A população de vertebrados diminuiu 73% nos últimos 50 anos, indica um relatório divulgado nesta quinta-feira (10/10) pela organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Em algumas áreas de alta biodiversidade, como em regiões da América Latina e Caribe, essa queda foi de quase 95%.
"O quadro que estamos pintando é incrivelmente preocupante", afirmou a diretora-executiva do WWF, Kirsten Schuijt. No entanto, ela observou que um ponto sem volta ainda não foi ultrapassado e pediu um "enorme esforço coletivo" nos próximos cinco anos para o enfrentamento das crises climática e da natureza.
O relatório monitorou cerca de 35 mil populações selvagens de 5.495 espécies de anfíbios, aves, peixes, mamíferos e répteis entre 1970 e 2020. O estudo mostra que as populações de espécies de água doce sofreram os maiores declínios, com uma redução de 85%, seguidas das espécies terrestres (69%) e marinhas (56%).
Entre os exemplos de espécies afetadas estão a tartaruga-de-pente – que somente na Ilha Milman, na Grande Barreira de Corais australiana, perdeu 57% das fêmeas que nidificavam entre 1990 e 2018 –, e o boto tucuxi – cuja população diminui 75% entre 1994 e 2016 na reserva Mamirauá, localizada a cerca de 600 quilômetros a oeste de Manaus.
O relatório indica também que as principais ameaças à vida selvagem são a degradação e a perda de habitat, especialmente devido ao sistema alimentar, seguidas pela superexploração, espécies invasoras e doenças, e, por fim, mudanças climáticas e poluição.
Proteção da Amazônia é crucial
O relatório mostra uma perspectiva sombria com "um sistema em perigo" à medida em que o mundo se aproxima de "de pontos de inflexão perigosos e irreversíveis", impulsionados pela perda da natureza e mudanças climáticas. O texto destaca o declínio da Floresta Amazônia e a morte massiva de corais, cujos desaparecimentos "teriam consequências muito além de sua volta e afetariam a segurança alimentar e os recursos que sustentam as pessoas".
"Não é apenas sobre vida selvagem, mas sim sobre ecossistemas essenciais que sustentam a vida humana", destaca o diretor de conservação do WWF, Daudi Sumba. "As mudanças podem ser irreversíveis com consequências devastadoras para a humanidade".
Sumba lembrou ainda que o desmatamento da Amazônia pode transformar o ecossistema em uma fonte de carbono. O relatório cita ainda os incêndios que atingiram o bioma em agosto e alerta que a floresta está perto de seu ponto de inflexão, que pode transformá-la numa savana.
Boas notícias
Apesar da situação global, o relatório apresenta algumas boas notícias, como a estabilização ou aumento de algumas espécies graças aos esforços de conservação. Entre os exemplos citados estão o retorno de populações de bisões europeus na Europa Central e o aumento de 3% no número de gorilas-das-montanhas nas Montanhas Virunga na África Central.
O WWF lembra que foram estabelecidos objetivos globais para "um futuro próspero e sustentável", como travar e reverter a perda de biodiversidade, limitar o aquecimento global a 1,5ºC, erradicar a pobreza e garantir o bem-estar humano. E lembra também que os compromissos atuais estão muito aquém do necessário para atingir essas metas em 2030.
Atualmente, salienta o WWF, mais de metade das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030 não serão atingidas, com 30% delas estagnadas ou piores em relação à linha de base de 2015.
cn (DW, EFE, Lusa)