Para Celso Amorim, Bolsonaro governa jogando com "ameaça de golpe"

Ex-chanceler do Itamaraty e ex-ministro da Defesa analisou mudanças no alto escalão do governo no "Ponto a Ponto"

Da Redação, com BandNews TV

Celso Amorim, ex-chanceler e ex-ministro da Defesa
Reprodução TV

Celso Amorim, que foi chanceler do Itamaraty com Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva e ministro da Defesa de Dilma Rousseff, analisou o cenário do governo Bolsonaro após as mudanças em postos do alto escalão, principalmente a troca do ministro das Relações Exteriores e no comando das Forças Armadas nesta semana. O diplomata vê o presidente se valendo da carta da “ameaça de golpe” para ampliar influência e ganhar fôlego em meio à queda de popularidade.

“Não sei se é certo se ele vai dar um golpe, mas ele sempre vai jogar com essa ameaça, e com isso, amedrontar talvez alguns outros setores. Ou vai tentar, pelo menos”, opinou o ex-chanceler durante o programa Ponto a Ponto, da BandNews TV, em entrevista para a jornalista Mônica Bergamo e o cientista político Antônio Lavareda na noite desta quarta-feira (31). Veja a íntegra abaixo.

 

Ele não acredita que os militares apoiariam uma ação mais radical, mas que Bolsonaro poderia criar um cenário mais caótico para isso, citando exemplos da invasão de republicanos ao Capitólio, no final da era Trump nos Estados Unidos, e o golpe que culminou na queda de Evo Morales do poder na Bolívia, após a polêmica eleição presidencial de 2019.

Apesar das atitudes, Amorim pontua cenários muito diferentes para uma ação de golpe no Brasil de 2021, lembrando que faltaria apoio de grande parte da opinião pública e de setores da economia. Como exemplo, citou o manifesto publicado recentemente por vários banqueiros, empresários e figuras políticas - uma carta com críticas e sugestões ao governo em meio ao agravamento da pandemia de covid-19 no País. 

“Ele vai agindo por todos os lados para ver o que é que cola. Aparentemente, nessas conversas recentes com os [antigos] comandantes não colou e ficou descontente e, por isso, substituiu. Eu não sei se isso já é um golpe pleno, mas é um caminho do golpe”, analisou.

Celso Amorim vê indícios de ruptura na base do governo de apoio e a baixa popularidade por conta das ações contra o coronavírus como motivadores para as mudanças e o aumento de militares em postos-chave de sua gestão. E ele vê que a forte ligação das Forças Armadas com Bolsonaro pode causar um grande desgaste da imagem dos militares perante boa parte da população.

“Apesar desse comprometimento, que é real e pode afetar a imagem dos militares, o que é ruim para o País, porque nós precisamos das Forças Armadas para a defesa. Havia uma certa distância entre o alto comando e o presidente", disse. 

Relações exteriores e críticas a Ernesto Araújo

Crítico do antigo chanceler Ernesto Araújo, Amorim vê sua saída do ministério como uma grande perda para o governo Bolsonaro, já que ele era um dos mais destacados representantes da chamada “ala ideológica”. Para ele, as “loucuras e alucinações” na política externa só serviam para agradar à base de apoiadores bolsonaristas.

“É uma pessoa totalmente desbaratada. Não tem paralelo na história do Brasil. É uma pessoa obscura, como ele mesmo disse em uma fala na Argentina”, disse.

Sobre o novo chanceler do Itamaraty, Carlos Alberto Franco França, Celso Amorim revela ter ficado surpreso com a nomeação, já que ele se lembrava vagamente do novo ministro quando estava à frente da pasta, no governo de Dilma Rousseff.

Ele analisa que alguns elementos da política externa podem sofrer algumas mudanças por conta da rejeição sofrida por Ernesto Araújo no Congresso, que acabou colocando mais pressão para a troca nas Relações Exteriores.

“Se há uma coisa que a elite econômica brasileira não gosta é brigar com americano”, afirmou. 

Amorim vê o Brasil atual como um “pária internacional”, tanto por ser epicentro da pandemia, quanto pela política externa vigente até então.

Mais notícias

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.