A Prefeitura de São Paulo informou, por meio de nota, que afastou sete servidores da Guarda Civil Municipal após reportagem do Jornal da Band mostrar casos de corrupção na corporação, com cobrança de taxa de proteção na região da Cracolândia.
Entenda
Áudios obtidos pela reportagem trazem mensagem do guarda-civil Elisson Assis endereçada a um comerciante: “Nós somos uma família. Se alguém mexer comigo, no mínimo 18 viaturas ‘cola’. Nós somos a Rota da GCM, irmão”, diz o agente público. “Eu quero te mostrar a diferença entre ter segurança e não ter" (veja no vídeo acima).
“Eu tô pra ajudar, não tô pra extorquir ninguém. Tem cara que cobra R$ 5 mil, R$ 4 mil, irmão, por loja. Eu prefiro ter um contratante amigo.”
Ouvido pela Band, um comerciante que tem medo de se identificar diz: “Eu preciso trabalhar, eu preciso ter minha porta aberta. O medo é muito grande”.
O centro da maior cidade do país é uma região de contrastes. De um lado, os prédios históricos, o turismo, o comércio popular e as ruas famosas. Do outro, a decadência provocada pelo uso de drogas: a Cracolândia.
Com o tráfico e o consumo de crack, vem o crime. Roubos e saques são frequentes.
Pelo Centro de São Paulo ser uma região histórica, o combate ao crime na região também é tarefa da Guarda Civil Metropolitana, que tem a responsabilidade de zelar pelo patrimônio público da cidade. À frente dessa força de segurança está a Inspetoria de Operações Especiais (Iope), a “tropa de elite” da GCM.
“Guerreiro, eu sou GCM. Procura aí IOPE, Inspetoria de Operações Especiais. Eu tô na GCM há 23 anos”, diz o guarda-civil.
Mas integrantes dessa tropa, que deveriam cuidar da segurança de quem trabalha, mora ou passa por ali, tomaram o caminho contrário desse dever.
Comportamento de milícia
José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, explica: “É um comportamento muito parecido com as milícias que nós temos no Rio de Janeiro", explica o especialista. "Eles atuam comercializando a segurança pras pessoas. como faz a máfia nos Estados Unidos, oferecendo proteção para pessoas, moradores, mas principalmente para comerciantes”.
O guarda-civil metropolitano Elisson de Assis faz parte da Iope, a tropa de elite da GCM, e está na corporação há mais de 20 anos. Só que, quando ele está de folga, gerencia um esquema de cobrança de segurança de comerciantes no Centro de São Paulo.
“Eu comecei a trabalhar lá em julho. Tô até hoje. Eu fui a única empresa que conseguiu resolver o problema”, diz o guarda-civil.
Usando o poder do Estado em benefício próprio, ele obriga lojistas a pagarem taxas para impedir que os estabelecimentos sejam atacados. Quem se recusa a pagar é vítima de vandalismo e intimidação.
“Ou paga ou arca com as consequências, ou tem gente na sua porta, entendeu?”, explica um comerciante.
Prédios e condomínios têm que pagar até R$ 3 mil mensais. As lojas pagam entre R$ 200 e R$ 500 por mês, divididos em pagamentos semanais. Para pressionar, é circulada uma "lista de colaboradores de boa fé" com quem pagou ou não.
“Eu me senti meio coagido e também, assim, meio invadido, né? Exposto de uma forma negativa mediante a todos que estavam pagando ali”, diz o lojista.
No áudio, Assis é bem claro sobre o procedimento de segurança.
“No que depender de mim, se você pegar os relatos lá, e perguntar do nosso sistema de trabalho, eles vão falar. Se estourar alguma coisa, GCM tá na porta? Sim, aconteceu alguma coisa, são os primeiros a estarem ali”, diz o guarda-civil.