O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira (20) na CPI da Pandemia que o aplicativo TrateCov, desenvolvido pelo governo federal para tentar agilizar diagnóticos de covid-19, foi hackeado e tornado público, além de se tratar de um protótipo.
“Naquele dia que foi apresentado o roubo dessa plataforma, foi feito um B.O. [boletim de ocorrência]. Ele foi hackeado, puxado por um cidadão. Ele foi descoberto. Ele pegou esse diagnóstico, alterou com dados lá dentro e colocou na rede pública. Quem colocou foi ele, tem todo o boletim de ocorrência”, justificou o ex-ministro, dizendo que no dia em que foi descoberta a fraude, mandou “tirar do ar imediatamente”.
Na primeira parte do depoimento de Pazuello à comissão, na última quarta (19), ele explicou que ideia do aplicativo foi desenvolvida pela secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde Mayra Pinheiro - que teve seu depoimento na comissão do Senado reagendado para 25 de maio. Ela é conhecida como “Capitã Cloroquina” nas redes, por defender o uso do "Kit Covid", uma série de remédios que não tem eficácia científica comprovada contra o coronavírus e ainda oferecem riscos.
Pazuello havia dito que programa era um “protótipo”, mas o Ministério da Saúde fez seu lançamento e divulgou o programa em favor da orientação precoce. Reportagem da TV Brasil, canal estatal, de 19 de janeiro, mostrou o lançamento oficial do TrateCov em Manaus, fato lembrado pelo presidente da comissão Omar Aziz (PSD-AM).
“Esse programa que o ministro Pazuello fala que foi hackeado, ele foi hackeado e colocado na TV Brasil pra vocês terem uma ideia. Na TV Brasil, hein? O hacker é tão bom que ele conseguiu colocar o programa, uma matéria extensa na TV Brasil”, ironizou. Veja o vídeo no canal da TV Brasil abaixo:
“Era muito interessante que tivéssemos um diagnóstico mais rápido. Não havia essa ferramenta disponível. A gente queria levar uma coisa mais rápida para lá”, disse Pazuello nesta quinta.
O TrateCov foi retirado do ar em 21 de janeiro, após pedido do Conselho Federal de Medicina apontando inconsistências no programa que induziam à “automedicação e interferência na autonomia dos médicos.
Crise em Manaus
Questionado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre o fechamento do hospital de campanha Nilton Lins, Pazuello disse que a decisão foi responsabilidade do governador do Amazonas, Wilson Lima. A unidade foi aberta em abril de 2020 e fechada em 16 de julho pela queda de casos na capital amazonense.
O general ainda disse que a decisão de não intervir no sistema de saúde pública do Amazonas foi tomada em conjunto por ministros e o governador.
"Essa decisão não era minha. Foi levada ao conselho de ministros, o governador se apresentou, se justificou. Desculpa, quero retirar o termo, não é conselho de ministros, é reunião de ministros, com o presidente. O governador [do Amazonas] se explicou e foi decidido pela não intervenção". Braga rebateu dizendo que o pedido feito visava salvar vidas.
Ele também atribuiu a falta de oxigênio no estado à fornecedora White Martins e à secretaria de saúde do estado, isentando o governo federal. Documentos do Ministério Público de Contas indicam que 31 pessoas morreram pela falta do gás médico no ápice da crise, entre os dias 14 e 15 de janeiro deste ano.