A morte de um homem após fazer um peeling de fenol na clínica de estética Natália Becker causou dúvidas sobre a segurança do procedimento. O caso ocorreu na tarde de segunda-feira (3) e, segundo a polícia, ele teria passado mal logo após o fenol ter sido aplicado e morreu no local.
O tratamento, que atinge as camadas mais profundas da pele, é usado para tratar rugas, cicatrizes, acne e danos severos causados pelo sol. Apesar de ser um procedimento estético, dermatologistas recomendam uma avaliação de saúde prévia por haver risco de complicações cardíacas e hepáticas, podendo causar até morte.
Segundo a dermatologista Iwyna França, o protocolo correto para um médico fazer um peeling de fenol é pedir exames ao paciente. “É preciso ver como está a função renal, a função hepática, ver se ele tem algum problema cardíaco, para depois a gente definir se o paciente pode fazer o peeling de fenol”, pontua.
A dermatologista afirma que o procedimento não é indicado para quem tem tendências a formar cicatrizes ou quelóides, ou pele negra, já que há mais melanina e pode ocasionar a hiperpigmentação, ou seja, surgimento de manchas no rosto. “O ideal é que sejam pessoas de pele clara e pessoas que não tenham, que não podem estar grávidas de jeito nenhum, e pessoas que estejam com a saúde em dia”, pontua.
Iwyna pontua que atualmente muitos consultórios fazem um tipo de ‘peeling de fenol light’, mas o original deve ser feito em centros cirúrgicos, devido à dor que pode causar.
Peeling de fenol pode causar risco à vida
Caso não haja avaliação adequada do paciente e o procedimento seja feito sem preparo, há riscos de vida a quem faz o peeling de fenol. Segundo a dermatologista Franceane Resende, os principais riscos são de complicações cardíacas que podem surgir da absorção do fenol pelo corpo.
“Há riscos inerentes ao procedimento, como risco cardíaco pelo fato do fenol poder ser absorvido pelo sistema cardiovascular e potencialmente causar arritmias ou outros problemas cardíacos e riscos de toxicidade sistêmica, principalmente renal e hepática", indica.
No pós-procedimento, a dermatologista avalia que há riscos de infecção, risco de cicatrização anormal, manchas, cicatrizes e quelóides.
Iwyna França indica que há também uma chance do paciente sofrer anafilaxia, uma reação alérgica a algum componente usado no procedimento, ou até ao fenol. “É algo comum e pode causar morte caso não haja socorro a tempo”, pontua.
Qual o procedimento caso alguém passe mal após um peeling de fenol?
Segundo as dermatologistas, há um protocolo a ser respeitado para o paciente sobreviver em caso de problemas após passar pelo peeling de fenol. O principal deles é levá-lo a um pronto-atendimento de emergência.
Franceane Resende indica que o profissional responsável necessita administrar oxigênio em caso de dificuldades respiratórias, ter medicamentos de emergência para tratar possíveis arritmias cardíacas, transporte ao hospital em caso de necessidade e até hidratação intravenosa, para ajudar a reduzir a toxicidade do fenol.
“Devido aos riscos significativos associados ao peeling de fenol, é crucial que o procedimento seja realizado apenas por profissionais altamente qualificados e em ambientes adequados para responder a emergências médicas”, pontua Franceane.
Paciente pode ir à Justiça em caso de problemas com procedimento
Em caso de problemas ou complicações após um peeling de fenol, o paciente pode ir à Justiça atrás de compensação. Segundo o advogado Antônio Carlos Morad, especialista em direito médico, o paciente tem todos os direitos possíveis.
"Os procedimentos estéticos devem ser garantidos, sem erros. Os danos causados por médicos não especialistas ou pessoas não credenciadas são julgados com mais rigor, posto que esses "despreparados" estariam incorrendo em crime de responsabilidade civil e criminal", indica.
Se a complicação resultar em morte, o advogado indica que a família deve aguardar a apuração na esfera criminal. “Caso venha a ser apurado o crime e julgado como culpado, aqueles que sofreram com a morte da vítima podem ingressar com ação de indenização com base na decisão da justiça criminal”, pontua.