A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito e Etiópia para a cúpula da União Africana demonstrou quão atrasada está a política brasileira para o exterior. Sobretudo num continente disputado geopoliticamente como a África: não só a China e a Rússia, mas também a União Europeia e os Estados Unidos, competem lá por matérias-primas e alianças políticas.
Desde o fim do segundo mandato de Lula, em 2010, novas potências regionais passaram a ter influência importante na região – como a Turquia, Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Elas põem em questão o papel do presidente do Brasil como autonomeado líder do Sul Global. Seu governo declarou 2024 ano da África para a política brasileira, Lula quer contar com o respaldo dos governos regionais. Porém o mundo se transformou em velocidade meteórica – e ele não parece ter notado.
De 2003 a 2010, Lula lançou uma ofensiva de charme e investimentos na África, com o Itamaraty inaugurando 18 das atuais 33 embaixadas no continente. Multinacionais brasileiras investem sobretudo nas antigas colônias portuguesas, como Angola e Moçambique, com o apoio de generosos créditos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Num giro pela África com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, o presidente enfatizou acima de tudo o passado colonial comum.
Influência brasileira na África encolhe sem parar
Em retrospectiva, porém, pode-se classificar como fracassada a política do petista para a África. Isso se deve, por um lado, à Operação Lava Jato, em que ficou constatado que os projetos de construtoras brasileiras no continente estavam marcados por corrupção em massa. Passando pelas construtoras, os "créditos" do BNDES foram acabar principalmente nos bolsos de políticos brasileiros.
Nas presidências de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro, a África foi relegada ao banco de reserva da política externa nacional. Até hoje as representações brasileiras sofrem falta de recursos, de pessoal e de interesse: 40% dos postos de trabalho nas diversas embaixadas e consulados estão vagos. Para comparar: na França e na Suíça há mais diplomatas brasileiros atuantes do que em todos os 54 Estados da África.
A consequência é que o Brasil mal não é reconhecido pelos africanos como potência regional – coisa que Lula dificilmente mudará com uma estratégia inexistente para aquela região. Pois, apesar de aplaudirem educadamente o corte de dívidas que ele reivindicou agora na conferência da União Africana, quase nenhum dos países-membros está realmente interessado.
Hoje, os governos africanos são cortejados intensamente e estão acostumados a ofertas milionárias de investimentos. A partir do Oriente Médio, os pequenos Emirados Árabes Unidos, tendo Dubai como influente metrópole mundial de 9 milhões de habitantes, investe em portos e estradas por toda a África, estando hoje em quarto lugar entre os investidores estrangeiros no continente.
O Brasil tem apresentado sucessos como mediador – como, por exemplo, nas negociações de cessar-fogo entre Etiópia e Eritreia em 2018. Em relação ao Sudão, porém, toma partido unilateralmente, acirrando ainda mais os conflitos. E, apesar de ser um importante aliado dos Estados Unidos na América do Sul, manteve-se neutro nas resoluções relativas à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Resumindo: se Lula pretende se apresentar como um dos líderes do Sul Global, deve elaborar logo uma estratégia nova e atual para a África. Senão, a influência brasileira no continente vai minguar ainda mais.
Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.
Autor: Alexander Busch