Ricardo* (nome fictício) começou a usar Ozempic para perder peso em 2021, seguindo a orientação de um nutrólogo. No entanto, o custo das consultas e do medicamento — cerca de R$ 1.500 por mês — o fez buscar alternativas. “Arranjei um amigo que trabalhava em uma farmácia e ele mandava por motoboy”, conta.
As canetas mencionadas por Ricardo são o recipiente do medicamento, projetado para injeções subcutâneas (na camada de gordura sob a pele). Apesar de ser obrigatória a apresentação da receita médica, as farmácias não são obrigadas a retê-las. Para alguns especialistas, isso facilita a compra por quem não recebeu recomendação médica.
Ricardo administrou doses pequenas por cinco meses, período em que, além de não se alimentar adequadamente devido ao efeito inibidor de apetite do medicamento, não praticou exercícios físicos. “Estava perdendo muita massa magra e sabia que poderia ter alguma complicação, mas não estava pensando muito na minha saúde”, afirma.
A obsessão por soluções rápidas para emagrecer não é novidade. Desde as dietas restritivas que dominavam as revistas de comportamento feminino nos anos 2000 até tendências mais recentes, como jejuns prolongados disseminados em vídeos virais nas redes sociais.
Dados do Google Trends revelam que a frase “Como emagrecer rápido” é a segunda pesquisa mais frequente no Brasil, utilizando os termos “como” e “rápido”, na série histórica iniciada em 2004. No entanto, as buscas por dieta no Google têm caído ano a ano desde 2018.
Nesse afã, o Ozempic, que surgiu como um remédio para tratar diabetes tipo 2, obesidade e sobrepeso, ganhou popularidade. “É uma ferramenta incrível. Quando foi lançado, era a opção que mais emagrecia e que tinha efeitos colaterais muito bem manejáveis”, conta o médico-nutrólogo Renato Lobo.
A ascensão do interesse dos brasileiros pela semaglutida (vendido sob as marcas ozempic, wegovy ou rybelsus) começou em 2019, segundo o Google Trends, e atingiu o maior patamar histórico este mês. Quando comparados os interesses de busca de 2023 e 2024, o aumento é de quase 40%.
Agora, o interesse começa a se voltar para a tirzepatida — molécula base do medicamento mounjaro, que promete ser mais eficiente que a semaglutida. Os brasileiros começaram a buscar mais informações sobre o fármaco no Google em meados de 2022. O índice de interesse também atingiu o maior pico histórico este mês.
Lobo afirma que a popularização é positiva, mas as pessoas não podem ser autodiagnosticar e autoprescrever. Segundo ele, o ganho de peso pode ter causas diferentes e, para algumas, medicamentos para controle de saciedade não são os mais indicados.
Quase metade da população adulta do Brasil poderá ser obesa em 2024, de acordo com estudo do pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília. O cenário preocupante se traduz em lutas individuais contra a balança. Mas Renato Lobo garante: não tem mágica, nem segredo.
“A perda de peso precisa ser um hábito, um estilo de vida”, explica. O médico ainda diz que o “efeito sanfona”, quando se emagrece e se engorda em um curto espaço de tempo, faz mal para a saúde. A recomendação de Lobo é fazer escolhas saudáveis na maior parte do tempo, dar atenção ao sono, manejar o estresse e ter acompanhamento médico.