoon. Eles também argumentam que os oficiais anticorrupção não teriam autoridade para investigar as acusações contra Yoon.
Em 3 de janeiro, os serviços de segurança presidencial, responsáveis pela proteção do chefe de Estado, bloquearam uma primeira tentativa do COI de executar o mandado de detenção.
rc/as (Reuters, AP, DPA, Lusa, Efe)