O recuo de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil divulgado na última quarta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) acendeu um alerta para uma das maiores crises do governo do presidente Jair Bolsonaro: a crise econômica.
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O índice, aliado à inflação, ao desemprego e à instabilidade política, faz com que a recuperação projetada para o pós-pandemia perca fôlego – e as previsões para o futuro não sejam tão animadoras assim.
PIB
A queda no PIB, comparada com os três meses anteriores, foi puxada pela agropecuária (-2,8%) e pela indústria (-0,2%). No primeiro caso, reflexo da seca e da crise hídrica e energética. No segundo, consequência da falta de insumos decorrente da recessão mundial causada pela pandemia do coronavírus.
“A agropecuária começa a sentir os primeiros reflexos da seca (...). Já a indústria tem reflexos principalmente de falta de componentes. O mundo ainda está desestruturado, a cadeia de fornecimento afeta a indústria automotiva, por exemplo. Temos montadoras paradas esperando a chegada de peças por aqui”, explica Juliana Rosa, comentarista do Mercado BandNews.
Segundo a especialista, outro dado preocupante da divulgação do IBGE é o consumo das famílias com variação zero, impactado pela inflação e pelo desemprego.
“O número tem peso grande no PIB e ficou parado. Isso significa que os brasileiros estão com dificuldade de aumentar o consumo, justamente porque tem uma pressão grande da inflação. O aumento de preços preocupa, poderíamos estar crescendo de forma mais vigorosa se não houvesse tanto aumento”, diz Rosa.
Inflação e poder de compra
A inflação no acumulado em 12 meses já atingiu 9%, valor acima do teto projetado pelo governo para a inflação deste ano (5,25%). E os maiores “vilões” do momento não são surpresa para ninguém: combustíveis, energia elétrica e alimentos.
Após nove reajustes desde o início do ano, o preço da gasolina supera R$ 7 em diversas cidades brasileiras. Em menos de oito meses, o valor do litro subiu quase R$ 1.
Embora o preço que chega ao consumidor dependa da política das distribuidoras, quando aumenta nas refinarias, sobe também nas bombas.
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Em relação à conta de luz, os valores, que já pesavam no bolso dos consumidores, deverão impactar ainda mais com o novo aumento anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para combater os efeitos da crise hídrica que afeta os reservatórios das usinas hidrelétricas, a agência criou a "bandeira tarifária escassez hídrica", que deve representar alta de 7% nas contas.
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Esse período de seca, aliado a geadas anteriores, inflação e desvalorização do câmbio, contribui também para a disparada do preço dos alimentos. De acordo com o IBGE, no acumulado em 12 meses, o arroz teve alta de 39,69%; o feijão preto, de 19,13%; as carnes vermelhas, de 34,38%; e o óleo de soja, de 84,31%.
Se por um lado os preços disparam, por outro, a demanda cai devido à diminuição do poder de compra do brasileiro. Neste segundo semestre, o desemprego ficou em 14,1%, atingindo 14,4 milhões de pessoas. No início do ano, contrariando as expectativas, o governo ainda reduziu as parcelas do auxílio emergencial de R$ 300 a R$ 600 para R$ 150 a R$ 375.
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Crise política
Os economistas são unânimes ao afirmar que economia e política nunca andam separadas. Atualmente, o clima de conflito crescente entre o governo Bolsonaro e as instituições, assim como as ameaças feitas pelo presidente às eleições de 2022, aumentam a percepção de risco dos investidores, freando a entrada de novos investimentos no país e impedindo que o dólar caia.
“O governo divulgou um Orçamento com ‘tudo combinado e nada resolvido’. Não definiu como vai pagar os precatórios, como vai pagar o Bolsa Família. Tudo está em negociação, há muitas dúvidas. Isso, com o clima ruim entre os Poderes do 7 de setembro, deixa os investidores com um pé atrás. Preocupa tanto em decisões de investimentos quanto em pressões inflacionárias, porque o dólar é termômetro de risco”, conclui Rosa.